quinta-feira, 31 de março de 2011

Pena de Anjo by ValentinaLB10

CAPÍTULO 10




... - Você também me faz feliz, Bella.



Uma felicidade dolorida, mas ainda assim, agradável de sentir, pensei.



- Se eu pudesse eu te beijava agora – Bella falou, me nocauteando completamente. - Acho que eu estou te amando...



- Eu acho que sempre te amei, Bella.











Ficamos nos olhando por um longo tempo. Teoricamente esta era a hora em que eu a envolveria em meus braços e lhe daria um longo beijo apaixonado...



Mas não seria assim. Bella não estava preparada para o contato físico e eu entendia isso, ainda mais depois do relato sofrido que tinha acabado de fazer. Aquele demônio tinha lhe tocado da forma mais suja e desumana possível e essa era a única referência que ela tinha da relação carnal entre um homem e uma mulher.



- Sinta-se beijada, Bella – falei, sorrindo para ela.



Ela riu sem graça.



- Esse beijo nos torna namorados? – Perguntei, me segurando para não levantar as mãos e afagar seus cabelos.



- Você teria mesmo coragem de namorar uma pessoa como eu, Edward, que não consegue ao menos tocá-lo? – Ela parecia desiludida com as próprias limitações.



- Bella, o meu amor por você é tão grande que confio na força que ele tem para transpor essas barreiras. Vamos deixar que o tempo te mostre que não há motivos para ter medo.



As palavras do suposto anjo me vieram à mente. Se o que ele disse era verdade, o que eu não acreditava muito, a história estava se repetindo. Mesmo não sendo mais anjo, eu não podia ser um homem para ela... Seria esta uma das penas que eu recebi por abdicar-me do meu emprego celeste? Seria engraçado se não fosse cruel.



- Você não existe, Edward Cullen... – Bella disse carinhosamente.



Eu existia sim, e estava completamente apaixonado por ela.



- E agora, o que a gente faz? – Perguntou, com o rosto corado. Ela nunca tinha tido um namorado apesar de já ter experimentado a crueldade do sexo violento.



- Vamos passear. É uma das coisas que os namorados fazem – falei rindo. - Hoje é minha folga, então temos o resto do dia. E você, tem algum compromisso?



- Não – Respondeu sem dar maiores detalhes.



- Quer que eu chame um taxi ou podemos ir no meu carro?



- Claro que podemos ir no seu carro mesmo. Eu confio em você, Edward.



Dei-lhe meu melhor sorriso. Era bom ouvir aquilo.



Eu não fazia a mínima idéia de onde levá-la. Para mim, estar com ela já me bastava.



Acabei levando-a ao Garfield Park, um lugar lindo e relaxante. Nós dois estávamos precisando de sossego.



Tinha sido um dia difícil, mas tudo começou a valer à pena quando ouvi Bella dizendo que estava me amando. Depois disso, nada mais poderia me fazer infeliz, a não ser... Não, eu não queria nem pensar nisso... Bella não teria mais razões para se matar, eu daria o melhor de mim para dar-lhe motivos para viver.



Já tinha ido algumas vezes ao parque para fazer salvamentos, mas estar ali com Bella deixava o lugar mais lindo ainda. Sua companhia era extremamente agradável.



- Quantos anos você tem? – Ela perguntou.



Até então não tínhamos conversado sobre nada pessoal.



- Vinte e cinco. E você? – Pelas contas que tinha feito, ela teria dezoito, mas não podia deixar transparecer que já sabia disso.



- Dezoito. Não deveria me achar muito pirralha para você? – Perguntou rindo.



Comecei a gargalhar com o seu comentário.



- Deveria, mas não acho. Você é perfeita para mim, Bella. Eu sempre soube que um dia eu encontraria a mulher da minha vida, só não imaginei que ela seria uma pirralhinha tão linda.



Ela apenas sorriu, fazendo cara de que me achava meio maluco. Não era a primeira vez que me olhava assim.



Continuamos passeando e admirando a beleza da paisagem. Às vezes comentávamos sobre algo interessante que víamos. Bella parecia uma criança, se encantando com tudo que via. Era como se parte dela tivesse se congelado nos treze anos e outra parte, oprimida pelo sofrimento, carregasse o peso e a descrença da velhice.



Num dos lugares que fomos, perto de uma pequena cachoeira, havia algumas pedras bem escorregadias devido ao lodo. Instintivamente ofereci minha mão para ajudá-la, com medo que caísse. Nossos olhos se encontraram e antes que eu a recolhesse, Bella surpreendentemente me estendeu sua mão.



Nossos dedos se entrelaçaram lentamente. Uma onda de choque percorreu todo meu corpo ao sentir sua pele macia tocar a minha.



Sua respiração ofegante mostrava o quanto estava sendo difícil para ela, mas o sorriso que se abriu em seu rosto quase fez meu coração parar.



- Vem que eu te seguro – falei, apertando sua mão entre a minha.



Atravessei as pedras como se caminhasse nas nuvens.



Não nos separamos mais. Mesmo com as palmas molhadas pelo nervosismo de ambos, aquele toque tinha um simbolismo especial, ele era o sinal da primeira vitória do nosso amor sobre os traumas de Bella. Estávamos provando que podíamos superar qualquer coisa juntos.



Deitados na grama, ainda de mãos dadas, assistimos o início do crepúsculo. Uma sensação de paz inundou minha alma. Era como se finalmente eu me sentisse completo. Bella era a parte de mim que faltava.



- Edward, eu senti aquela sensação de novo. Apertar sua mão me fez perder o medo de tudo. Foi igual quando meu anjo apertou a minha, no dia que eu fui...hã... estuprada. – Bella falou baixinho.



Suas palavras me tocaram o coração. Ainda não era hora de contar-lhe que era eu quem estava com ela naquele dia. Não sabia como reagiria. Achei melhor deixá-la acreditando que fora um anjo. Eu também já começava a acreditar neles...



- Eu sempre a protegerei, Bella...



Fomos uns dos últimos a deixar o parque. Foi difícil nos soltarmos quando chegamos ao carro.



Levei-a em casa. Era relativamente perto do meu hotel.



- Mora aqui mesmo, Bella? – Perguntei.



- Esta é minha casa sim, Edward. Não vou mais fugir de você. Deixe-me falar com meus pais primeiro, depois te apresento a eles.



- Claro, sem problemas. Quer que eu peça permissão para o seu pai para namorá-la? – Perguntei, rindo da brincadeira.



- Ele vai gostar disso, pode apostar.



- Então combinado, eu peço.



- Tchau, Edward. – Bella falou, parecendo não saber o que fazer.



- Tchau, Bella. Eu te amo. – Era tão doloroso despedir-me dela.



- Eu também te amo, Edward.



Percebi uma lágrima correndo em seu rosto.



- O que foi, meu amor? – Vê-la triste me fazia perder o chão.



- Você não merece que eu te trate assim – falou, balançando a cabeça negativamente.



- Assim como, Bella?



- Como se você fosse um monstro, como ele... Mas é que eu tenho tanto medo de reviver aquelas sensações terríveis que vivi naquele dia. Eu senti tanta dor! – Ela agora chorava copiosamente.



- Bella, pelo amor de Deus, não chore, amor. Eu não estou chateado com essa situação. Eu entendo suas fobias. Vamos dar tempo ao tempo. No momento certo você vai se sentir à vontade para nos beijarmos, nos tocarmos, enfim, para fazermos o que qualquer casal de namorados fazem.



- E... e se vo... você se cansar de esperar? – Ela perguntou desesperada, mal conseguindo falar.



- Eu te esperei por toda uma vida, Bella. Agora que te encontrei, não há nada que me faça desistir de você. Minha existência não tem mais sentido se você não estiver ao meu lado.



Segurei sua mão firmemente. Era a única coisa que podia fazer.



Percebi que Bella foi se acalmando.



- Promete que nunca vai me deixar, Bella? – Agora o inseguro era eu.



Eu tinha muito mais medo de perdê-la do que ela imaginava.



- Prometo, Edward. A menos que...



Bella parou de falar e abaixou o olhar.



- A menos que...? – Perguntei, sentindo o ar me faltar.



- Esta é uma conversa que ainda não estou pronta para termos, Edward.



- Está bem, quando se sentir à vontade, a gente fala sobre isso. Mas quero que saiba que estou aqui para te ajudar. Conte sempre comigo, Bella.



Fechei os olhos para tentar esconder o pavor que me dominou. Por baixo de toda aquela alegria que Bella vinha demonstrando ainda ardia um desejo de acabar com a dor que a acompanhava. A morte sempre seria seu “Plano B”...



Ela ficou um tempo sem dizer nada, olhando para baixo. De repente respirou fundo e se virou para mim. Tinha um brilho diferente em seus olhos, uma expressão determinada.



- Eu quero tentar uma coisa, Edward. – disse baixinho, aproximando seu rosto do meu.



Senti um frio percorrer minha espinha. Nem me passava pela cabeça que ela teria coragem de fazer o que eu estava achando que faria.



- Fique bem parado – sussurrou, aproximando seus lábios dos meus.



Eu simplesmente parei de respirar. Estava acontecendo algo inacreditável.



Comecei a me mover em sua direção.



- Não se mova – Bella pediu, já me fazendo sentir a umidade de seu hálito em minha pele.



Então seus lábios tocaram levemente os meus.



Eu nunca tinha sentido uma emoção tão forte quanto aquela. Devia aproximar-se à sensação de voar.



Bella se afastou um pouquinho e, me olhando nos olhos, voltou a pousar sua boca sobre a minha, pressionando-a calmamente com a sua. Seus lábios estavam molhados e eram extremamente macios.



Foi um beijo ingênuo, mas cheio de doçura. Apenas o encontro de nossos lábios, num infinito espaço de segundos.



Fiquei imóvel. Não porque ela tinha me pedido, mas pela simples incapacidade de comandar meus músculos.



Ela se afastou. Estava tremendo. Apesar de já ser noite, dava para perceber o rubor em sua face.



- “Lembranças boas para substituir as lembranças ruins.” Você tinha razão, Edward.



- Eu nem sei o que dizer, Bella, estou completamente surpreendido. Só sei que me sinto o homem mais feliz do mundo.



Ela sorriu e outra lágrima caiu de seus olhos. Suspeitava que essa fosse de felicidade.



- Boa noite, Edward.



- Boa noite, Bella. Vou sonhar com esse beijo.



Ela entrou em casa e eu fiquei no carro, procurando forças para sair dali.



Os lábios que tinham acabado de tocar os meus não estavam mais frios e sem vida como da primeira vez que os senti. Eles agora traziam consigo o poder de me enlouquecer.

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