domingo, 27 de fevereiro de 2011

Pena de anjo8


CAPÍTULO 8
by Valentinalb

...Pensando bem, pode ser que ainda restasse alguém que poderia me ajudar, mas mesmo que o encontrasse em sua casa, o que não acreditava muito, duvido que ele abrisse a porta para mim...
As portas estavam abertas quando cheguei.
Fiquei de pé, na frente daquele altar e implorei:
- Deus, me ajude!
                                                  
Não podia negar que a energia daquele lugar era inexplicável. Apesar do desespero que me consumia, sentia-me acolhido, mesmo estando sozinho na igreja. Era como se eu já conhecesse a sensação reconfortante de estar naquele lugar.
Fechei meus olhos e comecei a falar com Deus em meus pensamentos.

“Eu não sei como se faz isso, Deus, pois nunca nos falamos antes. Acho que o certo seria começar com uma oração, mas não me lembro de nenhuma agora. Sei que não tenho direito de te pedir nada, uma vez que sempre duvidei de sua existência, e ainda não estou muito certo dela, mas minha mãe disse certa vez que sua bondade e misericórdia são infinitas, então, por favor, ajude-me a tirar essa dor do meu peito. Traga a Bella de volta pra mim! Não deixe que ela se mate, Deus! Se a salvar da morte prometo que faço qualquer sacrifício que me pedir...”

- O bom filho à casa torna!!
Senti a adrenalina jorrando em minha corrente sanguínea. Deus estava falando comigo?!!
Não dava pra saber de onde vinha a voz, ela ecoava por todos os lados. Virei-me estarrecido para trás, temendo não encontrar ninguém. Ainda muito assustado, vi um homem de terno branco, sentado no banco da frente, bem perto de mim.
- Conhece a Terceira Lei de Newton, Edward?
Ele tinha dito meu nome? Que diabo de pergunta era aquela?
- Está falando comigo? – Perguntei, mesmo tendo certeza que sim.
- Só estamos nós dois aqui. Com quem mais seria? – Respondeu irônico.
 - Não faço idéia... Com Deus, talvez. – Era pouco provável que ele O chamasse de Edward.
- É, faz sentido.
- Como sabe meu nome? Não me lembro de conhecê-lo – falei, aproximando-me do banco.
- Têm muitas coisas das quais não se lembra, Edward. Você não me respondeu a minha pergunta, como quer que eu responda as suas?
“A toda ação corresponde uma reação de mesma intensidade, mesma direção e em sentido contrário.” – falei. – Mas por que está me perguntando isso? O que eu não me lembro?  O que disse antes, sobre retornar? – Estava muito intrigado com o homem que me olhava intensamente e me fazia perguntas estranhas.
- Eu não devia estar aqui, Edward, é contra o regulamento, mas Ele se compadeceu com seu sofrimento e me autorizou dar-lhe algumas explicações. – Riu baixo e continuou. - Você sempre foi o preferido Dele.
- Me desculpe, mas não estou entendendo nada do que está falando. Se não se importa, gostaria de voltar a me concentrar no que eu estava fazendo. – Já estava começando a ficar irritado com o desconhecido. Loucura tinha limite e minha paciência também.
- Não quer saber por que Isabella aparece sempre na sua vida?  - Perguntou, imprimindo um certo sarcasmo na voz.
Meus joelhos curvaram-se sem forças, quase me fazendo cair. Ele estava falando de Bella?
- O que...que sa..sabe sobre Bella? – Quão mais estranho aquilo podia ficar?
- Sei muito... Sei que a ama perdidamente e que abriu mão de sua condição de anjo para viver o amor mais lindo que esse mundo já viu, ao lado dela. Acredita no que estou falando? – Ele tinha uma expressão impassível, difícil de decifrar.
- O... O que está falando? Que loucura é essa? – Quem era esse homem e que história mais maluca era essa?
- Vem comigo, Edward. – Me chamou, numa postura imperativa.
Ele segurou em minha mão e senti como se um sono muito forte me dominasse, fazendo minhas pálpebras se fecharem.
- Abra os olhos, Edward. – Ele mandou.
Assim que meus olhos se abriram vi que estávamos em um lugar que parecia uma campina. Flores lilases formavam um tapete natural e as árvores ao redor pareciam de um verde que eu nunca tinha visto antes.
- O QUE É ISTO? ONDE EU ESTOU? – Se aquilo era um sonho ou um pesadelo eu ainda iria descobrir, mas que não era real eu já tinha certeza.
- Desculpe-me o exibicionismo, mas os efeitos especiais me dão credibilidade. Gostou da paisagem?
- Você me deu algum alucinógeno pra beber? Isso é um barato de alguma droga sintética nova? – Era a única explicação que me ocorria.
- Um único ciclo como humano e já perdeu toda sua capacidade de acreditar no impossível, Edward? – Assim que terminou de falar, duas asas enormes se abriram em suas costas, fazendo-me dar um pulo para trás de susto.
Fiquei completamente mudo, não conseguia pronunciar uma palavra que fosse.
- Sou um anjo, Edward, assim como você foi. Sente-se que vou te relembrar tudo o que aconteceu.
Nada fazia sentido em minha cabeça, mas resolvi me entregar àquela alucinação e saber onde aquilo iria parar.
Sentei-me na grama, entre as flores e observei o homem ao meu lado recolher suas asas e sentar-se ao meu lado, na maior naturalidade do mundo.
Peço que não me interrompa. Tudo o que precisa agora e me ouvir atentamente.
E então começou...
"Há muito tempo atrás você era um Anjo da Guarda, Edward, e eu era seu mentor. Você era experiente em sua função e já tinha acompanhado vários filhos Dele em seus diversos ciclos, até elevarem-se. Isabella seria apenas mais uma protegida.  Pelo menos era para ter sido assim, mas logo em seu primeiro ciclo,  uma vida atrás desta, você começou a vê-la de forma diferente. Ela tinha se tornado uma moça linda e seu coração começou a amá-la de uma forma que não compreendia... De um jeito que era para estar adormecido em você. Então um dia você me procurou, pedindo-me orientação e explicação para aquele amor visceral que sentia por ela. Eu te aconselhei a esquecer tudo, pois não havia a menor possibilidade de vocês se aproximarem, quanto mais se amarem, afinal você era um anjo e Isabella sequer o via.
Acreditamos, eu e Ele, que estava tudo resolvido, até que soubemos que você se personificara e se apresentara para Isabella na forma humana. O livre arbítrio também é aplicado aos anjos, e nada pode ser feito com relação a sua insubordinação, a não ser deixar que arcasse com as conseqüências de seu ato impulsivo
Não demorou muito e Isabella também se apaixonou perdidamente por você, desconhecendo completamente a sua verdadeira identidade.  A necessidade de aproximação física, ou sexo, se assim você entender melhor, tomou conta do seu corpo, mas não tinha a capacidade de consumá-la. Como anjo, mesmo personificado, era impossível a você satisfazer uma mulher. Então mais uma vez me procurou. Queria autorização para se tornar um humano completo, para poder viver toda a plenitude do amor que sentia por Isabella. Te expliquei sobre a questão da ação e reação, a nossa lei maior, e você aceitou nossas condições...
Lembro-me bem da nossa conversa.

- Você não tem direito ao amor físico, sequer deveria necessitar dele.
- Mas eu a amo perdidamente. Quero tê-la para mim.
- Precisará abrir mão da sua condição para poder experimentar este tipo de amor.
- Eu abro.
- Sabe que terá conseqüências. Está mudando o curso da vida dela.
- Eu sei...
- Não se importa?
- Pagarei qualquer preço para tê-la comigo por toda essa vida. Preocuparei com as  conseqüências quando for a hora...

Bem, Edward, você não se importou em saber quais eram as conseqüências e quem pagaria por elas, desde que pudesse viver aquela vida ao lado da moça que você amava perdidamente.
E assim, deposto da sua condição de anjo, vocês viveram o mais bonito amor que esse mundo já viu. Foram felizes por muitos anos, tiveram filhos, netos e bisnetos, até fazerem a passagem para esta vida, ou ciclo, como chamamos.
Isso é tudo o que eu posso te contar agora, Edward. Sua fé ainda é pequena demais para ter a permissão de saber o resto. Quando sua crença for maior que suas dúvidas, nos encontraremos novamente e você terá respondidas todas as suas perguntas.
Edward, meu amigo, você abriu mão da condição de anjo, mas nunca perdeu a sua essência de protetor. Mesmo sem saber, seu coração te leva a proteger as pessoas até hoje. Você não é bom porque foi anjo; você se tornou anjo porque era uma alma boa, e isso sempre o acompanhará. Apenas precisa se conscientizar que não tem mais os poderes que tinha antes. Para ajudar Isabella você só poderá contar com uma coisa: O amor incondicional que sente por ela, e suspeito que esse poder seja ainda mais forte do que os que tinha.
E por fim, e mais importante, nunca poderá falar de nada disso com ninguém, Edward, a menos que queira pagar as conseqüências disso também. Nunca... nunca."
Fechei os olhos tentando processar toda aquela loucura. Tinham tantas perguntas que eu queria fazer, mas minha voz estava presa.
Jamais havia me envolvido com drogas e não fazia idéia de onde vinha aquela “viagem”, pois não era possível que isto estivesse acontecendo mesmo.
Quando os abri, estava de volta à igreja, na mesma posição de antes: em pé, voltado de frente para o altar.
Procurei por todos os lados mais o homem de branco não estava mais ali.
Fui cambaleante até o banco e me sentei. Com a cabeça entre as mãos, procurei o pouco de sanidade que pudesse ter me restado depois desse surto psicótico.
“Que história mais louca!! Por mais psicodélica que fosse, e era, ela tinha lá sua coerência... Explicava tantas coisas na minha vida.
Tinha ido à igreja em busca de Deus e de respostas e agora estava ali, com mais perguntas do que nunca, querendo acreditar que Ele não só existia, como eu ainda tinha sido um dos anjos de seu reino.
Eu estava ficando louco... Só podia ser isso. Mas como poderia ter imaginado tudo o que tinha acabado de vivenciar? De onde, partindo de uma mente descrente como era a minha, foi sair uma história sobre anjos?
Saí da igreja em busca de ar. Já não conseguia respirar lá dentro.
Deixei os barulhos da rua invadirem minha cabeça na esperança que espantassem tamanha confusão que ali se encontrava. Precisava esquecer isso e recuperar minha racionalidade. Fora um surto proveniente de uma estafa mental, apenas isso.
Fui andando pro hotel, que não ficava muito longe de onde estava.
Quando já estava quase entrando no saguão, me senti novamente passeando pelo céu... Lá estava ela!
- Edward. – Sua voz doce penetrou meus ouvidos.
Olhei, não acreditando que estava vendo Isabella, linda, parada na calçada, olhando para mim com aquele sorriso encantador nos lábios.
Fiquei imóvel, sentindo as lágrimas correrem por meu rosto. Não conseguia evitá-las.
O meu amor por ela só podia mesmo ser coisa de outra vida. Como seria possível amá-la com tanta intensidade em tão pouco tempo de convivência?
- Você sumiu... – Lamentei, com a voz embargada pelo choro. Eu parecia uma criança.
- Por que está chorando? – Ela se aproximou e colocou a ponta do dedo sobre uma lágrima que escorria de meus olhos.
Naquele instante, inebriado por aquele simples e quase inperceptível toque, descobri que não era eu quem a salvaria da morte, era ela quem tinha minha vida em suas mãos...

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