Planos para o futuro
Os
Volturis foram embora e finalmente o pesadelo parecia ter passado. Era hora de
fazer planos para o nosso futuro. Quase todos em minha família concordavam que
não poderíamos ficar muito tempo em Forks, pois era muito perigoso manter a
farsa. Para todos os efeitos as pessoas achavam que meus pais e meus tios
haviam se mudado para estudar na universidade Dartmouth. Assim não poderiam ser
vistos na cidade. “Por quanto tempo conseguiriam
ficar incógnita em Forks?” Essa era a pergunta que meu pai, Edward, e meu avô, Carlisle, faziam constantemente. Por outro, lado minha
mãe, Bella, se via em um eterno dilema:
“Não podemos deixar Charlie e Jake
para trás!” Ela dizia enfaticamente.
Todos
conheciam os riscos de permanecer ali. Alguém poderia ver minha mãe ou um dos
irmãos Cullens e questionar sobre a sua presença. Qualquer pessoa que conheceu
Isabella Swan notaria a diferença existente na nova Bella. Sua pele muito
branca, os olhos cor âmbar, os cabelos cor de cobre e mais volumosos. Ela virou
uma verdadeira top model depois da transformação. Era difícil não perceber a
diferença da Bella sem sal para a nova mulher. Todos diziam. Isso sem falar em
meu avô Carlisle, que teve que abrir mão do que mais amava. Ele não podia mais
trabalhar como médico naquela região onde todos o conheciam. “Como explicaria a sua eterna juventude? Tudo
aquilo era perigoso demais para nós. O segredo precisava ser mantido para
continuarmos em paz. Os nossos inimigos precisavam de uma pequena brecha para
atacar novamente e nós não podíamos dar a oportunidade. Todos concordavam, apesar
de eu ser muito jovem para compreender a totalidade do que diziam.
Eu
crescia em ritmo acelerado, a minha mente já era de uma pessoa adulta, por mais
que tentassem esconder as coisas de mim, estava sempre atenta aos
acontecimentos da casa. Assim como os outros membros da família, sempre tive
ótima audição e conseguia ouvir bem, mesmo quando cochichavam. Assim procurava
expressar as minhas opiniões, como uma pessoa completamente independente, mesmo
sendo uma pirralha, principalmente quando se tratava do meu futuro. Havia uma
parte em mim que queria ser uma eterna criança, passando os meus dias sendo
mimada por meu pai, minha mãe, Rosali, Jake, Seth e o restante da família. Isso
era extremamente divertido para mim e via com orgulho as disputas de Jake e da
minha tia Rosali para me alimentar, quando estabeleciam uma espécie de
competição. Ela dava sempre a impressão que arrancaria a cabeça dele fora. Eu
realmente gostava das disputas. Aquilo me divertia bastante. Por outro lado,
outra parte de mim queria apenas crescer. Ansiava por mais liberdade e poder de
escolha. Não queria ser apenas a garotinha indefesa da família. E tanta
proteção acabava por me irritar.
Eu
amava muito Jake e não queria ficar um dia longe dele. Quando ele tinha que
cumprir com as suas obrigações de Alfa, eu ficava muito ansiosa para vê-lo
novamente. Não sei se comentei, mas além de ser uma híbrida, em uma família de
vampiros, meu melhor amigo era o Alfa de uma matilha de lobos transmorfos. Era
uma amizade nada ortodoxa, levando-se em consideração que lobos e vampiros são espécimes
inimigas. Nas ocasiões em que Jake ia cumprir com suas obrigações o tempo
parecia parar. As horas insistiam em não passar tornando tudo insuportável para
mim. Era o momento em que aproveitava para ficar com Bella, a minha doce mãe,
quando eu podia sentir o seu calor, passar horas no seu colo, sentir o seu
cheiro, brincar com os seus cabelos, fazê-la ver imagens coloridas e
agradáveis. Ela olhava para mim com verdadeira adoração, parecia que via a
imagem de uma verdadeira santa. Aquilo me fazia sentir a pessoa mais amada e
importante do mundo. Às vezes eu me sentia diferente pelo que era. Até mal
quando pensava não ser completamente humana. Minha mãe, no entanto, fazia com
que me sentisse normal. Era muito reconfortante.
Edward,
meu pai, era lindo e irresistível. Sua voz aveludada, o seu cheiro adocicado,
rosto esplendido, e os olhos... Tudo nele era inacreditavelmente incrível. Era
muito fácil entender a adoração que minha mãe sentia por ele. Além dos seus
atributos físicos ele era extremamente altruísta, conservador, inteligente e
amável. O problema nessa perfeição toda era somente o defeito... “Seu gênio era extremamente difícil”. Isso
era irrelevante levando em consideração que ele era extremamente adorável. Quando
olhava para mim ou se referia a mim, podia-se ver a veneração que tinha em seus
olhos... “Mais até do que por minha mãe”.
Sua voz era de reverência ao grande
milagre quando ele fala o meu nome. Maior até o de ter encontrado Bella depois
de cem anos de vida. Acho que se ele pudesse chorar o faria sempre que me
olhava.
À
noite meus pais me levavam para o nosso chalé, para terem um pouco mais de
privacidade. Privacidade em uma família de vampiros era algo que ninguém podia
se dar ao privilégio, levando-se em consideração os dons da família e a audição
aguçada. Por isso meus pais preferiam o chalé, onde podiam passar as noites se
amando. Às vezes acordava a noite e ouvia o grande amor que tinham um pelo
outro, em forma de gemidos, sussurros e rosnados. Confesso que aquilo era
constrangedor e chegava a aguçar a minha curiosidade. Naquela época eu não
sabia nada sobre sexo. Nada é maneira de falar. É claro! Uma criatura que
cresceu no meu ritmo lia muito e nessas leituras aprendia “coisas”. Entretanto, apesar
do conhecimento, a minha sabedoria era muito pequena devido a falta de
experiência. Assim, ao ouvir os barulhos no quarto dos meus pais, sentia-me
extremamente curiosa sobre “o que”
ocorria, e principalmente “como”
ocorria.
Além
da minha família de vampiros e dos meus amigos lobos, ainda tinha o meu avô
Charlie, que não compreendia muito bem as coisas que aconteciam, como eu
crescia tão rápido e como era tão incrivelmente inteligente. Ele havia feito a
escolha de saber a menor quantidade de detalhes possíveis. Mas às vezes tentava
encaixar as peças para entender a minha ligação com Bella, pois não era
humanamente possível ela ser de fato a minha mãe. Apesar disso, algo dizia para
ele que ela era. Sempre que Jake ou minha mãe me levavam para vê-lo, havia a
surpresa sem sues olhos. Era evidente a descrença, em seu olhar, em relação ao
meu crescimento e inteligência. Mesmo
assim não questionava as coisas estranhas que aconteciam porque esse foi o
acordo que fizera com Jake e com meus pais. Ele achava que eu era a sobrinha
adotada de Edward, mas sempre procurava semelhanças minhas com Bella. Dizia que
eu tinha os seus olhos e os seus cachos, além de ser totalmente descoordenada
como ela. Sabia, no entanto, que era melhor para não procurar explicações
lógicas.
Apesar
de meu pai não gostar muito, Jake sempre me levava para La Push onde eu me
divertia com seus irmãos lobos, com Claire, Emily, Rachael, Kim, Sue e Billy. Todos
eram muito amáveis comigo, exceto Leah que parecia ter algo engasgado na
garganta. Ela não discutiria com uma criança, de aparentemente 6 anos, e mesmo
que ela tentasse Jake tomaria as minhas dores. Mesmo assim tinha a plena
certeza da sua repulsa por mim. Era mais claro do que a água. Seu olhar zangado
às vezes me dava medo.
Minha
vida era quase perfeita afinal. Tinha todos junto a mim e era feliz, amada,
mimada. Além de ter todo conforto, amor, felicidade... e Jake. “O que uma criança poderia precisar para ser
feliz?” Aquela aparente tranqüilidade começou a passar poucos dias antes de
eu completar 1 ano, sete anos aparentemente, quando ouvi uma conversa entre
Edward e Jake:
-Jacob,
temos que conversar. - Disse meu pai com os braços cruzados. A voz parecia
apreensiva e triste, enquanto minha mãe estava com uma expressão de dor e
angústia. Fiquei atenta a conversa. Sabia que pelas expressões era algo muito
sério. Meu coração bateu forte naquele momento e fui tomada por uma estranha
angustia. Era a primeira vez que tinha aquela sensação de perda.
-O
que está ocorrendo, Edward? - Perguntou Jake com tom apreensivo. Eu o conhecia
bem para saber que algo estava o rasgando por dentro. Vê-lo naquela maneira me
doeu ainda mais. Queria fazer algo para tomar aquela dor. Apesar disso me mantive
incógnita para ouvir o resto da conversa. Sabia que se me descobrisse estaria
ferrada.
-
Ness vai completar sete anos e as pessoas vão começar a desconfiar que há algo
errado. - Disse meu pai, tentando encontrar a palavra certa para explicar a
situação. Ele olhou para minha mãe de forma tão estranha. Acho que sabia como
ela estava se sentindo. Ela tinha a mesma expressão de dor de Jake. Eles eram
amigos há muito tempo e muito cúmplices. Se havia algo que odiava era fazer o
amigo sofrer.
-
Se você se refere a Charlie e as pessoas em La Push, pode ficar tranqüilo.
Todos sabem o suficiente. - Jake respondeu na defensiva. Sua voz estava mais
rouca do que normal. Parecia sussurrar enquanto falava. Percebi o esforço que
fazia para não perder o controle.
-
Você não está entendendo. Já estamos há mais tempo que deveríamos em Forks. Não
podemos nem ir até a cidade. Para todos os efeitos estamos todos na faculdade. –
Meu pai fez uma pausa e depois continuou. - Está muito perigoso! -Afirmou com
uma voz triste.
-
O que você quer dizer, Edward? Seja claro, por favor! - Ordenou Jake aumentando
o volume da sua voz enquanto arqueava uma das sobrancelhas. Tive a certeza de que ele já sabia o que
estava acontecendo. O que meu pai estava tentando dizer... “Iríamos partir de Forks.”
-
Nós vamos embora! - Disse minha com uma voz quase chorosa. Acho que se ela
pudesse chorar as lágrimas estariam rolando pelo seu rosto naquele momento. Eu
estava no canto da sala, escondida, mas meu pai podia ouvir o desespero nos
meus pensamentos. Percebi como aquilo o fez sofrer. Ele não queria que me
sentisse daquele jeito. Se pudesse faria algo para evitar aquilo, mas não tinha
como fazer nada. Sofria muito por isso.
-Não!!
Como assim? Não podemos!! E Jake? Não! Por favor...
Jake
falou com um tom mais nervoso dessa vez:
-
Vocês sabem que não vou agüentar ficar longe dela. - A sua voz parecia chorosa
e eu pude ver as lágrimas se formando no canto de seus olhos. Chorei ao ouvir
as suas palavras. Era desesperador. A dor me corroia por dentro. Não conseguia
me ver longe dele. Imaginar acordar um dia sem ver o seu sorriso. Não ter mais
as suas brigas com Rosalie. Não poder montar em seu logo e correr pela
floresta. Era desesperador pensar em tudo aquilo. Algo dentro de mim começou a
se romper quando ele disse que não podia agüentar ficar longe de mim.
-
O que significa isso?
Não conseguir
ficar longe de mim? Eu não entendo!!
Naquela
hora tentei não raciocinar e só me concentrar
na conversa. Eles estavam decidindo sobre a minha vida no final das
contas. Precisava saber o que aconteceria daquele momento em diante.
-
Temos que ir. Não podemos mais ficar. Sei que estávamos matando você mais uma
vez Jacob, mas não há alternativa agora. – Minha mãe praticamente gritava. Cada
palavra estava rasgando-a por dentro. Tinha certeza disso e acho que Jake
também sabia. Mesmo assim ele não conseguia evitar o sofrimento. Eu cheguei a
ficar sem ar ao ver sua face.
Pude
ver o rosto de Jake cheio de lágrimas agora. Parecia um menino naquele momento.
Tive tanta vontade de colocar sua cabeça em meu colo e fazê-lo se acalmar. Ele
se sentou no sofá, colocou a cabeça nos joelhos e ficou pensativo por alguns
momentos... “Algo me dizia que ele estava
morrendo por dentro”
De
repente, os outros membros da família entraram na sala e pude ver a expressão
de tristeza em cada um deles, exceto Tia Rosali, é claro, que parecia muito
satisfeita com a situação. Eles ficaram observando sem falar nada. Era notória
que não gostavam de provocar aquela dor em Jake. Eles o tinham como membro da
família. Estavam acostumados com a sua presença constante dia e noite na casa.
Meus avós o tratavam como filho, meus tios e meu pai como irmão, Alice fazia
dele um boneco. Ela tentava mudar o seu modo de vestir, pelo menos tentava
quando ele deixava. Minha mãe tinha uma relação de amizade, mas havia muito
mais atrás de seus sentimentos. Naquela época não conseguia entender bem o que
era. Todos sofriam com aquela situação. Acho que mesmo Rosalie não gostava do
modo como conduziam aquilo, apesar de não deixar aquilo claro em nenhum
momento.
Alguns
segundos passaram, eu não consegui refletir sobre tudo aquilo, estava
desorientada demais para pensar logicamente. Dirigi-me para perto de Jake,
sentei no chão, coloquei a cabeça na sua perna e deixeis as lágrimas descerem
pelo meu rosto, sentindo muita dor rasgando o meu peito, como se parte da minha
própria vida estivesse sendo arrancada de mim. Nunca pensei que pudesse sentir
tanta dor até aquele momento. Foi a primeira vez que me senti daquele jeito. E
um grito saiu pela minha boca sem mesmo me dar conta do que fazia.
- EU NÃO VOU!!!!!!!!!!!!!!
VOOOUUUU FICAAARRRR COM JAAAAKKKEEEEEE!!
Minha
mãe olhou arrasada para mim e disse: - Querida, você não pode ficar. Temos que
ir embora. É preciso partir... - Quase gaguejando quando dizia. Ela tentou se
aproximar, ma seu estendi a mão para impedir. Não queria ninguém naquele
momento que não fosse Jake. Nem mesmo o calor da minha mãe me confortaria.
Estava sangrando por dentro.
-
Isso é necessário!!! - Ela terminou arrasada
Eu
chorava compulsivamente quando Jake me abraçou e desmoronou sem pudor pela
presença da minha família. Naquele momento parecíamos duas crianças chorando.
Eu sentia os seus braços me apertando, como se não quisesse me deixar partir. O
seu corpo estava mais quente do que o normal. Tive a impressão que ele lutava
para não se transformar. Mesmo com todo aquele calor, poderia ficar em seus
braços para sempre. Era o único lugar em que me sentia confortável.
-
Quando? - Perguntou Jake com a voz engasgada pelo choro
-
Depois da festa de aniversário. - Respondeu meu pai virando-se de costas. Sua
expressão era de profunda dor. Parecia que alguém estava o torturando naquele
momento. Acho que ouvir os meus pensamentos desesperados não ajudou muito
naquele momento.
Jake
me beijou na testa e depois me afastou dele delicadamente. Saiu sem falar mais
uma palavra, deixando-me desconsolada.
Sai
correndo da sala e fui para o meu quarto, onde poderia chorar sem os olhos
críticos da família e passar pela minha dor sozinha. Não queria ninguém me
consolando. A última coisa que precisava era ouvir a palavra: “coitadinha”.
Eu
estava deitada na minha cama, com as lágrimas ainda rolando pelo meu rosto, o
coração rasgando, falta de ar e um desespero que estava me deixando louca, quando
ouvi a sua voz e senti o seu cheiro. Desci as escadas correndo e me atirei nos
seus braços.
-
Oi Ness! - Ele falava enquanto eu o abraçava tão forte que parecia que eu iria
quebrar. Sentia que ele era parte de mim e tinha que aproveitar as ultima horas
com o meu melhor amigo. Mesmo com os olhares de desaprovação da minha família.
Eu sabia que eles não aprovavam tanta aproximação. Principalmente meu pai, que
se mostrava ciumento.
Depois
de alguns segundos Jake falou:
-Olá!
Tenho que conversar com vocês! – Disse com tom cerimonioso. Era até estranho
vê-lo falar daquela maneira. Normalmente era mais descontraído, mas era
compreensível levando-se em consideração o que estava ocorrendo.
-
Pode falar, Jacob. - Disse Carlisle.
-
Tenho uma proposta. – Disse arqueando uma das sobrancelhas e fitou a família,
esperando uma reação as suas palavras.
-
Estamos dispostos a ouvir e chegar a uma solução. - Disse meu pai. Acho que ele
já havia lido os pensamentos de Jake, pela cara que fez naquele momento. Mas
não era mal educado para não o deixar falar para a família. Eu queria muito ter
o seu dom naquele momento. Estava me corroendo por dentro de tanta curiosidade.
-
Vocês vão e se estabelecem... Depois eu vou e arrumo lugar próximo a de vocês. -
Jake falou me apertando mais forte em seus braços, como se tivesse mede de me
soltar e eu sumir dali. Acho que a sua vontade era a de fugir comigo naquele
momento. Mas ele não era burro para tentar escapar de um monte de vampiros. Se
tivesse sozinho ainda teria alguma chance. Comigo de contrapeso aquilo era
quase que impossível.
-Como
assim? Você vai embora conosco? Vai abandonar a sua matilha? – Minha mãe
perguntou assustada. Acho que nem ela imaginava que ele fosse capaz de um ato
daquele. Ela já sofria muito por ele,
apesar de não ter como ajudar, nunca achou que fosse tomar aquela atitude. Ela
sabia como ele era ligado aos irmãos da matilha e a sua família. Principalmente
como amava aquela reserva. Nem eu acreditei quando disse aquelas palavras.
-
Sim, eu vou! Já conversei com Sam e os outros... Todos concordaram. - Jake fez
uma pausa e respirou fundo enquanto a sala permanecia em silêncio. Uns olhando
para os outros sem terem o que dizer. “Como
poderiam se opor diante de tal proposta?” Ninguém abriria mão da vida como
ele estava fazendo. Era um gesto mais do que louvável da parte dele,
considerando que não éramos nem parentes. “O
que aquilo significava?” eu me perguntei naquele momento. Meu pai me olhou
atônito naquele momento.
-
Eu virei para casa nos fins de semana para visitá-los, até a hora de voltarmos
para Forks. Talvez em 6 ou 7 anos... Quando Ness parar de crescer. - Ele
concluiu ainda respirando rápido. Estava completamente decidido. Tive a certeza
disse pela forma como falava. E conhecendo o bem, como conhecia, sabia que não
mudaria de idéia por nada nesse mundo. Mesmo que minha família não o aceitasse,
ele iria atrás de nós de uma forma ou de outra.
O
silêncio foi insuportável, mas tia Rosali tratou de quebrá-lo com seus gritos
histéricos.
-
NÃO!! NÃOO!!! ISSO É ABSURDO. – Ela estava muito brava. Sabia que a causa era
perdida, mas não deixaria de lutar. Estava convencida que logo o deixaríamos
para trás e agora ele iria junto conosco.
-
Cale a boca, Rosi! Isso não é decisão sua. - Disse Esme irritada. Ela amava
Jake como um filho. Mesmo com a diferença de raças, procurava não fazer
distinção e amava cozinhar para ele. Virou uma ótima cozinheira por conta
disso. Não gostava quando Rosalie o tratava como um cão sarnento. Alias ninguém
gostava, nem mesmo Emmett para dizer a verdade.
-
Como pode aceitar, Edward? Você vai permitir esse cachorro morando conosco? -
Rosali continuou irritada, protestando e esbravejando o quanto podia. Fuzilava
Jake com os olhos. Acho que se ela pudesse, teria o matado naquele momento.
-Carlisle?
Como pode? - Ela completou. Olhou para o resto da família, procurando apoio,
mas não teve nenhum. Ninguém se opôs.
-
Você está certo disso? - Perguntou Carlisle com um tom inquisitivo. Ele se mantinha
calmo como sempre, mas podia perceber a sua inquietação. Meu avô sempre
procurou fazer o melhor para a família. E naquele momento, o melhor era me
fazer feliz. Só que a isso tinha que manter perto de Jake. Mesmo que
inconcebível a relação entre raças, ele, assim como os demais, excluindo
Rosalie, passavam por cima das diferenças pelo meu bem.
-
Sim, estou certo! Eu não tenho alternativa. - Jake disse com uma voz calma e
serena.
Carlisle
pediu uns minutos para a família se reunir e discutir a questão em outro cômodo
da casa. Enquanto Jake e eu fomos para fora de casa. Ficamos nos olhando
calmamente por alguns momentos, sem precisar falar nada porque sabíamos
exatamente o que o outro estava pensando. Era estranho aquela ligação que
tínhamos. De certa forma até reconfortante para os dois.
-
Eu não vou deixar você, pirralha! - Ele riu encantadoramente. Pela primeira vez
o vi descontraído. Nem parecia o mesmo de momentos antes. O sorriso iluminava
todo o rosto e o deixava mais bonito.
Fazia meu coração se encher de calor. Naquela época Jake já era o meu
sol particular.
-
Eu também não quero ficar longe de você, Jake. Você é meu melhor amigo... É
quase o meu irmão. - Eu disse inocentemente. De certa forma era verdade. Não
havia malícia em meus pensamentos naquela época. Eu o via apenas como um irmão.
Talvez até mais. Havia uma ligação mais forte do que poderia explicar.
Ele
mexia nos meus cabelos quando Esme nos chamou:
-
Jacob! Nesse! Precisamos de vocês. – Disse com tom urgente e assentimos com a
cabeça.
Nós
entramos e ficamos ouvimos Carlisle falar sobre os planos para o nosso futuro. Tudo
parecia extremamente simples a primeira vista. Eu desconfiava que teríamos
problemas, mas não diria nada para ninguém, exceto meu pai, que podia ouvir os
meus pensamentos. Isso era outra coisa. Ficaria apenas entre nós.
-
Nós nos mudaremos para uma cidade no Canadá, que não ficaria muito distante de
Forks, Jake e Ness serão nossos novos filhos adotivos. – Disse com
naturalidade.
-
Você terá que concordar em morar conosco, já que está abrindo mão da sua vida
para ficar com a nossa família. Não permitirei que passe nenhum tipo de
necessidade e custearei seus estudos e sua estadia. Você irá para a
Universidade, junto com os outros membros da família. E terá os mesmos direitos
e deveres. – Continuou falando de forma polida. - Depois que todos terminarem
de cursar a Universidade, e Ness estiver aparentando uma adolescente de 16
anos, voltaremos para Forks e nos instalaremos novamente.
-
Ness começará na escola na High schooll de Forks e todos já terão uma
profissão, sendo capazes de passar por adultos de 25 e 30 anos, com seu próprio
negócio de fachada.
Jake
balançou a cabeça em sinal de positivo e disse: - Concordo com tudo o que vocês
quiserem, mesmo que tenha que me humilhar e se sustentado por sanguessugas, desde
que não fique longe de Ness.
-
Você tem certeza disso? - Perguntou Carlisle, olhando inquisitivamente enquanto
franzia o cenho. Ele sabia do que Jake estava abrindo mão...”O seu orgulho”. Não queria lhe impor
nada, mas não o deixaria passar privações por causa da família.
-
Absoluta!! - Ele respondeu sinceramente. Se estava fingindo, fez muito bem. Não
notei qualquer sinal de hesitação em sua voz ou expressões. Estava ciente dos
seus atos. Eu não entendia bem como alguém era capaz de tantos sacrifícios.
Mesmo assim agradecia por não permitir ficar longe dele. Acho até que foi
egoísmo meu. Sei que foi. “Mas como
pensar diferente? Sem Jake acho que morreria de solidão e de frio.”
-
Jake, Você vai abandonar a matilha? Você não pode!! - Eu falei olhando em seus
olhos. Tentei deixar o meu egocentrismo de lado. Ser altruísta como meus pais.
Acho que ele percebeu que não estava sendo tão sincera como tentava parecer. Fui
muito mimada desde que nasci e agir em pró da felicidade dos outros não era o
meu forte. Normalmente as pessoas faziam isso por mim. Não o contrario. Não era
fingimento. Eu me preocupava com ele sem a sua matilha. De verdade! Eu me
preocupava. No entanto, acho, que minhas palavras não o convenceram.
-
Eu já conversei com Sam e acertamos tudo. Eu virei para La Push nos fins de
semanas e nós ficaremos conectados quando eu estiver na forma de lobo. – Disse
da forma calma. Sabia que por dentro ele estava sangrando. Nunca havia se
afastado dos seus. Ele tinha uma escolha e obviamente eu estava em primeiro
lugar. Senti-me péssima com aquilo.
-
Você vai abandonar tudo por mim? - Eu sabia que era egoísmo da minha parte
desejar isso, mas eu queria entender os motivos dele. Só queria entender porque
era mais importante do que os seus irmãos, família e o lugar que amava.
-
Quando você nasceu... - Ele suspirou olhando para mim. Havia um brilho
diferente em seus olhos. Não consegui identificar exatamente o que era. Ele me
olhava como se fosse o mais precioso diamante.
-
Eu prometi que protegeria você de todos os perigos. Esse mundo é cheio de
criaturas estranhas vampiros e lobisomens, acho que bruxas e feiticeiros...
Além dos assassinos italianos. - Ele riu para mim de forma zombeteira. Sabia
que ele se referia aos Volturis. Ele sempre se preocupava com um possível
ataque. Quando estávamos na floresta, qualquer barulho o deixava alarmado.
-
Eu não poderia ficar tranqüilo sabendo que uma dessas criaturas poderia te
fazer mal. Eu ficaria muito preocupado e por isso prefiro manter você na minha
vista. - Ele terminou como se aquilo fosse natural.
-
Jake, Eu sinto muito por obrigá-lo a isso. – Minha mãe disse olhando
tristemente para ele. Ela sabia como seria para ele abrir mão de tudo. Ela fez
a sua escolha e sabia o que aquilo significaria. Não queria vê-lo se arrepender
por se associar sua espécime.
-
Não se angustie, Bella. Eu sempre soube que um dia isso aconteceria. - Ele
respondeu olhando para ela. Houve uma cumplicidade estranha naquele olhar. Eles
sempre faziam isso. Pareciam conversar apenas com o olhar. Não sabia o que
aquilo significava. Apenas achava estranho que meu pai não ficasse bravo com os
dois. Às vezes ele era extremamente ciumento quando se tratava de Jake.
-
Eu já te fiz tanto mal e agora... – Minha mãe não completou a frase. Acho que
estava chorando por dentro. Quis entender o que ela quis dizer com “ Eu já te fiz tanto mal” Sabia que
havia segredos entre minha mãe e Jake. Odiava aquilo. Realmente odiava. Era
possessiva em relação a ele e saber que havia uma ligação entre os dois, uma
cumplicidade que ninguém me explicava direito me deixava ciumenta. Ele a olhava
como se disse que não precisava falar mais nada. Era estranho quando fazia
isso. E ao me ver suplicante, começava a falar para que eu compreendesse o que
passava. Eu me sentia uma idiota.
-
Você sabe que eu sempre te amei, Bella. Eu nunca quis ficar longe de você. Mas
agora isso é inevitável para mim. Não há outra forma... – Ele hesitou olhando
ora para mim e ora para ela. - Eu não tenho escolha.
Eu não tenho escolha... O
que queria dizer com aquilo? Será que algum dia me explicaria essas coisas?
-
Eu sempre quis que fossemos uma família, mas não queria que você abandonasse
tudo. - Ele sussurrou angustiada.
-
Eu não estou abandonando nada. – Ele respondeu exasperado. - Estou seguindo a
minha vida!! Não se lamente por mim. - Ele ficou olhando para ela, enquanto eu
e o resto da família olhávamos para ele com pesar.
-
Ness, você toca uma música para mim? - Jake pediu quebrando aquele clima pesado.
Abriu um sorriso e fingiu que nada demais acontecia. Mas eu sabia que por
dentro ele estava chorando. Acho que todos sabiam na verdade. Ele sabia fingir
bem quando queria.
-
É claro, Sr Black. - Eu ri para ele enquanto me dirigia para o piano. Estava
com coração desolado. Mesmo assim decidi tocar a música com toda a minha alma.
Sabia que ele adorava me ouvir tocar. Era o mínimo que podia fazer diante
daquele sacrifício. Ele renunciava a vida que tinha para ficar ao meu lado.
Jurou me proteger de tudo e de todos. “Mas
quem protegeria o seu coração?” Eu queria fazer isso. Juro que queria. “Mas
como poderia dar a ele algo que se igualasse a tudo que deixava para trás?
Era um grande sacrifício para qualquer um. Até mesmo difícil de entender. Eu me
perguntava os seus motivos e apenas não conseguia encaixar as coisas. Ele dizia
querer me proteger, mas eu já estava protegida. Minha família era mais do que
capaz disso. “Então qual motivo de tanta
insistência?”
Naquela
noite eu fui dormir pensando em tudo que minha mãe e Jake falaram. Tentei
entender o significado daquelas palavras.
O que ela quis dizer? Como ela o fez sofrer? O que significava aquilo tudo? Por que ele
precisava me proteger se eu tinha uma família de 8 vampiros? Eu sou egoísta
demais a ponto de o permitir aquela loucura?Sim! Eu sou!
Algo
dentro de mim gritava para fazê-lo ver as conseqüências dos seus atos. Queria
mostrar a ele que não poderia abrir mão de sua vida por mim. Outra parte,
entretanto, dizia para continuar a ser egoísta e mimada. Afirmava que eu não
sobreviveria sem meu “Sol particular”.
Pela primeira vez na vida eu vivi um grande conflito interno. Minha mente, tão
prematura, lutava entre a razão e a emoção. No fundo eu só queria ser uma
criança, sem preocupações ou aborrecimentos. Queria manter a vida confortável
que tinha. Meu coração doía tanto, que era difícil esconder de meus pais a
minha aflição. Mesmo a minha mãe, que não podia ler mentes, via em minhas
expressões a totalidade da minha angústia.
“Como sobreviver a todas essas mudanças,
quando se é apenas uma criança crescendo rápido?”
Eu
queria obrigar o meu corpo a não crescer. Era tão desesperador viver com todos
esses conflitos. Mas um dia eu pretendia entender o que tudo
aquilo significava. Estava pensando sobre aqueles fatos quando cai no sono.
0 comentários:
Postar um comentário