domingo, 15 de maio de 2011

Pena de anjo22


CAPÍTULO 22
by ValentinaLB

... - Por favor, - falei, olhando dentro de seus olhos que mais pareciam o céu - me deixe ser o anjo dela novamente. Tira a minha vida e devolva minhas asas. Eu não fui capaz de fazê-la feliz como homem... Eu te imploro, peça a Deus que me atenda, por favor. Bella se sacrificou por mim, sem que eu lhe desse escolha, agora é minha vez de sacrificar-me por ela. – Aquelas palavras saíram do fundo da minha alma. Era tudo o que eu mais queria naquele momento.
- Tem certeza do que está pedindo, Edward? – Ele me perguntou, sério.
- Tenho! Deixe-me morrer para que eu possa protegê-la de novo...
Ele me observou por um longo tempo, depois sorriu com um certo cinismo.
- Não sabe o que diz, Edward. Não vou levar em consideração seu pedido porque está dominado pela dor. Pela segunda vez não está pensando nas conseqüências dos seus atos. Parece-me que Bella tem o efeito de deixá-lo inconseqüente. – O anjo falou, ainda sorrindo.
- Pode ser, mas a única coisa que eu sei é que tenho de proteger Bella. Vê-la sofrendo me deixa desesperado, ainda mais sabendo que é por minha culpa. Eu não conseguirei viver sem ela, então a morte será meu fim de uma forma ou de outra. – Eu tentava conter as lágrimas, mas elas ainda banhavam meu rosto.
- E como acha que será a vida de Bella sem você? Não pensou nisso? – Perguntou, fazendo uma expressão interrogativa.
Senti uma pontada dolorida no coração. Ele tinha razão, de todas as maneiras, existindo ou morrendo, parecia que eu sempre faria Bella infeliz.
Surpreendentemente ele leu meu pensamento.
- Não pense um absurdo desses, Edward. Bella foi e é muito feliz ao seu lado. Está entendendo tudo errado porque está se deixando levar por seu tormento. Você e Bella viveram a relação entre homem e mulher mais linda que esse mundo já conheceu... E mesmo agora, rodeados de tantos problemas, a intensidade do amor que os une é tão bela de se ver que nos emociona.
- Então por que ela me deixou? – Perguntei desconsolado, ainda chorando.                            
- Isso só ela pode te dizer, Edward, mas para tanto você precisa achá-la. Você a conhece como poucos. Bella está onde sempre esteve... Só precisa ir lá resgatá-la.
- EU NÃO CONSIGO MAIS PENSAR EM NADA!! – Explodi. - Sua falta está doendo tanto que chega a me sufocar. Eu preciso cuidar e proteger Bella, mas eu não sei mais como fazê-lo... Eu não sei... – O soluço que precedeu estas palavras poderia ser ouvido a uma longa distância. Eu tinha perdido de vez o controle de minhas emoções.
O anjo colocou as mãos em meus ombros e uma sensação de paz começou a me invadir. Aos poucos fui me recuperando.
- Edward, hoje você quitou sua dívida. Pode deixar que eu cuidarei de Bella para você, serei eu mesmo o anjo da guarda dela. Mas agora ela precisa é de você. Escute a voz do seu coração e vá lá ajudar o amor da sua vida. São seus braços e suas palavras ternas que a tirarão de uma vez por todas de onde ela se encontra. Bella espera que você a salve pele quarta e última vez... Não como anjo, mas como seu marido, seu amigo e seu homem. Você sabe onde ela está!
Antes que eu dissesse alguma coisa, uma brisa soprou e ele se foi.
Como assim, eu sabia onde ela estava?? O que eu estava deixando passar?
- Ei, volte, não me deixe sozinho! – Como ele podia me deixar assim, sem explicar o que estava insinuando?
Comecei a repassar em minha memória tudo o que ele havia me dito. Uma frase ficou martelando em minha cabeça.
“...Você a conhece como poucos. Bella está onde sempre esteve...”
O que ele quis dizer com isso? “Pensa, Edward, pensa...”
A noite já se aproximava e as luzes da cidade começavam a se acender. Eu não agüentaria passar mais uma noite sem ter notícias dela... Eu estava enlouquecendo. Imaginá-la correndo perigo me deixava sem ar.
De repente senti um frio percorrer todo o meu corpo e as palavras do anjo ganharam significado para mim.
Bella está onde sempre esteve...”
Isto não tinha sido falado em vão, era uma pista, uma metáfora... 
- O GALPÃO!!! – Gritei sem perceber.
Era isso, Bella nunca tinha saído verdadeiramente daquele maldito galpão. Há cinco anos ela vivia presa às lembranças do que viveu lá! Seu corpo tinha sido retirado naquela noite, mas sua mente ficou aprisionada ali, remoendo dia após dia seu martírio.
Meu Deus do céu, eu tinha de fazer alguma coisa!!! Bella estava sozinha naquele lugar perigoso. Devia estar morrendo de medo, revivendo seu trauma da forma mais dolorida possível. Por um fim em sua vida para fugir de lá seria algo que ela poderia muito bem cogitar.
Peguei as chaves do carro e saí feito um louco. Havia uma grande chance de eu estar certo.
Dirigi demasiadamente depressa. Não foi fácil localizar o endereço. Já tinha escurecido e as ruas daquele bairro eram bem escuras.
Finalmente o encontrei. Estacionei e desci. Minhas mãos estavam geladas e a secura em minha boca denunciava meu nervosismo. Uma luz fraca iluminava o interior da construção. Entrei. Não demorou muito até que avistasse Bella. Ela estava sentada no chão imundo com os braços envolvendo os joelhos, forçando-os para que se colassem em seu peito. Um leve movimento para frente e para trás fazia seu corpo balançar sutilmente. Era uma cena aterradora de se ver. Sua dor desta vez era visível, palpável. Estava impregnada em cada parede, em cada móvel abandonado e empoeirado daquele amaldiçoado lugar...  Mas pelo menos estava viva.
Ela não demonstrou nenhuma reação com minha chegada. Continuou balançando-se como se estivesse em transe.
Lentamente fui me aproximando. Não sabia exatamente como agir. Tinha medo que minha presença pudesse piorar seu estado. Devia estar me odiando por ter mentido para ela.
Agachei-me ao seu lado.
- Bella, meu amor, vem comigo, vamos sair daqui – pedi, tocando delicadamente seu braço.
Ela continuou com o olhar fixado em um ponto imaginário a sua frente e não pareceu ter me ouvido.
Eu li tudo, Edward... Foi aqui que você me conheceu, nua e coberta de sangue.
Sua voz mal dava para ser ouvida. Apesar de falar comigo, era como se eu não estivesse ali.
- Esquece isso, Bella, não importa mais, já faz tanto tempo. Vamos embora. – Tentei mais uma vez convencê-la, até que me toquei que ela tinha falado sobre ter lido alguma coisa.
- O que foi que você leu, amor? – Perguntei, estranhando suas palavras.
Bella se virou para mim pela primeira vez. Seu rosto estava molhado e sujo pelas lágrimas que se misturavam à sujeira que se espalhava por tudo ali.
Eu fui à delegacia e vi o processo do meu caso, Edward. Eu li todo o seu depoimento. Fui lá porque queria saber como eram suas lembranças, se eram tão terríveis quanto as minhas. – Ela praticamente sussurrava, com dificuldade de falar enquanto chorava.
- São lembranças horríveis sim, meu amor, mas eu não deixei elas tomarem conta de mim. Eu simplesmente as guardei em um lugar onde não poderiam me atingir. Você precisa fazer o mesmo – sugeri, me segurando para não pegá-la em meu colo e retirá-la dali à força.
Lucca... o nome dele é Lucca... – Bella voltou a ter o olhar pedido enquanto repetia isso.
- Quem é Lucca, Bella. – Já estava desconfiando que ela estava perdendo a coerência.
- O estuprador... Eu fui falar com ele, Edward. – Ela falou mais alto, voltando a me encarar, mas tinha tanta tristeza em seus olhos que eu preferi que não tivesse feito isso. Suas lágrimas agora desciam grossas.
- O que você está falando, Bella? – Será que estava delirando ou ela tinha mesmo cometido a loucura de ir se encontrar com aquele sujeito?
- Eu verifiquei onde ele estava preso e fui lá... Eu precisava falar com ele.
- Meu Deus, Bella, não me diga que foi sozinha falar com aquele monstro? – Uma aflição sem tamanho tomou conta de mim. O que será que aquele sádico tinha dito pra ela?
- Eu tinha de ir, Edward. Eu precisava perguntar pra ele se o que ele me fez foi culpa minha. – O choro que se misturava as suas palavras era tão sentido que até o mais frio do ser humano se compadeceria com a dor daquela menina.
Segurei seu rosto com minhas mãos e olhei no fundo de seus olhos inchados de chorar.
- É claro que não foi sua culpa, meu amor. Você era só uma criança. De onde tirou um absurdo desses? – Não era a primeira vez que Bella insinuava que se sentia culpada pelo estupro.
- Mas eu não lutei, Edward, eu não lutei... Eu fiquei quietinha enquanto ele me machucava. Fiquei imaginando que eu estava no gira-gira do parquinho onde minha mãe me levava quando eu era pequena. Quanto mais doía, mas eu girava forte nos meus pensamentos. Eu girei, girei, girei... Eu devia ter lutado, gritado... Mas eu só girei no parquinho...
Eu a abracei forte, apertando-a em meus braços. Se eu pudesse dar minha vida para arrancar aquele sofrimento que dilacerava Bella, eu faria.
- Bella, o que aquele monstro falou para você? – Temia sua resposta.
- Ele sequer se lembrava de mim, Edward. Falou que quando atacava as mulheres estava sempre tão drogado que depois não se lembrava de nada. Quando lhe contei que eu tinha apenas treze anos quando me estuprou, ele chorou e pediu  desculpas. Disse que era o único culpado de tudo e que uma pessoa como ele deveria ser esquecida; que ele não merecia meu sofrimento. – Bella parecia surpresa com aquilo.
- Faz o que ele sugeriu, amor, esquece esse monstro. Vamos sair daqui, vai acabar ficando doente por causa dessa sujeira – implorei.
- Eu passei cinco anos da minha vida presa àquele homem e hoje eu descobri que eu nunca existi na cabeça dele. Ele nem me reconheceu... Não foi minha culpa, Edward... Não foi... Ele falou que não foi... – Repetia, sentindo-se aliviada.
- Claro que não, meu amor! – Falei, acariciando seu rosto.
- Quando eu sair por aquela porta será para sempre, Edward. Não voltarei nunca mais aqui, nem física nem mentalmente. Seremos apenas nós dois de agora em diante. Foi muito sofrido voltar aqui, mas era a única forma de exorcizar meus fantasmas. Eu não podia mais deixar aquele inferno tomar conta da nossa vida... Não depois de saber tudo de bom que fez por mim.
Levantei-me e peguei-a em meus braços. Ela apoiou a cabeça em meu peito e se deixou ser levada sem se opor.
- Tem tanta coisa que eu quero te dizer, Edward – murmurou.
- Eu também, Bella, mas teremos muito tempo para isso. Neste momento, tudo o que mais quero e te ver longe daqui – falei, levando-a para o carro.
Nós precisávamos conversar sobre o que tinha acontecido, mas agora não era o momento.
Telefonei para Renée e para casa e avisei que a tinha encontrado e que estava bem.
Agora sim, entrei no nosso apartamento com Bella em meus braços. Levei-a direto para a suíte do meu quarto. Ela precisava de um banho urgente. Temia que aquela poeira toda a deixasse doente.
Coloquei-a no chão e comecei a tirar seu tênis e suas roupas.
- Você precisa tomar banho e se alimentar, amor – falei enquanto desabotoava os botões da sua blusa.
Bella me olhou meio envergonhada, mas fiz que não notei. Eu iria cuidar dela de qualquer jeito, quisesse ou não.
Tirei seu sutiã e me extasiei com a visão de seus seios nus. Eu nunca cansaria de admirá-los. Desci o zíper da calça e retirei-a, com sua ajuda. Agora Bella estava apenas de calcinha e quando percebeu que eu a tiraria, se adiantou e despiu-se ela mesma.
Liguei a ducha e Bella entrou debaixo, deixando a água escorrer por seu corpo. Era melhor sair logo dali. Eu não era de ferro.
- Bella, vou tomar banho no outro banheiro para depois jantarmos juntos.
Se seguisse os apelos do meu corpo, entraria naquele box com Bella, mas o momento não era propício para o que todas as células do meu corpo insistiam em desejar.
Quando Bella chegou na cozinha, um tempo depois, vestindo uma camisola que quase me fez deixar a jarra de suco, eu já estava com nossa janta pronta.
Sua aparência estava bem melhor; aliás, ela estava tentadoramente linda.
Tinha esquentado uma torta de frango que estava na geladeira.
- Nossas empregadas já estão trabalhando e pela organização das coisas, parecem ser muito boas – comentei.
- São mesmo, minhas coisas estavam perfeitamente arrumadas.
- Pode se sentar que eu já vou servir – falei, mas ela não me obedeceu.
Bella veio até mim, passou os braços ao redor do meu pescoço e me beijou apaixonadamente.
- Não tínhamos nos beijado ainda – falou, com os lábios ainda tocando os meus, de uma forma tentadoramente prazerosa.
- Eu estava louco de vontade de fazer isso, Bella, mas pensei que estivesse chateada comigo.
- Não fugi de você, Edward, eu fugi foi daquela situação absurda que me obrigava a ser uma esposa pela metade. Quando me contou aquela história linda e emocionante, no início eu fiquei aturdida. Eu não podia acreditar que você também fizesse parte desta terrível tragédia que me aconteceu. Até então o que eu mais gostava no nosso relacionamento era que ele representava a parte boa da minha vida, onde eu era a “nova Bella”, feliz e cheia de esperança. Saber que esteve lá me fez ver que eu não poderia, por mais que tentasse, fugir do meu passado e daquele monstro, então só me restava uma opção: enfrentá-lo! Se eu te contasse o que eu ia fazer, você não deixaria, por isso fugi. De tudo o que fiz, o mais difícil foi entrar naquele lugar de novo. Eu pensei que não suportaria a angústia que senti lá, mas no fundo do meu coração eu sabia que você viria me salvar, me tirar daquele inferno para sempre.
- Você não imagina o quanto eu te procurei, Bella. Eu já estava enlouquecendo. Eu iria até o fim do mundo para te buscar, meu amor. Eu daria minha vida por você, Bella.
- Edward, não me pergunte como, mas eu tenho plena convicção que de hoje em diante nunca mais nos separaremos. Eu sinto que estaremos juntos para sempre...
Ela me olhou e sorriu, fazendo-me acreditar e confiar plenamente no que tinha acabado de dizer.
- Vamos comer? Estou morrendo de fome.
- Vamos – falei, dando um selinho em sua boca.
Enquanto saboreávamos a deliciosa torta, Bella contou detalhes dos dois dias que ficou sumida. Disse que tinha dormido em um hotel e que não levou os remédios porque esqueceu.
- Você tomou-os agora? – Perguntei preocupado.
- Tomei, Edward. Eu vou procurar o Dr. Davis, quero ir diminuindo-os aos poucos. Vou ficar apenas com meu “prozac” em forma de homem – falou rindo.
- Desde que o faça com a supervisão de seu médico, acho uma excelente idéia. E pode deixar que eu conheço várias formas de te deixar mais feliz ainda – falei, ando-lhe uma piscadinha.
O vermelho de suas faces me fez ter certeza que minha mensagem maliciosa tinha sido entendida.
- Bella, você teve um dia muito difícil, deveria descansar um pouco, amor – sugeri, depois de comermos. Já passava das vinte e três horas.
- Estou um pouco cansada mesmo. Vou para o nosso quarto.
“Nosso” quarto? Será que eu tinha ouvido bem?
- Também já vou me deitar. – tinha uma dose absurda de segundas intenções naquele meu sono repentino.
Ganhei um sorriso cúmplice que fez minhas pernas tremerem.
Arrumamos a cama e nos deitamos. Era a nossa primeira noite juntos no apartamento. Eu queria muito tocá-la e fazer amor com Bella, algo me dizia que desta vez ela conseguiria, mas não sabia se o momento era propício. Ela tinha vivido emoções intensas naquele dia e não queria parecer insensível, pensando apenas nos meus desejos físicos. Se bem que com ela nunca seria só físico... Nunca seria só sexo...
Depois de deitarmos, Bella se aproximou de mim e aconchegou-se em meus braços. Apertei-a carinhosamente e beijei seus cabelos deliciosamente perfumados. Era difícil acreditar que finalmente, depois de tanto tormento, ela estava junto de mim. Melhor ainda era saber que ela tinha novamente um anjo da guarda para lhe proteger.
- Eu te amo mais que minha própria vida, Bella – falei, abrindo meu coração por completo.
- Eu também. Nós fomos feitos um para o outro, Edward. Depois de tudo que me contou, estou cada vez mais certa disso. Lembra do isqueiro que me pediu para que eu não pulasse daquele prédio? Nunca se perguntou por que eu o tinha, se nunca me viu fumando?
Realmente eu nunca tinha pensado naquilo.
- Sabe que nunca me atinei para isso...
- Pois é, Edward, eu achei ele no chão, poucos minutos antes. Depois de vê-lo na grama, continuei andado, pois não me interessou, mas alguma coisa me fez voltar alguns passos e recolhê-lo. Nem eu mesma entendi porque fiz aquilo, não tinha nenhum motivo para ter um isqueiro... Isso não te faz pensar que existe “algo” muito forte que nos une? Uma força quase divina?
Queria muito poder contar a nossa história para ela, a que o anjo contou, mas não podia.
- O nosso amor é eterno, Bella. Sempre que precisarmos, o destino dará um jeito de nos lembrar disso.
- Só está faltando uma coisa para sermos definitivamente um do outro... – Bella falou com sua voz doce e tímida. – Me transforme em sua esposa de verdade, Edward, me faça sua.
Meu coração pulou no peito ao ouvir aquilo.
- Tem certeza, amor?
- Ham, ham – falou, balançando a cabeça afirmativamente.
Desta vez eu sabia que conseguiríamos. Bella tinha deixado tudo para trás e estávamos sozinhos naquele quarto, sem nenhum fantasma do passado para nos atormentar.

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