quinta-feira, 7 de julho de 2011

Sol da minha vida4


Despedidas

No dia seguinte acordei cedo e bastante eufórica para a minha caçada com o Jake. Tomei banho apressadamente, escolhi uma calça jeans e um suéter escuro, penteei os cabelos, escovei os dentes e desci as escadas correndo.
Queria que aquela caçada fosse perfeita, afinal seria a nossa última na Península Olímpica. Depois disso, tudo seria diferente para nós. Estaríamos em uma nova cidade, morando em uma nova casa, convivendo com os conflitos... Pelo menos tentando.

Queria registrar tudo o que pudesse a respeito daquele lugar que amava. O cheiro das árvores, dos pequenos animais, da terra molhada, dá água salgada do mar, a brisa suave do vento ao entardecer, o som maravilhoso da cachoeira que descia furiosa sobre as pedras... Guardar todas as recordações e sensações que ele me fazia sentia era algo muito precioso para mim. Sabia o quão difícil seria não poder correr por aquelas terras. Não visitar os meus lugares favoritos e encontrar as pessoas de quem gostava. Já me sentia saudosa de tudo aquilo e meus olhos ficavam marejados d’água só de pensar no tempo que ficaria longe de Forks e La Push.

-Bom dia, mãe! - Disse para ela ainda no topo da escada.

-Bom dia querida! – Ela respondeu com um enorme sorriso. Era maravilhoso ver aquela expressão de felicidade em seu rosto. Ao menos ela tentava se mostrar feliz. No fundo eu sabia o quanto aquilo era difícil para ela. Preferi não comentar o assunto. Faria tudo para que aquela manhã fosse maravilhosa para todos nós. Não ficaria chorando antes da partida. Só aproveitaria o meu dia.

- Está pronta para a caçada? – Ela me perguntou.

- Estou! O Jake já chegou? -  Perguntei sem disfarçar a minha ansiedade. Estava acostumada a encontrá-lo sempre que acordava. Mas dadas as circunstâncias, ele devia estar arrumando as coisas para a partida e se despedindo dos seus.

-Ainda não! Enquanto isso vá tomar café. – Ela respondeu enquanto eu descia as escadas. Deu um beijo doce em meu rosto. Sentia o toque frio de sua pele em minha face.

- Mãe! Eu vou caçar e não quero comida humana. - Resmunguei fazendo uma careta. Sabia que ela não me deixaria sair sem comer ou beber nada. Meus pais faziam questão de que eu me alimentasse de comida humana mesmo antes de uma caçada. Apesar de saberem que aquele tipo de comida não me apetecia nem um pouco. Era horrível comê-las e fingir que gostava. Quase nunca conseguia convencer ninguém de que estava gostando da coisa gosmenta e insossa. Para mim era uma verdadeira tortura, mas eles queriam que minha natureza humana prevalecesse sobre a vampiresca.

-Só um pouco! Você vai precisar de energia, mocinha. – Disse de forma exigente. A expressão em seu rosto não deixava dúvida que aquilo era uma ordem. Não aceitaria rebeldia quanto aquilo. Mesmo que quisesse debater sobre o assunto, que era algo que normalmente costumava fazer, aquilo não estava em discussão. E por não querer atrasar a caçada, resolvi me dar por vencida.

Antes mesmo de chegar já podia ouvir as conversas. Vampiros costumam falar baixinho. Não há a necessidade de falar alto devido a super audição. E eu, com os dons recebidos dos meus pais, podia ouvir-los muito bem qualquer mesmo de longe. Assim ouvi meu pai conversando com Tanya, Kate, Carmem e os demais.

- Quando vocês vão? - Perguntou Tanya com tom de curiosidade.

- Amanhã. - Ele respondeu.
- Esse cachorro vai com vocês? - Dessa vez foi Carmem tentando entender o sentido disso daquilo. Sua voz parecia irritada ao falar. Certamente não tinha noção da ligação de Jake com a minha família. Algo, ao meu ver, até compreensível, apesar de não justificar a forma arrogante e depreciativa como o mencionou. Aquilo me fez sentir muita raiva. Tive que me controlar naquele momento.

- Sim, ele vai. – Meu pai respondeu com tom casual. Ele provavelmente estava ouvindo os pensamentos de todos e preferiu não advertir ninguém sobre a forma como se dirigiam a Jake. Sempre foi muito diplomático e usuária essa capacidade para não deixar ocorrer nenhum conflito com os convidados.

- Isso é no mínimo estranho, Edward! Vocês vão morar com um lobisomem? - Kate criticou.

- Não! Ele que vai morar conosco. - Ele respondeu rindo. – É “amigo” da família e não existe nada estranho nisso. – Continuou cordial.

- Você já viu como ela olha para ele, Edward? Viu como ela se colocou na posição de fêmea quando atacou àquela garota? - Tanya questionou. Eu parei na porta e fiquei em silêncio ouvindo as conversas.

- Ela é só uma criança e não tem maldade na cabeça. E ele não pensa nela dessa forma, pois eu já teria o matado. - Ele respondeu as críticas dela ponderando as palavras. Sabia que eu estava ouvindo.

- Ele vai morar conosco, mas o trato é de que faça a faculdade. Assim ele não terá muito tempo livre para ficar com ela. Os dois se verão apenas algumas horas todos os dias. - Um frio percorreu a minha espinha com uma parte da conversa!

Ele mataria Jake? Por que? Nós não ficaríamos juntos. O que tudo aquilo significava?”

De repente Jake chegou e me deu um beijo na testa, tirando a minha concentração da conversa na cozinha. Eu sempre me sentia confortável nos braços de Jake e os beijos carinhosos me faziam sentir maravilhosa. Minhas bochechas começaram queimar. Sabia que deveriam estar vermelhas naquele momento.

Ainda fiquei parada uns momentos, pensando naquilo.

-Vamos, Ness? - Jake chamou.

-Vamos! - Respondi.

-Esperem por mim! – Minha mãe gritou do topo da escada. Ela foi ao quarto fazer algo quando desci e estava voltando. Fiquei aliviada por não tocar no assunto da comida novamente. Quando entramos na cozinha, ele cumprimentou todos e depois me perguntou?

- O que você quer caçar hoje?

-Leão da montanha! - Exclamei docemente.

-Você é igualzinha ao seu pai! - Riu para mim enquanto meu pai olhava para ele zangado com alguma coisa que ele havia pensado. Jake adorava irritar o meu “pobre” pai e se fazer de inocente. Sabia que às vezes era debochado e insuportável. Pensava “coisas” que deixavam meu pai aborrecido e às vezes o faziam perder a cabeça.

Minha mãe se lembrou do meu café e me obrigou a comer algo antes de sair. Pensei que me safaria daquela, mas não teve jeito. Depois do meu “breve” desjejum saímos com ela logo atrás de nós.

O nosso dia de caça foi muito divertido. Como sempre fizemos a nossa velha competição. Para mim o ato da caçada era mais do que necessidade de alimentação. Meu amigo sempre fez com que fosse um jogo divertido e estimulante. Minha mãe achava graça quando eu trapaceava e Jake agia como uma criança disputando comigo. Ele sempre me deixava ganhar, apesar de disfarçar. Hoje sei que fazia isso propositalmente, mas na época era maravilhosa a sensação de vitória que só ele podia me proporcionar.

Nós corremos durante horas, procurando meu apetitoso leão da montanha. Quando o achamos, disputamos por ele e Jake me deixou ganhar e ficar com o prêmio, contentando-se com alguns herbívoros. Era gloriosa a disputa por alimento e o prêmio final mesmo que não tivesse muita sede naquele momento.

Quando voltamos para casa, meu pai o chamou para conversar em particular. Os dois saíram para a floresta, para ficarem a uma distância inaudível, acredito eu, e terem algum tempo a sós. A minha curiosidade era enorme. Daria tudo para ser uma mosquinha para ouvir o que os dois falavam. Pelos olhares do meu pai e de Jake, sabia que nenhum deles tocaria no assunto comigo quando voltassem. Tive que ficar curiosa, pensando no que teriam falado. Fazendo várias conjecturas que não me levaram a nada. Só descobri o teor daquela conversa anos depois.

Depois disso Jake se despediu de mim e foi La Push. Ele ainda tinha que se despedir do seu pai, dos seus amigos, e da irmã. Fiquei imaginando como tudo isso seria difícil para ele. Ainda me sentia muito mal por fazer isso com sua vida. Ao mesmo tempo, eu era egoísta demais para pedir que ele ficasse. Não agüentaria partir sem ele por mais que tivesse a exata noção do meu egoísmo.

Eu não queria e não podia ficar sem ele. Tudo o que vivemos, todas as nossas conversas, as nossas competições, os nossos momentos eram o suficientes para me torna a pessoa mais egocêntrica do mundo quando se tratava em ficar ao lado de Jake. O meu melhor amigo... O meu irmão. Simplesmente não podia me dar ao luxo de partir sem ele.

-Pai? - Chamei. -Posso ir com o Jake?  - Pedi manhosa.

-Pode! - Ele assentiu.

-Até logo então. - Respondi!

-Jake! Jake! Espere! E vou com você!  - Corri para alcançá-lo saltitante. Também queria me despedir dos meus amigos e estar com naquele momento. Sabia o quão difícil seria dizer “Até breve”.


Subimos na moto do Jake e ele dirigiu rapidamente para La Push. Enquanto passávamos pela estrada, vendo as casas conhecidas, as pessoas e a paisagem tão familiar, eu senti saudade daquele lugar que fez parte da minha curta vida. Meu coração apertou e meus olhos encheram de lágrimas. Tive que me segurar para não chorar... Não ainda. Não podia deixá-lo me ver naquele estado. Precisava ser forte. Sabia disso.

Quando chegamos à pequena casa de Jake, todos já estavam esperando para a despedida de seu amigo, irmão e líder. Foram muitos os abraços, as lamentações e os seus olhos cheios lágrimas vendo a concretização da partida na sua frente. Eu estava como coração cortado pela sua tristeza, mas ao mesmo tempo tinha medo que ele desistisse de ir comigo. Eu realmente era egoísta!! Eu pensei enquanto olhava para as expressões tristes e o pranto nos seus olhos. Ver seu pai arrasado, a irmã com olhar perdido e os amigos desanimados com a perda do líder. Eu pude presenciar tudo em primeira mão. A dor dele era a minha dor. Simplesmente não tinha como explicar que meu coração sentia tão quebrado quanto o dele. Ali me dei conta que não havia interferido não apenas na vida de Jake, mas na de todos. Sempre carregaria aquele peso na minha consciência... Sempre.

Havia algo mais que a tristeza em seus olhos negros. Uma esperança, ou  felicidade,  que eu não conseguia entender.

Como ele podia está feliz? Que esperança era aquela em seu rosto ao olhar para mim? Como uma pessoa podia se sentir triste e ao mesmo tempo feliz e esperançosa?”

Jake pegou a sua mochila, colocou-a nas costas e me chamou:

-Vamos, Ness! - O seu olhar cálido e carinhoso estava focado em mim. O brilho nos seus olhos eram intensos demais naquele momento. Parecia que estava vendo uma verdadeira jóia. Ali, mesmo sem entender, tive a certeza de que não houve nenhum tipo de hesitação. Ele fazia tudo consciente e não tinha dúvida quanto a seguir a minha família. Era mais do que dedicação.

“O que aquilo significava?”

- Os outros estão nos esperando e temos que nos apressar. - Segurou delicadamente a minha mão e me puxou para fora com ele. Eu já havia abraçado e beijado todos, mas queria continuar com eles. Queria ver o riso de Seth e o jeito engraçado como ele me abraçava e me jogava para o ar. Acho que de todos ali era o que mais sentiria saudade. Jake não me deixou mais tempo, para pensar no que estávamos deixando para trás. Provavelmente sabia que eu também estava rasgando por dentro. Queria evitar mais dor.

Ele olhou para o pai e seus irmão e disse:

- Eu venho todo fim de semana. – Sua voz rouca era praticamente um sussurro naquele momento. - Seis anos passam rápido... Cuidem-se. – Virou-se, colocou-me na moto, depois subiu e deu partida.
Fomos para a minha casa e no caminho ouvia a sua respiração forte e frenética. O seu coração batia forte e quando um soluço saiu da sua boca, eu tive certeza... Estava chorando.

Eu senti remorso por fazê-lo passar por isso. Eu o queria perto de mim, mas não queria que ele sofresse. Isso me fazia sofrer também.

“O que eu poderia fazer? Será que eu poderia dizer para ele ficar?”   Pensava várias coisas ao mesmo tempo.

- Jake, você quer mesmo ir conosco? Tem certeza? Você... Você... – Já estava chorando também quando ele parou a moto no acostamento. Não queria mais vê-lo sofrer. Não suportava mais ver e sentir a sua dor. Sentia meu coração sangrando por dentro a cada momento.– Pode me visitar...

Ele desceu da moto e se virou para mim. O seu abraço foi muito forte naquele momento e o seu calor conseguir me confortar. Ao mesmo um pouco.

- Pequena, essa é a única certeza que tenho. Eu irei com vocês até o final do mundo. – Beijou o topo da minha cabeça e ficamos abraçados até eu conseguir parar de chorar.

[...]

Chegamos a casa e todos já estavam prontos para ir, em seus carros nos esperando para ir embora. Minha mãe abraçou Jake e perguntou enquanto se olhavam por alguns momentos:

- Você tem certeza? – Acho que se ela pudesse estaria chorando também. Mas como todos sabem, vampiros não podem chorar.

-Eu nunca tive tanta certeza de algo na minha vida. Está ao lado de vocês é tudo que eu preciso para viver. - Ele sorriu para ela. Os dois trocaram um olhar de cumplicidade. Os dois eram confidentes, amigos, parceiros e se consideravam dois irmão. Eu me lembro que eles tinham uma sintonia tão grande, que seus pensamentos pareciam conectados muitas das vezes. Eram muito diferentes em algumas coisas, mas muito parecidos em outras. Fizeram novamente a coisas que eu odiava. Não suportava o jeito que tinham de conversar com os olhos. Queria saber do que se tratava. Nenhum dos dois me contaria certamente.

Meu pai às vezes parecia ter ciúme dessa cumplicidade. Entretanto entendia o sentimento fraterno que unia os dois. Depois que eu nasci os laços ficaram mais apertados. Toda família dizia para mim, quando questionava esse estranho relacionamento, que apenas se sentiam irmãos. Mas eu sabia que havia algo mais... Esse foi o segredo que guardaram grande parte da minha vida. Só hoje entendo o real motivo dessa relação.

Uma vez eu ouvi minha mãe dizer que ele a salvou de todas as formas que uma pessoa poderia fazer. Que ele tinha sido o seu porto seguro, o seu sol, o seu protetor em um tempo que vivia numa estranha escuridão. Queria entender o significado daquilo, mas Jake prometeu me explicar quando eu tivesse maturidade para entender. Sempre a coisa da idade. Ninguém me considerava adulta para contar os segredos. Esperavam que eu crescesse para revelar os mistérios que envolviam a família e principalmente a relação de Jake com minha mãe. Aquilo me irritava bastante.

Eu às vezes sentia ciúmes da cumplicidade dos dois. Por ele não ter esse tipo de relação comigo. Queria que a nossa amizade fosse assim. Perfeita. Queria me conectar com ele, como eles pareciam conectados de alguma forma. Conversar com o olhar, entender os gestos sem precisar dizer nada. Ela era a minha mãe e nutria uma adoração tão profunda pelo meu pai. Era absurdo pensar nos dois de outra forma. Não imaginava minha mãe e Jake tendo uma relação romântica, mas era estranha a forma como se comportavam em alguns momentos. A única explicação que encontrava para os meus sentimentos era ciúme... Só não sabia se era mais dela do que de.


Depois daquela estranha conversa e olhares significativos, todos foram para seu veículo e partimos para a nossa nova vida.

A única coisa que pedia e esperava do futuro, era que pudesse ser feliz no novo lar onde recomeçaríamos tudo. A certeza que isso poderia acontecer, era o meu melhor amigo que seguiria conosco, abrindo mão da sua própria vida em pró da minha felicidade.

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