terça-feira, 22 de março de 2011

Pena de Anjo9 by ValentinaLB

CAPÍTULO 9




...Olhei, não acreditando que estava vendo Isabella, linda, parada na calçada, olhando para mim com aquele sorriso encantador nos lábios.



Fiquei imóvel, sentindo as lágrimas correrem por meu rosto. Não conseguia evitá-las.



O meu amor por ela só podia mesmo ser coisa de outra vida. Como seria possível amá-la com tanta intensidade em tão pouco tempo de convivência?



- Você sumiu... – Lamentei, com a voz embargada pelo choro. Eu parecia uma criança.



- Por que está chorando? – Ela se aproximou e colocou a ponta do dedo sobre uma lágrima que escorria de meus olhos.



Naquele instante, inebriado por aquele simples e quase imperceptível toque, descobri que não era eu quem a salvaria da morte, era ela quem tinha minha vida em suas mãos...











A ponta de seu dedo tocou meu rosto levemente, mas foi o suficiente para uma onda de calor me inundar. Era real, Isabella estava parada bem próxima de mim, olhando-me com cara de espanto, diante das lágrimas que molhavam minha face.



- Pensei que nunca mais a veria, Bella. – Desabafei, colocando para fora a angústia que tinha me acompanhado por tantos dias.



- Claro que iríamos nos ver de novo, eu prometi, lembra? – Ela não fazia a mínima idéia do desespero que tinha se apossado de mim.



- Mas você sumiu... Deixou o telefone e endereço errados. Tive tanto medo de não encontrá-la mais. – Não podia confessar o meu pavor por achar que tinha se matado.



Ela me olhou atentamente, como se tentasse entender o que eu falava.



- Edward, eu sou tão importante assim para você? – Perguntou, com um sorriso tímido nos lábios.



Levei minhas mãos até seus cabelos, mas parei antes que ela se afastasse, deixando-as no ar, perto de sua cabeça. Era difícil controlar minha vontade acariciá-la.



- Você nem imagina o quanto, Bella... – Falei, me perdendo no verde de seus olhos.



Seu olhar fugiu do meu, tentando disfarçar o leve rubor que tomou conta de sua face.



- Podemos conversar? – Ela fitava o chão, mas pude perceber que se tratava de algo importante.



- Claro! Eu moro aqui – falei, apontando para o hotel. - Importa-se de irmos para minha suíte? Ou se preferir podemos ficar no hall.



- A Alice me contou que morava aqui. Acho melhor irmos para sua suíte. Não gostaria que outras pessoas ouvissem o que vou contar para você.



Subi o elevador com o coração acelerado. O episódio na igreja, que eu nem sabia ainda se era real ou uma alucinação, e a presença de Isabella ao meu lado era muita emoção para um mesmo dia. Ainda bem que eu tinha uma saúde de ferro, desconsiderando alguns desmaios eventuais.



Isabella olhou o quarto deslumbrada. Realmente era um belo apartamento.



- Isso aqui é muito bonito, Edward.



- Obrigado, Bella. - Tive vontade de dizer que se ela quisesse poderia passar dias e noites ali comigo.



- Quer beber alguma coisa? – Perguntei, tentando deixá-la mais relaxada.



- Um refrigerante tá bom.



Abri uma coca pra ela e uma pra mim e sentamo-nos no sofá da ante-sala.



Fiquei em silêncio, esperando que ela começasse a falar, afinal tinha dito que queria me contar algo. Será que seria sobre o estupro? Achava pouco provável.



- Edward – ela começou – quando eu tinha treze anos eu fui estuprada.



Não imaginei que algo que eu já soubesse pudesse me causar tanto impacto. Ouvindo de sua própria boca e vendo a amargura e tristeza em seus olhos, enquanto falava, parecia-me mais trágico ainda do que minhas memórias me faziam crer.



- Be... Bella, na... não precisa me contar nada, se não se sentir confortável para falar sobre isso.



Eu estava apavorado com a possibilidade de deixar transparecer que eu conhecia sua história.



- Se não se importar, eu queria muito que me ouvisse, Edward. É a primeira pessoa com quem me sinto à vontade para contar o que me aconteceu. – Havia urgência em sua voz.



Recostei-me no sofá, mostrando que estava disposto a escutar tudo o que quisesse contar. Bella começou a falar baixinho, com um certo acanhamento.



- Naquele dia eu tinha ido à biblioteca da Universidade junto com minha amiga April e sua irmã mais velha, Nicole . Nicole queria emprestar uns livros para um trabalho da faculdade, mas quando chegamos os livros já estavam sendo utilizados por outros alunos. Ficamos um tempão esperando para ver se eles devolveriam logo, mas como demoravam muito, resolvemos ir embora. Era por volta de umas oito horas da noite. O ônibus delas passou primeiro e fiquei sozinha no ponto, esperando o meu chegar; morávamos em bairros diferentes.



Enquanto falava, apertava as mãos, mostrando claramente o quanto aquelas lembranças eram doloridas para ela.



Pensei em pedir que parasse, mas se era a primeira vez que falava sobre o assunto, poderia fazer bem para sua recuperação do trauma.



- Algum tempo depois – continuou - um carro, dirigido por um rapaz loiro...



Ela não conseguiu terminar a frase. Pôs a mão na boca e respirou fundo, buscando forças para continuar. Minha vontade era lhe dar um abraço ou mesmo colocá-la no colo para que se sentisse segura, mas não podia fazê-lo. Seu desconforto me angustiava.



- Bem, o rapaz me perguntou onde ficava a biblioteca e eu me aproximei da janela do carro para explicar para ele. Só me lembro de sentir algo em meu nariz me sufocando. O cheiro era forte que não deixava respirar. Acho que desmaiei.



Bella tomou um gole do refrigerante e me olhou nos olhos. Havia tanta dor neles que entendi sua vontade de morrer.



- Quando eu acordei, estava em um lugar horrível, sujo. Eu estava...



Ela parecia envergonhada em contar os detalhes.



- Eu estava sem roupas e ele estava em cima de mim, sem roupas também e então ele colocou as mãos em volta do meu pescoço e disse que me mataria se eu me mexesse. Eu estava com tanto medo. Eu era virgem, nunca tinha seque beijado um garoto. Era tudo apavorante para mim.



Lágrimas começaram a escorrer de seus olhos e ela tremia. Queria que parasse de se lembrar daquilo.



- Bella, tem certeza que quer continuar falando sobre isso?



- Eu preciso, Edward! Por favor, me escute! – Ela implorava, desesperada.



- Claro, meu amo... Claro, Bella – consertei o ato falho. – Eu estou aqui, pode falar o quanto quiser que eu ouvirei.



Sua voz agora parecia um sussurro.



- Eu o deixei fazer coisas horríveis comigo. Eu tinha tanto medo de morrer que eu permiti que ele usasse meu corpo de todas as formas que lhe desse prazer. Eu devia ter deixado ele me matar, mas por apego à vida, eu não lutei. Eu...eu simplesmente não... não fiz nada... – neste ponto ela chorava de soluçar, com o rosto entre as mãos.



- Bella, pelo amor de Deus, olha para mim! – Eu quase gritei. – Você não teve culpa de nada. Você era só uma criança, estava apavorada. Não há nada que você pudesse ter feito para evitar que ele fizesse o que fez. Não foi culpa sua... não foi, precisa acreditar nisso!



Eu me segurava para não tocá-la. Queria envolvê-la em meus braços. Ela estava tão frágil e desamparada. Não achei que minhas palavras a tivessem convencido.



Um pouco mais calma, ela prosseguiu.



- Quando ele saiu de cima de mim foi que eu percebi que a vida pela qual eu tanto lutei seria minha maldição. A lancinante dor física que me fez desmaiar se transformou em parte de mim quando eu acordei naquele hospital. Desde aquele dia tudo que eu mais desejei, Edward, foi a morte; justamente o que ele me ofereceu primeiro...



Bella já não chorava mais, mas seu rosto parecia uma máscara de gesso, sem vida.



- Bella, por que quis me contar isso? Se acha que eu posso ajudá-la, por favor, me diga. Eu farei tudo o que tiver ao meu alcance para tirar essa dor de dentro de você. Se me deixar entrar na sua vida eu prometo que vou tentar te dar um motivo para viver.



- Porque assim eu não poderei mais me iludir com a possibilidade de te amar e ser amada por você. – Respondeu minha primeira pergunta, soltando um longo suspiro depois.



Eu tinha de parar com aquela mania de perder a voz quando algo me surpreendia. Queria falar tanta coisa, mas não conseguia. O verbo amar que eu acabara de ouvir da boca de Bella me deixou completamente sem chão.



Diante do meu silêncio involuntário, Bella continuou.



- Edward, eu sumi porque eu tinha tomado uma decisão muito importante, mas ao te conhecer eu comecei a ter dúvidas sobre ela. Eu cheguei a acreditar que você estava interessado em mim, mas eu não tenho mais o direito de ser feliz, aquele monstro me tomou isso. Quis que você soubesse de tudo para que eu não corresse o risco de fantasiar que poderia deixar tudo para trás e começar uma vida nova ao seu lado. Eu tenho marcas no meu corpo que me lembram, dia após dia, que eu ainda pertenço a ele.



- Isso é um absurdo, Bella! Claro que podemos ser felizes juntos. Para mim o que te aconteceu não muda o que eu estou sentindo por você. Não te faz indigna do meu amor. Muito pelo contrário, eu te admiro mais ainda pela sua força. Dê uma chance para nós, Bella. Deixe-me fazer parte da sua vida. – Se o destino estava pensando que ia trazê-la tão próxima de mim e depois me fazer perdê-la, ele não me conhecia. A briga ia ser feia.



- Eu não tenho mais vida, Edward. – Eu já sabia disso, tinha lido em sua carta.



- Claro que tem, meu amor – agora eu já nem me importava em mostrar-lhe que a amava – você tem toda uma vida pela frente. Só precisa deixar as lembranças ruins serem substituídas por lembranças boas. O amor entre um homem e uma mulher pode ser muito bonito, Bella. O que te aconteceu foi algo terrível, mas não quer dizer que não possa ter uma experiência boa ao lado de alguém que você ame e que te ame também.



Bella me olhou por um tempo e então sorriu.



- Eu queria ter te conhecido antes dele, Edward. Desde a primeira vez que te vi, no alto daquele prédio, eu soube que você era especial. Você me lembra meu anjo.



O sangue fugiu do meu rosto. “Anjo” era a última palavra que queria ouvir hoje. Pelo bem da minha sanidade eu precisava esquecer meu surto na igreja e mais uma vez o assunto vinha à tona.



- Co... como assim? – Perguntei, buscando minha voz antes que ela fugisse de novo.



- Não sei se vai acreditar, Edward, mas enquanto eu agonizava naquele galpão imundo eu senti a presença de um anjo. Ele se sentou ao meu lado e segurou minha mão. Foi o único momento, desde meu encontro com aquele monstro, que eu tive paz... Mas quando eu te conheci, eu voltei a sentir a mesma sensação daquele dia. Você me faz sentir bem. Ao seu lado eu me sinto protegida, feliz e em paz. Acho que chamam isso de amor.



Estavam exigindo muito de mim, eu não era tão forte assim... Por que teimavam em me colocar em situações como aquela?



Eu começava a acreditar que havia mais verdade nas palavras daquele homem misterioso do que eu gostaria.



- Você também me faz feliz, Bella.



Uma felicidade dolorida, mas ainda assim, agradável de sentir, pensei.



- Se eu pudesse eu te beijava agora – Bella falou, me nocauteando completamente. - Acho que eu estou te amando...



- Eu acho que sempre te amei, Bella

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