quinta-feira, 15 de março de 2012

Faz de conta que foi assim11

CAPÍTULO 10 – Meu passado foi ontem




VOCÊ NÃO SABE
(Roberto e Erasmo)
Você não sabe quanta coisa eu faria
Além do que já fiz
Você não sabe até onde eu chegaria
Pra te fazer feliz
Eu chegaria
Onde só chegam os pensamentos
Encontraria uma palavra que não existe
Pra te dizer nesse meu verso quase triste
Como é grande o meu amor
Você não sabe que os anseios do seu coração
São muito mais pra mim
Do que as razões que eu tenha
Pra dizer que não
E eu sempre digo sim
E ainda que a realidade me limite
A fantasia dos meus sonhos me permite
Que eu faça mais do que as loucuras
Que já fiz pra te fazer feliz
Você só sabe
Que eu te amo tanto
Mas na verdade
Meu amor não sabe o quanto
E se soubesse iria compreender
Razões que só quem ama assim pode entender
Você não sabe quanta coisa eu faria
Por um sorriso seu
Você não sabe
Até onde chegaria
Amor igual ao meu
Mas se preciso for
Eu faço muito mais
Mesmo que eu sofra
Ainda assim eu sou capaz
De muito mais
Do que as loucuras que já fiz
Pra te fazer feliz
"A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer."
(Mario Quintana)


Assim que terminou o café, Bella subiu para descansar. Suas pernas ainda doíam muito.

Tomou um banho e deitou-se, abrindo a persiana para ficar adimirando o mar.

Algum tempo depois Edward entrou no quarto. Tinha ligado para o Dr. Schneider, em New York, pois estava preocupado com as dores de Bella. O médico o acalmou e orientou-o lhe dar apenas um relaxante muscular, algumas bananas e maneirar na distância das caminhadas.

– Bella, tome este remédio, seu médico disse que irá se sentir melhor – falou, passando-lhe o comprimido que a farmácia acabara de entregar e um copo de vitamina rica em potásssio.

– Edward, não precisava ter ligado pra ele. É só uma dor na perna. Não fique preocupado.

– É claro que eu me preocupo. Você acabou de sair do hospital, amor. Eu falei que ia cuidar de você, não falei?

Edward afagou-lhe os cabelos, recebendo em troca um sorriso de agradecimento.

– Posso ficar aqui com você?

Bella olhou pra ele e sorriu novamente, consentindo.

– Então vou tomar um banho para tirar a areia do corpo e já volto. 

Após uns dez minutos, Edward saiu do banheiro usando apenas uma toalha enrolada na cintura.

O sangue fluiu para o rosto de Bella imediatamente quando se deparou com aquela visão quase etérea que desfilava pelo quarto.

As gotas de água que escorriam dos cabelos molhados desciam pelas costas e peito perfeitamentes tonificados de seu esposo. Não tinha nada ali que não fosse perfeito. A toalha escondia uma parte relevante daquela estátua viva do deus grego, mas pelo volume que se pronunciava, não era difícil imaginar o que tinha por baixo.

Bella percebeu que não respirava e teve de puxar o ar com toda força para recuperar os sentidos. Desviou o olhar, notando que não tinha sido muito discreta.

Edward sabia que estava forçando uma intimidade que ainda não tinham, se mostrando daquela forma, mas queria ver a reação de Bella... E viu.

Ele estava mais vermelha que um tomate e sequer respirava. Dava pra ver que ver homens semi-nus não era tão natural para ela como devia ser para uma mulher de vinte e cinco anos. Edward achou bonitinho a sua timidez.

Fingiu que não notou nada e entrou no closet, indo para longe do olhar envergonhado de Bella. Já saiu de lá devidamente vestido.

Bella se afastou e Edward deitou ao seu lado. Seu coração ainda batia tão alto que ela temeu que ele pudesse ouvir.

– O remédio já começou a fazer efeito?

– Acho que sim. – No fundo Bella achava que não tinha sido bem o comprimido que a tinha curado, mas não admitiria isso nem sob tortura. Invejou a naturalidade de Edward. Ele agia normalmente depois do espetáculo.

Passaram a maior parte da manhã conversando. Muitas perguntas foram feitas e respondidas. Bella conheceu mais um pouco de sua história.

Edward foi fiel no que se referia à sua infância na mansão de Londres. Só omitiu o fato de tê-la deixado para trás depois de terem planejado fugir para a América. Na nova versão ele veio primeiro e depois ela, quando já era maior de idade. Contou que estudaram em faculdades diferentes e só depois se casaram.
Bella sentiu-se estranha por não sofrer ao saber da morte da mãe como deveria. Era como se Edward tivesse lhe contando a vida de outra pessoa. Seus sentimentos não condiziam com os fatos ocorridos, estavam desconectados.

– Edward, eu não quero mais saber de nada. Ainda não estou pronta para conhecer esta Isabella que nasceu na Inglaterra. Eu sou outra pessoa agora. Meu passado foi ontem... De que me adianta saber isso tudo?

– Que bom que pensa assim, Bella. Também acho que deve se preocupar apenas com o presente; viver o “agora”!!!

Edward a puxou para junto de si e seus olhos se encontraram. Não era difícil enxergar que eles também refletiam muitas dúvidas.

Bella se perguntava quem era aquele homem que mexia tanto com seus sentidos. Edward tentava decifrar o que aquelas orbes verdes diziam com aquele brilho que as faziam reluzir. Seria amor? Desejo? Medo?
Enquantos seus olhos buscavam respostas, suas bocas se procuravam. E não demorou muito para que seus lábios se encontrassem.
 
– Bella, - Edward sussurrou – eu acho que vou te beijar. 

– Eu também acho... – Ela respondeu de uma forma quase inaudível.

Dez anos de espera se concentraram na emoção e intensidade daquele beijo. Edward sentiu o gosto doce da saliva de Bella confundir-se com a sua quando suas línguas se uniram. Mesmo assim manteve o beijo calmo. Queria sentir cada segundo daquele toque, cada gota daquele gosto.

Sua mão acariciava o rosto de Bella numa espécie de veneração. Sentiu uma mão delicada afagar-lhe os cabelos, enquantos suas bocas se conheciam. 

Foi tão perfeito aquele momento que Edward chegou a acreditar que seriam felizes pra sempre.

Bella fechou os olhos e se entregou de corpo e alma aos lábios que a sugavam. Era inegável que aquele ato estava repleto de amor. Seu marido a amava perdidamente, e estava provando isso, pensou.

Vários selinhos encerraram aquela demosntração explícita de afeto.

– Eu te amo, Bella, e essa verdade é inquestionável. Não duvide nunca disso, meu amor. – Edward desabafou quando se afastaram, numa espécie de defesa prévia.

– Eu sei, Edward... Eu sinto.

O medo voltou de forma arrebatadora ao peito de Edward. Não existia mais a mínima possibilidade de sobreviver longe daquela mulher. Acabara de se tornar cativo para sempre daquela felicidade. Morreria se tudo isso fosse destruído. 

Bella se acomodou em seus braços e dormiu. A mistura do relaxante muscular com os outros remédios que já tomava virou uma espécie de sonífero.


...”Se lembra quando a gente
chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber, que o pra sempre,
sempre acaba”...
 

Edward almoçou sozinho. Não teve coragem de acordá-la.

Recebeu um telefonema de seu grande amigo.

– E aí, estou interrompendo algo? – Emmett perguntou, brincando maliciosamente Edward riu.

– Ainda não, mas depois do beijo de hoje acho que não vai demorar.

– Vocês se beijaram? Ah, Ed, conta tudo, cara.

– Eu sou o homem mais feliz do mundo, Emm. Bella é a garota mais linda, meiga e doce que já vi. Estar ao seu lado vai além de um sonho, é simplesmente mágico. Eu não sei se o que nos une é carinho ou gratidão, mas ela retribuiu o beijo, cara... Retribuiu!!!! 

– Ed, não quero ser estraga prazeres, mas mantenha pelo menos um pé no chão, amigo. 

– Não, Emmett, eu vou me jogar de cabeça nesta fantasia. Eu sei que ela vai acabar um dia e eu também sei que neste dia eu não terei mais razão pra viver, então tudo o que me resta são esses dias junto dela e vou vivê-los intensamente.

– Até esse dia chegar vamos dar um jeito de tudo se acertar, cara. Vocês merecem.

– Por que você, Jasper e Alice não vêm nos visitar? Bella está precisando de uma amiga e Alice se predispôs a ajudar. – Edward convidou.

– Boa idéia, Ed. Vou falar com eles e passaremos o final de semana aí com vocês. Se tiver algum problema eu te ligo.

– Estaremos esperando.

Edward desligou o telefone feliz com a possibilidade da visita dos amigos. Alice, esposa de Jasper, era um amor de pessoa e seria uma ótima companhia para Bella, pois conhecia toda a história e torcia muito por eles.

Por volta das três da tarde Bella acordou. Um par de olhos verdes a fitava.

– Oi!

– Oi! Que horas são? Parece que eu dormi por dias.

– São três da tarde, dorminhoca. A dor passou? Está com fome?

– Sim para a primeira e muito sim para a segunda. – Bella respondeu rindo.

Edward gargalhou com sua expontaneidade. Achava-a encantadora.

– Então vou buscar seu almoço. A Cornélia fez batatas fritas de novo. – Falou rindo.

– Pode deixar que eu como lá na cozinha. Vou descer com você.

Bella sentia o estômago nas costas, de tanta fome. 

A comida de Cornélia estava deliciosa.

– Para onde vai tanta batata? – Edward perguntou intrigado. – Você é tão pequenininha!

– Tô ficando barriguda por causa disso.

– Tá nada. Você é linda, Bella. Tem o corpo perfeito e sua barriga está lisinha, sem nenhuma gordurinha.

– Obrigada! Hum... Você deve conhecer meu corpo melhor que eu. Eu me conheço a apenas dois dias.– Ela falou, rindo sem graça.

“Quem me dera!”, pensou Edward.

– Faz sentido – respondeu evazivamente.

– Convidei meus sócios para nos visitarem no final de semana. Eles eram nossos amigos. Você se dava muito bem com a esposa de Jasper. Algum problema?

– Não, vai ser ótimo.

Bella tentou não deixar transparecer sua ansiedade ao se imaginar interagindo com outras pessoas de seu passado. Estava gostando da bolha em que ela e Edward estavam vivendo. Mas ter outra mulher com quem conversar até que seria interessante.

Como ainda era terça-feira, deixou para se preocupar com os hóspedes mais adiante.

– O que vamos fazer agora? – Bella perguntou.

– Nada que canse minha linda esposa. – Edward respondeu sorrindo. – Podíamos assistir um filme.

Já deitados na cama, Edward fechou as persianas e uma enorme tv desceu do teto, transformando o ambiente em um cinema super aconchegante.

Cornélia bateu na porta. Trazia um gigantesco pote de pipoca e copos de refrigerantes cheios de gelo.

– E aí, o que vamos ver? – Bella perguntou.

– Você se lembra de algum filme que já assistiu? – Edward perguntou, curioso por sua resposta.
Ela ficou um tempo pensando. Sabia o que era filme, o que era cinema, mas nenhum rosto ou estória vinha à sua cabeça. Era como se folheasse um livro em branco.

– Não! – Contatou assustada.

– Meu Deus, Bella, quer dizer que todos os filmes existentes são novos pra você? Isso é maravilhoso!!! – Edward disse, soltando uma enorme gargalhada.

Edward pegou o controle e começou a procurar canais de filmes para ver se encontrava algum que pudesse interessá-la. O que ele não sabia é que tinham disponibilizado alguns canais de filmes pornograficos, como o que passava naquele exato momento na enorme tela diante de sua cama.

Um casal pra lá de animado protagonizava uma cena nada conservadora, onde certa parte do corpo do homem era sugada vorazmente pela boca da de uma garota e seus gemidos ecoavam pelo quarto.
Edward tentava apertar o botão para mudar o canal, mas como sempre acontece nessas horas, o nervosismo não o deixava acertar uma tecla que fosse. O que conseguiu foi aumentar o volume, provavelmente deixando os empregados de cabelos em pé.

Olhou de relance para Bella e se deparou com uma enorme boca aberta e uma cara de espanto que o deixou mais desesperado ainda.

Bella olhava aquilo e só conseguia imaginar se já tinha feito algo parecido com o homem que estava deitado a seu lado. Seu rosto pegava fogo de vergonha.

Num segundo de lucidez, Edward viu o botão vermelho de desligar e o acionou, não antes de um jato de sêmem voar tela à fora em direção ao rosto da atriz.

Escuridão total no quarto!! O silêncio era constrangedor. A vontade de Edward era que um buraco no chão o engolisse.

– Desculpe-me, Bella. Não sabia que tinha este canal. – Falou, agradecendo não ter de encará-la.

– EU JÁ FIZ ISSO EM VOCÊ? – Bella perguntou perplexa. Quis morrer quando ouviu o que acabara de dizer. Cadê o “tudo bem” que tinha planejado responder???

Edward colocou as duas mãos mãos no rosto e praguejou em pensamento, protegido pela ausência completa de luz no quarto.

“P*rra, Bella, não faz isso!!!” O palavrão provamelmente fora inspirado na cena anterior.
“E agora, Edward?”, se perguntou.

– Algumas vezes... – Não custava nada deixar a possibilidade em aberto, pensou Edward.

– Oh my God!!!

Depois Bella ficou em silêncio. Olhou pra cima e ficou maquinando se uma paulada de leve na cabeça de Edward o livraria dessas memórias. Achou melhor não tentar...

Por fim Edward teve coragem de acender a luz.

– Podemos deixar o filme para depois!!! – Falaram em uma única voz.

– Vamos passear de carro. As estradas dessa região são lindas!! – Edward sugeriu.

– Vamos sim, eu vou adorar.

Ambos queriam sair o mais rápido possível daquele quarto.

Só não conseguiram se livrar dos pensamento inconfensáveis que os acompanharam pelo resto da tarde.
Passearam por lugares lindos, parando de vez em quando para admirarem as belas paisagens.
Quando voltaram, pouco antes de anoitecer, Vera passou o recado ao patrão.

– Sr. Cullen, um tal de Investigador Black esteve aqui a procura da D. Isabella. Ele pediu que eu avisasse ao senhor que ele voltará amanhã, às dez horas.


“O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente.”

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