terça-feira, 24 de maio de 2011

Crisalida 20 By ValentinaLB

CAPÍTULO 20 – “LELA SERÁ FORTE, PAPAI!”

POV BELLA

Queria poder chorar, mas não conseguia. Algo dentro de mim tinha sido desligado. Talvez eu não tivesse me livrado de todas as minhas armas de autodefesa, pois parecia que tinha me restado o botão de Stand by. Era assim que me sentia, em suspensão.
Entrei em casa desejando que ninguém me visse, mas realmente não era meu dia de sorte.
- Oi, querida, conseguiu arrumar o apartamento do jeito que queria? – Berta perguntou.
Quantas vezes se pode ter uma experiência de “quase morte” no mesmo dia? Não acreditava que minha mãe tinha contado pra ela a nossa conversa da noite anterior. Olhei para Renee perplexa.  Ela fez uma expressão de pesar, se desculpando. Entre ela e Berta não haviam segredos. Era como se as duas fossem sócias também na minha criação.
- O apartamento estava ocupado, Berta. – Falei cinicamente.
Se minha vida era um livro escancarado, então o capítulo “Edward Safado” seria lido por todos também.
- Como assim? – Minha mãe perguntou.
- Edward estava lá com uma prostituta, transando no sofá da sala. – Não sei onde achei forças para repetir aquilo tão naturalmente.
Nem esperei para ver a cara de susto delas, virei as costas e subi para meu quarto.
Nem entrei no quarto direito e as duas já estavam batendo na porta.
- Bella, que história é essa? – Berta parecia estarrecida.
Minha mãe me olhava estranhamente, desconfiando da minha calma.
- É isso mesmo que ouviu! Quando abri a porta da sala, dei de cara com seu querido neto trepando... Desculpe a palavra, Berta, mas é a única que conheço para descrever o que vi. Ainda por cima, com uma prostituta!
- Não acredito que Edward fez isso! Eu mato aquele menino. – Berta estava fora de si.
- Posso te garantir que ele não é mais um menino, Berta. Ele já é beeeemmm crescidinho, em todos os sentidos, se é que me entende – falei sarcasticamente. – Agora, se me dão licença, acho que mereço um tempo sozinha.
- Cla... claro, querida. - Berta esta bastante constrangida com a atitude de Edward.
- Filha, você está bem? – Minha mãe estava chocada. Não sei se com o que acabara de saber, ou se com minha aparente tranqüilidade.
- Não mãe, eu não estou bem. - Fui honesta
Fechei a porta novamente desabei na cama. Fiquei olhando para o teto, esperando que a qualquer momento eu voltasse ao normal e começasse a gritar, chorar, xingar... Nada...
“Nada!!” Esta era a palavra que melhor me definia.
Comecei a pensar nas possibilidades que me restavam. Não poderia ficar deitada, olhando para o teto para sempre, oca por dentro. Uma hora eu teria de sair dali, e precisava achar rapidamente uma forma de fazer isso.
Procurei, escondida em alguma espécie de “lixeira”interna, a minha antiga crisálida, que eu romanticamente havia “excluído” da minha vida. Ela me parecia um lugar tão confortável para estar agora... Mas não a encontrei. Eu não fui precavida,  simplesmente a destruí por completo, acreditando que ao lado de Edward eu estaria segura para sempre. Ele tinha me feito acreditar que eu nunca mais precisaria dela, mas era tarde demais para me arrepender. Tinha a trocado por minhas asas e agora tudo o que desejava era nunca ter tido-as. Elas me fizeram voar alto, me levaram a lugares lindos e desconhecidos, mas também tornaram minha queda mais fatal.
Não, meu casulo definitivamente esta não era mais uma possibilidade. Tinha de descobrir outra forma de me reerguer, alguma força oculta que me fizesse sair do limbo onde me encontrava.
Comecei a sentir meus olhos pesados.
“A garotinha, que aparentava não ter mais de três anos, parecia assustada. Com muito esforço e pouca ajuda, conseguiu subir na imponente cama e sentar-se ao lado da figura esquálida do homem que se encontrava deitado ali. Seus olhos eram tristes e cansados. Ele segurou suas mãozinhas e uma lágrima rolou em sua face.
- O dodói está doendo, papai?
- Não Lela, o papai está bem.
- O que quer com Lela?
Seus dedos tiraram alguns cachos de cabelos que tampavam o rosto angelical da garotinha, acariciando-lhe carinhosamente a face.
- O papai vai fazer uma viagem muito longa, Lela .
- Leva Lela com você. Prometo que Lela fica quietinha.
Mais lágrimas rolaram dos olhos do homem pálido.
- O papai não pode te levar. Ele ficará longe por muito tempo. Você vai crescer e não poderei estar ao seu lado para te proteger, então quero que me prometa que será uma menina forte, que não deixará nada nem ninguém te atingir nem fazê-la sofrer. Seja corajosa, Lela...
A porta se abriu e uma mulher de branco entrou no quarto, interrompendo a conversa dos dois.
A garotinha foi retirada da cama, não antes de fixar seus olhinhos cor de chocolate nos do pai e dizer:
- Lela será forte, papai. Ninguém encontrará Lela no seu esconderijo...
Acordei com o coração acelerado. Quem eram aqueles? Lela não me parecia um nome estranho. Já tinha ouvido-o em algum lugar.
Já passavam das cinco da tarde. A dor em meu peito e a dificuldade de respirar me lembrou o que tinha acontecido.
Tomei um banho e desci para comer alguma coisa. Meu estômago estava completamente vazio e doía.
Minha mãe estava na sala.
- Está melhor, filha? – Perguntou preocupada.
Não respondi. Estava intrigada com o sonho.
- Mãe, conhecemos alguém chamada Lela?
Ela ficou branca e se levantou rapidamente do sofá.
- Você se lembrou, Bella? Impossível, era tão pequena!
- Me lembrei do que, mãe? Foi só um sonho que eu tive, de uma garotinha que se chamava Lela.
- Lela era como seu pai te chamava, querida. Depois que ele morreu, quando você tinha três anos, nunca mais se chamou de Lela, como costumava fazer, e nem deixava que a chamássemos também. Achei que não se lembrava de nada desta época.
- E não me lembro mesmo, mãe. Sonhei com um homem muito magro e doente e uma garotinha que se chamava Lela, mas ele não se parecia com meu pai. Não era como nas fotos que tenho.
- Seu pai ficou muito debilitado antes de morrer, Bella. Ele emagreceu mais de vinte quilos. O câncer acabou com ele.
Eu não tinha nenhuma lembrança do meu pai vivo, mas aquele sonho não saía da minha cabeça, tinha sido tão real. A garotinha, que parecia ser eu, prometia ao pai à morte que seria forte. Se Lela era eu, então eu tinha uma promessa a cumprir...
Comi e fui para o estúdio dançar.
Aproveitei para repassar em minha mente tudo o que tinha visto e conversado no apartamento de Edward.
Flashes da cena do sofá invadiam minha cabeça. Aquela moça tinha tido muito mais de Edward num único momento, do que eu em meses. Eles eram um só naquele instante. Tinham o mesmo objetivo, seguiam para o mesmo lado. Pareciam tão certos juntos...
Edward tinha pedido perdão e dito que me amava. Não acho que ele estava mentindo, mas infelizmente só isso não bastava. Edward precisava também me aceitar e esse era o problema.
Ele queria de mim mais do que eu podia dar, mas isso agora não tinha mais importância... Tudo tinha acabado. Eu não o perdoaria nunca por ter feito aquilo comigo, por não ter me esperado. Edward pôs o sexo na frente do nosso amor e isso era inaceitável. Por mais que doesse, eu teria de esquecê-lo. Eu seria forte o bastante para seguir em frente, de cabeça erguida.
“Lela será forte, papai!!”
Eu seria sim...

0 comentários:

Postar um comentário