sexta-feira, 25 de maio de 2012

Faz de conta que foi assim20

CAPÍTULO 19 – Por amor
FLOR DE IR EMBORA
(Fátima Guedes)
Flor de ir embora
É uma flor que se alimenta



Do que a gente chora
Rompe a terra decidida
Flor do meu desejo

De correr o mundo afora
Flor de sentimento
Amadurecendo aos poucos a minha partida
Quando a flor abrir inteira
Muda a minha vida
Esperei o tempo certo
E lá vou eu
E lá vou eu
Flor de ir embora, eu vou
Agora esse mundo é meu

“Tudo de amor que existe em mim foi dado
Tudo que fala em mim de amor foi dito
Do nada, em mim, o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado”...

(Vinícius de Moraes)
Edward ficou sentado na areia, olhando fixamente o ir e vir das ondas. Tentava respirar involuntariamente, mas era difícil, quase impossível. Tinha de se lembrar a todo momento de fazê-lo, ou seu instinto de auto proteção simplesmente se negava a mandar ar para seus pulmões. Seu corpo queria descanso, queria se livrar daquela dor que o consumia, queria o alívio da morte.
Estava ali desde que saíra do quarto de Bella, depois de se despedirem fazendo amor. Passara a noite toda na praia, pensando nas loucuras que fez e nas suas conseqüências.
Ao seu lado Bud permanecia quieto, sem demonstrar a costumeira euforia. Parecia que entendia o sofrimento do seu dono, ou talvez estivesse vivendo sua própria angústia, pois também tinha se entregado aos encantos de Bella.
Edward viu nos primeiros raios de sol, denunciados pela cor laranja no horizonte, o prenúncio do pior dia de sua vida. Sua princesa estava abandonando seu castelo destruído...
Não fora difícil deduzir que Bella estava indo embora com Jacob Black. “Se vê-la partindo já não fosse massacrante o suficiente”, lamentava-se. Não queria assistir sua saída. Seu coração não aguentaria.
O latido amigável do cão fez com que ele apertasse os olhos e levasse as mãos ao rosto, num gesto de irritação. Já podia imaginar do que se tratava. Confirmando seu maior pesadelo, ela estava vindo despedir-se.
Enquanto se aproximava da praia, Bella procurava controlar as reações exacerbadas de seu corpo, mas quanto mais pensava em Edward, pior ficava.
Agachou ao lodo de Bud e fez um carinho demorado em seu amigo.
– Tchau, amigão! Se cuida!
Do lado, Edward permanecia imóvel, fitando a imensidão do mar.
Bella ajoelhou-se à sua frente e pousou as mãos nos joelhos dele, dobrados junto ao corpo.
– Eu não poderia ir sem me despedir. – Ela falou, olhando pra baixo, sem coragem de encará-lo.
– A gente já se despediu. – Disse ele, com os olhos perdidos no mar e a voz indiferente.
Bella lembrou-se de como tinha sido o último encontro deles; de como tinham se entregado ao desejo que sentiam um pelo outro.
– Queria que soubesse que eu não te odeio, Edward. Na verdade eu te amo... Te amo mais do que posso suportar, mas do que devia.
Bella apoiou a testa nas pernas dele e se permitiu chorar pela primeira vez naquela manhã.
Edward vacilou, mas não resistiu à necessidade de afagar os cabelos dela. Seus dedos penetraram a maciez daqueles fios dourados, fazendo o último carinho em seu raio de sol. Permaneceu em silêncio. Não tinha mais nada pra falar.
– Eu vou à procura de algo que nem sei se existe ou que talvez esteja aqui, Edward... Mas preciso descobrir isso sozinha. Pode ser que quando encontrar minha verdade você não me queira mais, mas vou ter de correr esse risco. Não quero ficar aqui pela necessidade que meu corpo tem do seu... Quero ser sua por inteiro, sem medo e sem desconfianças... Mas para isso, primeiro, preciso saber quem eu sou de verdade. – Bella sussurrava as palavras com dificuldade, segurando os gritos desesperados que queriam sair de sua garganta.
Edward usou as mãos para forçá-la a olhar pra ele.
– Bella, se tem de ir, vá logo, por favor... – Ele não sabia por quanto tempo mais resistiria sem se desesperar e fazer uma loucura.
– Poderia ter sido tão diferente... – Bella falou, levantando-se para ir embora.
– Acho que o destino está desistindo da gente, Bella... Ou pode ser que sejamos nós que estamos desistindo dele...
Edward falou aquilo com o olhar novamente perdido no horizonte.
Bella foi embora sem responder seu comentário.
Alguém ali estava visivelmente desistindo de algo muito grande... Edward se entregara à dor, Bella, à mágoa... E o destino... Bem, esse estava cansado de tentar fazer aqueles dois entenderem que não cabiam a eles decidirem se ficariam juntos ou não. Essa decisão já tinha sido tomada pelas forças que regiam o universo. Eles eram almas gêmeas e mesmo que tentassem, não poderiam fugir disso. Era só uma questão de tempo até que a vida os unisse novamente.
Enquanto Jacob e Bella entravam no carro para partirem, o homem observava escondido, possesso com aquela atitude dela. Definitivamente aquilo não estava em seus planos. Teria de agir rápido, ou tudo o que planejou se dissiparia com uma simples assinatura. Praguejou mentalmente. Queria um pouco mais de tempo, mas as circunstâncias exigiam urgência.
Em seu pequeno apartamento, Bella releu pela quinta vez o manual de instrução de como montar a cama, depois acabou desistindo. Já estava há um mês e meio longe de Edward. O ditado dizia que o tempo curava tudo, mas a dor e a saudade que sentia só aumentavam. Até o tempo estava trabalhando contra ela, pensou.
Depois de várias tentativas de Jacob para que ela fosse com ele para New York, tinha se mostrado decidida a recomeçar sua vida em Aurora, no estado do Colorado. Escolheu ao acaso, simplesmente porque gostou da cidade.
Estava em fase de treinamento para ser recepcionista num consultório médico. Seu salário ainda era ínfimo, mas se fosse aprovada depois dos noventa dias, ganharia aumento.
Além do trabalho, seus dias se resumiam em ficar em casa assistindo filmes antigos e, na maioria das vezes, chorando. Bella já estava chegando à conclusão que a única coisa que descobriria de si mesma, vivendo daquela forma, seria qual seu limite para a dor, pois tinha dias que parecia que seu coração ia despedaçar-se em mil pedaços. Onde quer que vasculhasse em seu interior, deparava-se com o amor que sentia por Edward. Era como se ele fizesse parte dela, como se fossem uma coisa só.
Jake sempre ligava. Já tinha mostrado a intenção de ir visitá-la algumas vezes, mas ela sempre arrumava uma desculpa para ele desistir, inventando que trabalharia ou que ia fazer algum curso de final de semana.
Gostava dele, mas não queria lhe dar falsas esperanças. Também precisava ficar sozinha. Foi por isso que tinha saído da Califórnia. Queria a serenidade da solidão para colocar sua mente em ordem. Nem passava por sua cabeça se envolver novamente. Sempre amaria Edward, mesmo que isso não significasse necessariamente que ficariam juntos outra vez.
Edward não tinha ligado sequer uma vez. Não sabia notícias dele desde que partira. Sentia vontade de falar com ele, ouvir sua voz, dizer que estava arrependida de deixá-lo, mas algo dentro dela a impedia. Não sabia se era orgulho ou covardia.
Nas poucas vezes que seu celular tocava, o coração de Bella se acelerava até descobrir que não era ele, e então se afundava numa enorme decepção.
“Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro. A real tragédia da vida é quando os homens tem medo da luz.”
(Platão)
Enquanto empilhava as caixas da cama no canto do quarto, esperando até que o montador viesse salvá-la, Bella ouviu a campainha tocar.
Abriu a porta pensando ser o Sr. Ruben, seu senhorio, mas só percebeu que era Alice quando a viu plantada no meio da sala, com seu encantador sorriso nos lábios.
– Oi Bells!!
– Os cinco milhões incluía um satélite exclusivo para me rastrear? – Perguntou ironicamente, tentando imaginar como é que tinham descoberto onde estava morando.
– Preferia a “Bella” dos micos. O sarcasmo não lhe cai bem. – Alice disse, balançando a cabeça negativamente. - Eu senti tanto sua falta... – Falou, desconsiderando a frieza com que foi recebida. Agora havia uma enorme tristeza em sua voz.
– Você mentiu pra mim, Al. Eu confiava em você... – Bella lamentou, sinceramente sentida por ter sido traída por ela.
– Bella, chega de lamúrias!- Alice exclamou, sentando-se mesmo sem ser convidada – Agora você vai ficar quietinha e me ouvir, e não arredo o pé daqui até poder falar tudo o que está entalado na minha garganta – ameaçou.
Sem esperar a reação da dona da casa, continuou seu monólogo.
– Eu conheço Ed há mais de dez anos. Passei todos esses anos vendo-o sofrer e se martirizar pela culpa e pelo remorso pelo que tinha feito a você. Vi ele se transformar de um homem fraco e submisso ao pai, a um homem decidido a arriscar tudo, até sua liberdade, para ter a única mulher que ele amou na vida de volta para ele. Você generalizou toda a história de vocês como se tudo fosse de mentira, mas isso é um grande erro de sua parte. Eu sei que está magoada, ressentida... Eu entendo seus motivos, mas não posso deixar que jogue fora sua felicidade por causa de um orgulho bobo, amiga. O mais importante nisso tudo é que o amor que ele sente por você é verdadeiro! Eu nunca vi um homem amar tanto assim uma mulher... Meu Deus, Bella, que mal que ele te causou? Do que ele te privou? Daquela vidinha triste e solitária que você levava? Pense com o coração, criatura, quantos amores iguais o de vocês existem no mundo? Quer me convencer que é isso aqui que você quer pra sua vida? – Perguntou Alice, olhando em volta. – Olhe pra você, amiga... A amargura está estampada em seu rosto. Você é completamente apaixonada por ele. Santo Deus, eu não posso deixar que meus amigos se destruam assim, sem motivos. Eu, Jasper e Emm amamos o Ed, Bella, e aprendemos a te amar também. Nós passamos anos ouvindo-o falar de você, da sua beleza, da sua meiguice, dos planos que fizeram juntos... Do quanto ele sentia falta de você. E sim, nós o apoiamos nessa fantasia louca. Apoiamos porque tudo o que queríamos era a felicidade de vocês. Quando eu entrei naquela casa, eu tive certeza que tínhamos feito o certo... Vocês estavam tão felizes! Existia tanto amor na forma como se olhavam, tanta doçura na forma como se tocavam... Por Deus, Bells, não jogue isso fora! – Alice terminou seu discurso com o rosto molhado pelo pranto.
Bella ainda permanecia em pé, encostada na parede. Parecia hipnotizada com as palavras da amiga. Tentara interrompê-la algumas vezes, mas não sabia o que dizer, ou melhor, não tinha o que dizer...
– Bella, - Alice levantou-se – eu vou embora. Só vim porque sou verdadeiramente sua amiga, por mais que não acredite nisso. E você tem suas razões para duvidar... Se precisar de mim, pode me procurar a hora que quiser. Você se tornou como uma irmã para mim. Eu te amo e vou esperar o seu perdão o tempo que for necessário. Mas lembre-se que Ed é um homem... Um homem lindo, rico, gentil, bem dotado... Bom, suas qualidades você conhece melhor do que eu – disse, dando um sorriso malicioso. – Existem mulheres que matariam para tê-lo. Cuidado para não perceber a burrada que está fazendo apenas quando for tarde demais...
Alice saiu pela porta deixando Bella muda e pensativa.
Edward passava seus dias no escritório, trabalhando incansavelmente, procurando fugir da bagunça que tinha virado sua vida. O contrato de aluguem da casa era de seis meses, então resolvera ficar por mais um tempo nela. Estar ali era uma forma de tocar mais de perto as lembranças do quanto foram bons os dias que eles viveram como um casal feliz.
Não se sentia bem na presença de outras pessoas. Seu deplorável estado depressivo não era algo que merecia ser compartilhado. Era hora de se recolher para “lamber as feridas”; isolar-se lhe pareceu conveniente.
Os amigos bem que tentaram se aproximar, mas respeitaram sua vontade de ficar sozinho, deixando claro que estavam à disposição, caso precisasse. Mesmo assim, ligavam quase todos os dias, principalmente Emmett.
Foi Emm que lhe contou que Alice tinha ido procurar Bella.
– Ela está morando em Aurora, no Colorado.
– Pensei que estivesse em New York, com aquele miserável. – Falou Edward, com um certo ressentimento.
– Não, Ed, ela está sozinha, e pelo que a baixinha falou, também está sofrendo muito.
– Foi ela que quis assim...
– Dê tempo ao tempo, cara. Ela vai descobrir a besteira que fez e voltará pra você.
– Eu entrei com os papéis do divórcio, Emmett. Roarke está preparando tudo. Vou deixá-la livre uma de vez por todas.
– VOCÊ ESTÁ LOUCO, ED? NÃO PODE DESISTIR ASSIM.
– Posso sim. Ela nunca mais ligou, nem para dizer onde estava. Ela não me quer. O melhor a fazer é por um ponto final nisso tudo.
Só Edward sabia o quanto fora difícil tomar aquela decisão. Se lhe arrancassem o coração em vida talvez não doesse tanto quanto doeu assinar aquele papel.
– Vão levar o documento para ela assinar também. Logo tudo estará acabado para sempre.
– A ÚNICA COISA “PARA SEMPRE” NESSA HISTÓRIA TODA É O AMOR QUE SENTEM UM PELO OUTRO, SEU IDIOTA! NÃO SEI QUAL DOS DOIS É MAIS CABEÇA DURA... FIQUE AÍ DANDO UMA DE COITADINHO ENTÃO, CARA!! “OH, COMO SOU INFELIZ!!!” – Emmett o imitou, caricaturando a cena. - PARA MIM BASTA! – Gritou irritado. Estava cansado de ver aqueles dois abrirem mão de algo tão difícil de encontrar: a felicidade.
Edward desligou o telefone sem ficar chateado com a explosão do amigo. Já estava acostumado com seus destemperos. “Em alguns minutos ele liga de novo para pedir desculpas”, supôs Edward. Desta vez estava enganado...
Bella olhava para os dois papéis em suas mãos, sentindo o coração falhar várias batidas. A vida já tinha lhe pregado várias peças, mas aquela era a maior de todas.
Divórcio?? As palavras de Alice voltaram em sua mente... “Cuidado para não perceber a burrada que está fazendo apenas quando for tarde demais.” Será que Edward estava com outra? Será que Al estava apenas lhe dando uma indireta para que abrisse o olho? Aquelas perguntas pipocavam em sua cabeça.
Leu novamente o que estava escritos nos papéis... Tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguas... Tão definitivos. O destino estava lhe propondo um fim ou um começo?... Estava em suas mãos decidir, pensou. “Se é que a decisão ainda depende de mim...”, temeu Bella.
O namoro com a carente Vera, arrumadeira do Cullen, rendeu ao homem informações preciosíssimas. Tinha todos os dados que precisava para executar seu plano naquela noite. Não podia mais esperar um dia sequer.
Assim que metesse uma bala bem no meio da cabeça de Edward, acabando com sua vida, poderia enfim dar continuidade ao seu projeto de vida: ficar rico.
Tinha sido providencial pensarem que seu alvo era Bella, apenas porque acharam uma foto dela em sua mochila. Que mal tinha um pai carregar uma fotografia de sua filhinha? Ainda mais quando ela se tornaria herdeira, graças a um casamento inventado, da fortuna do filho único do poderoso Carlisle Cullen...
Ele se apresentaria à Isabella e formariam uma família abastada e feliz, e nunca mais passaria fome nem teria de morar em espeluncas. Tudo o que ela ia precisar depois da morte de Edward seria um ombro amigo, melhor ainda se fosse um ombro de um pai arrependido e disposto a lhe dar todo o amor que negou no passado. Sua amnésia e sua carência seriam ótimos motivos para que ela o perdoasse mais facilmente.
Seu plano era perfeito. Faltava apenas puxar o gatilho e transformar o genro em uma polpuda conta bancária. Tinha de garantir que Bella ficasse com tudo antes que eles se divorciassem.
Bella pegou o primeiro ônibus que conseguiu para a Califórnia. Depois que chegasse a São Francisco, pegaria outro até Monterrey. Chegaria lá no anoitecer do dia seguinte. Precisava falar pessoalmente com Edward.
Jacob ficou apavorado com a informação que recebeu de seu colega policial, aquele que estava investigando o caso de Bella junto com ele.
Soube que antes de morrer, depois de ser espancado na cadeia, o homem que eles haviam prendido no jardim da casa de Edward Cullen tinha confessado, enquanto agonizava, que tinha um cúmplice e que era ele o mentor de todo o plano para roubar o cofre da casa de Edward. Disse também que a história do seqüestro era falsa.
“Que cofre?”, perguntava-se Jake. Não demorou muito até que entendesse o que tinha acontecido. O verdadeiro bandido tinha-os feito acreditar que aquele infeliz que prenderam era ele, mas na verdade estava à solta. Bella ainda corria perigo!
“FILHO DA P***!”, xingou Jake, socando a mesa de raiva. “Como pude ser tão idiota?”
Depois de insistentes ligações, conseguiu falar com Bella. Estava em um ônibus rumo a Monterrey, indo falar com Edward. Preferiu não assustá-la enquanto estivesse sozinha.
Queria muito perguntar por que ela estava voltando, mas isso não era problema seu. Ela já tinha deixado claro que não rolaria nada entre eles.
Sentiu um calafrio no corpo. Bella estava indo ao encontro do perigo. Precisava viajar urgentemente. Tinha de averiguar essas informações o mais rápido possível. Pegaria o primeiro vôo para lá.
Edward chegou de sua caminhada na praia com o dia escurecendo. Foi até a cozinha e comeu um lanche que a cozinheira lhe preparou, depois subiu para tomar banho.
Após uma boa chuveirada, desceu novamente para o escritório. Queria saber do advogado como tinha sido a reação de Bella ao receber os papéis do divórcio, mas ainda não tinha conseguido falar com ele. Ia tentar por email.
Sem muito esforço, Charlie Scott, este era seu verdadeiro nome, invadiu a casa e foi para o escritório, se escondendo atrás da porta, à espreita. Sua arma já estava preparada e em punho.
Bella sentiu sua pulsação se acelerar quando o taxi parou a alguns metros da casa, como havia pedido. Caminhou até a entrada de serviço e chamou por Cornélia. Estar ali novamente lhe trazia lembranças lindas e dolorosas ao mesmo tempo. Nunca mais tinha sido tão feliz quanto fora enquanto morou naquele paraíso. Foram poucas semanas, mas a intensidade das emoções que viveu ao lado de Edward dava uma dimensão atemporal àquela experiência.
– Dona Isabella, que surpresa! - Falou a empregada quando a viu.
– Oi Cornélia, que bom revê-la! – Bella a cumprimentou com seu jeito meigo e carinhoso de sempre. Falava baixo para não chamar a atenção de Edward. Queria se preparar primeiro, antes de encontrá-lo.
– O Sr. Cullen está lá em cima. Ele não me disse que a senhora chegaria hoje, mas pode deixar que em questão de minutos eu preparo sua comida preferida. Já estava com saudades de fritar batatas – brincou.
– Obrigada, mas não precisa. Já comi um lanche no ônibus. O Edward não sabe que estou aqui.
– Meu Deus, ele vai ter uma surpresa e tanto! Ele anda tão triste que dá até pena.
– Ele está sozinho?
– Sim, não tem mais ninguém na casa. Nem os amigos dele voltaram mais aqui.
– Ele está namorando alguém? – Bella reformulou a pergunta, desconfiada que o pedido de divórcio tivesse a ver com um novo amor.
– Namorada? Não, claro que não! Ele nem sai de casa, coitadinho. Ele ainda é louco pela senhora. Não me deixa nem trocar a fronha do travesseiro onde a senhora dormiu. Acho que ele dorme abraçado nele.
Bella sentiu os olhos lacrimejarem. Só uma idiota como ela poderia jogar um amor desses pelo lixo. Estava tão infeliz longe dele que percebera que tinha deixado seu orgulho sobrepor ao amor que sentia por Edward. Só não sabia se ainda teria tempo de voltar atrás. Agora quem dependia de perdão era ela...
Tinha aproveitado as intermináveis horas de viagem para finalmente chegar à conclusão de que tudo o que Edward fizera fora por amor. Amor... O mesmo sentimento que ela tinha por ele desde que era uma criança, pelo que soube.
Em todas as fases de sua vida ela lhe tinha tido amor. Amor com sonhos, amor com decepção, amor com solidão, amor com dor, amor com felicidade, amor com dúvidas... Mas sempre amor... Sempre!!!
Jacob pegou um taxi e seguiu para a casa de Edward. Tentava falar com Bella, mas o celular estava fora de área. Precisava alertá-los que o perigo não tinha passado, apesar de não ter acontecido nada suspeito nesse período em que foram enganados. Na dúvida, era melhor manterem-se alerta.
Ligou para Edward, mas ninguém atendia também.
Bella criou coragem e abriu a porta da cozinha, encaminhando-se para a sala. Ouviu a porta do escritório ser aberta e, pelo aroma inconfundível do perfume de Edward, soube que ele estava lá.
Assim que Edward se sentou, descobriu que não estava ali sozinho.
De onde parou, Bella tinha uma visão de tudo que estava preste a acontecer. Como se a velocidade do tempo tivesse sido alterada, ela pode observar com detalhes a arma na mão do homem encapuzado sendo apontada para a cabeça de Edward, que olhava em choque para seu algoz. Ele estava sentado em sua cadeira giratória, completamente imóvel e indefeso.
Sem que houvesse a menor dúvida sobre o que era certo fazer, Bella se jogou entre os dois, clamando aos gritos pela vida de homem que amava.
– NÃÃÃÃÃÃO!!
O estampido do tiro cessou ao encontrá-la em seu caminho, transformando-se num estrondo abafado.
Edward viu, em câmera lenta, Bella aparecer do nada e se interpor entre ele e o atirador numa atitude absurda para salvar-lhe a vida. Nos infindos segundos que aquele pesadelo durava, não conseguia entender o que ela fazia ali, nem por que alguém queria matá-lo. Seu cérebro trabalhava apenas fazendo-o ter forças para correr até seu corpo caído no chão, atingido na cabeça por uma bala.
O bandido passou correndo por ele, com as mãos nas têmporas, numa atitude que lembrava uma pessoa desesperada ou arrependida. Cada vez a cena se tornava mais surrel.
– BELLA!! MEU DEUS, POR QUE VOCÊ FEZ ISSO? BELLA? NÃO MORRA, PELO AMOR DE DEUS, NÃO MORRA! – Edward gritava alucinadamente enquanto discava o número da emergência no seu celular.
Ao ouvir o som do tiro, Jacob praticamente passou por cima de Cornélia, que o recebia, e entrou casa à dentro, a tempo de pular em cima do homem de máscara que passava por ele.
Sem precisar fazer muito esforço para imobilizá-lo, ouvia apenas seus lamentos intermitentes: “Minha filha não! Minha filha não... Ela não, ela não... Tinha de ter sido ele... Ela não”..., enquanto, no outro cômodo, Edward gritava desesperado o nome de Bella.
– LIGUE PARA 911 E PEÇA AJUDA! FALE QUE O INVESTIGADOR BLACK ESTÁ PEDINDO REFORÇO POLICIAL. – Pediu aos gritos para Cornélia, que chorava e tremia sem entender nada.
Alguém tinha se ferido gravemente e parecia ser sua loirinha.
Algemou o invasor e retirou sua máscara, deparando-se com um rosto banhado em lágrimas.
– Eu matei minha filha... – Ele repetia, parecendo torturado.
Não dava para compreender o que ele falava. “Que história de filha era aquela?”
Por mais que seus motivos para se aproximar de Isabella fossem escusos, Charlie não era um homem tão frio a ponto de querer a filha morta. Desejava apenas viver uma vida de fartura ao seu lado, mantendo-se às suas custas, mas nunca lhe passou pela cabeça lhe causar nenhum dano físico.
Tinha a encontrado por acaso, enquanto limpava a sala do reitor, na Universidade do Kansas. Viu sua ficha sobre a mesa e soube na hora, pela data e local de nascimento e pelo nome da mãe, que era a criança que tinha abandonado no ventre de Renée.
Nunca tinha se aproximado dela. Levava uma vida na bandidagem e nas drogas, pulando de emprego a emprego e não tinha nada a lhe oferecer, nem nada para receber. Depois de descobri-la, acompanhou seus passos. Sabia tudo o que lhe acontecia, inclusive que um detetive a seguia. Foi fácil fazer amizade com ele e propor ajuda, ficando mais perto ainda dela. Quando a viu entre a vida e a morte, em New York, ficou com medo de ter de arcar com as despesas do hospital e por isso não se apresentou como pai. Se bem que não tinha nenhuma documentação que pudesse provar a paternidade. Porém, quando Edward Cullen inventou aquela mentira toda, soube que tinha diante de si a maior oportunidade da sua vida. Matar o filho de seu miserável ex-patrão seria uma ótima forma de vingar as humilhações que passou em sua mansão, na Inglaterra, e ainda colocar as mãos em seu dinheiro. Já tinha matado antes.
Agora o remorso e a culpa o destruíam por dentro.
Mais uma vez a maldição do dinheiro dos Cullen destruía a vida de Bella...
Jake queria ir ver o que tinha acontecido no escritório, mas não podia soltar o bandido. Uma angústia sem tamanho já estava lhe sufocando quando o reforço chegou.
Ajoelhado ao lado de Bella, Edward via a poça de sangue se formar sob sua cabeça. Ela estava fraca e pálida, mas ainda parecia lúcida.
– Eu te amo... – Ela murmurou com dificuldade.
– Eu também te amo, sua maluca. A ambulância já está chegando. Você vai ficar bem, meu amor. Não desista, fique acordada. – Edward pedia, com medo que ela morresse em seus braços.
– Por que fez isso, Bella? Por que se arriscou assim por mim?
– Eu não viveria sem você, Edward... Não me deixe morrer... Não posso morrer agora... Vamos ter um filho.
Uma lágrima rolou do canto do olho e sua cabeça pendeu para o lado, inerte.
O grito de Edward ecoou pela casa.
"As batidas do coração jamais deveriam se escravizar aos tique-taques desencontrados de dois relógios diferentes."
(Chico Buarque)

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