quarta-feira, 9 de maio de 2012

Faz de conta que foi assim18

CAPÍTULO 17 – E o castelo ruiu...
GRÃO DE AMOR
(Tribalistas)
Me deixe sim, mas só se for
Pra ir ali e pra voltar
Me deixe sim, meu grão de amor
Mas nunca deixe de me amar

Agora as noites são tão longas
No escuro, eu penso em te encontrar
Me deixe só até a hora de voltar

Me esqueça sim, pra não sofrer
Pra não chorar, pra não sentir
Me esqueça sim, que eu quero ver
Você tentar sem conseguir

A cama agora está tão fria,
Ainda sinto seu calor
Me esqueça sim
Mas nunca esqueça o meu amor

É só você que vem no meu cantar, meu bem
E só pensar que vem, lara ra ra

Me cobre mil telefonemas
Depois me cubra de paixão...
Me pegue bem
Misture alma e coração.


A sensação de estar vazia de si era insuportável. Não havia uma “Bella” dentro de seu corpo, havia sim um grande vazio... um enorme ponto de interrogação. Descobrira à pouco que o homem que amava tinha brincado com sua vida como um garoto brinca de videogame, movendo os personagens a seu bel-prazer. Precisava urgentemente se salvar daquele vácuo que a puxava para águas profundas e escuras, antes que voltar à tona se tornasse impossível.
Bella olhou a sua volta e não encontrou nada seu para levar embora, a não ser a desesperança. Tudo ali era de outra pessoa...
Estava novamente sozinha. Aquele sentimento que a invadiu quando acordou no hospital voltara, apertando seu peito numa dor avassaladora.
Pegou uma bolsa de viagem no armário e emprestou algumas peças de roupas e produtos de higiene da dona de tudo aquilo ali. Tinha algum dinheiro na bolsa que Edward havia lhe dado quando foi ao cabelereiro. Já era alguma coisa para se manter por alguns dias até arrumar um emprego.
Quando saiu do closet, ele ainda estava sentado na cama, com o olhar perdido.
– Você vai me denunciar para a polícia, Bella? – Edward perguntou impassível, pouco se importando que tivesse de acabar seus dias numa prisão. Nada podia ser pior que a dor de ter Bella o odiando novamente. Já estava condenado ao sofrimento.
– Não se preocupe, Edward, esse assunto morre aqui. Ninguém mais vai saber disso. Eu teria vergonha de contar isso a alguém, é muito degradante.
Por mais magoada que tivesse, Bella não conseguiria colocá-lo na cadeia, essa era a grande verdade... A verdade que ela negava, usando o orgulho para justificar sua inércia.
– Obrigado, Bella. Se bem que para mim tanto faz agora...
– Eu só queria seu bem, Bella, só isso. – Edward continuou, sem saber se era ele mesmo ou Bella que tentava convencer. - Esse plano foi o único meio que eu tive para recuperar o seu amor. Nunca quis te magoar, juro que não.
– Mas magoou, Edward, e muito. – Disse Bella, colocando a mão na maçaneta da porta.
– Você não precisa ir embora, Bella... Vou eu. Fique aqui na casa, você não tem pra onde ir. Eu saio daqui. Você nunca mais vai me ver, se quiser assim, mas pelo amor de Deus, não saia por aquela porta. – Edward implorou, com a voz embargada, abandonando a letargia anterior.
Ele não suportaria vê-la sozinha no mundo novamente, sofrendo mais ainda do que antes.
– Eu tenho de ir. Preciso descobrir quem sou eu, preciso fugir daqui... de você... Em algum lugar lá fora deve ter alguém ou alguma coisa que faça parte da minha vida verdadeira. Não é possível que eu seja tão insignifante que não tenho deixado pelo menos uma pegada pelos caminhos por onde andei. – Bella desabafou, sem um resquício sequer de sua auto-estima.
– Não precisa se procurar. Você é aquela Bella de horas atrás... Aquela Bella que me amava e se deixava ser amada... A mesma garota cheia de vida e esperança que eu deixei para trás na Inglaterra. Está fugindo da sua felicidade, menina. Pense melhor antes de tomar sua decisão. Está magoada por saber que eu menti, mas tem de entender que tudo o que eu fiz foi por amor... Foi pra te fazer feliz.
Ao ouvir aquilo Bella sentiu uma vontade imensa de se atirar nos braços dele e fingir que nada tinha acontecido, mas já tinha feito isso uma vez, quando deixou seu passado na escuridão para viver o presente com ele. Não cometeria o mesmo erro novamente. Por mais que doesse deixá-lo, ele era um grande mentiroso e não era certo amar alguém assim.
– Tem pessoas que matam por amor, Edward, nem por isso elas são absolvidas. Não tente transformar o que você fez num gesto honronso. Se estivesse no meu lugar, entenderia o que eu estou sentindo. É horrível ser enganada.
“Mentir é maldade absoluta. Não é possível mentir pouco ou muito; quem mente, mente. A mentira é a própria face do demônio.”
Ele entendia sim o que ela estava sentindo, mas era difícil perdê-la mais uma vez sem lutar. Por mais fraco que o argumento “as intenções eram boas” fosse, era o único que tinha.
Edward se levantou e foi até seu guarda-roupa. Abriu uma das gavetas e tirou dois pacotes embrulhados em papel pardo. Eram as cartas que trocaram no início do namoro deles.
– Isto é seu, Bella... “Uma de suas pegadas”... – Edward falou cheio de tristeza. - Estavam na sua mala, a que você deixou no aeroporto quando decidiu não ir mais para a Inglaterra se casar com seu noivo James... No dia em que você percebeu que seu coração já tinha um dono – disse, entregando-lhe um dos pacotes. - E este – entregou o outro - é um presente meu. Sei que não tenho direito de te pedir nada, mas queria muito que aceitasse.
Bella pegou os embrulhos e olhou-os confusa. Assim que saísse daquela casa iria verificar do que se tratavam.
– Obrigada. – Agradeceu simplesmente.
Edward assistiu desolado o grande e único amor da sua vida sair do quarto para ir embora.
– Leve o cartão de crédito que eu te dei. Pode gastar o que quiser nele. Vá para um bom hotel, Bella. Dinheiro não é problema. – Edward falou, secando disfarçadamente as lágrimas que insistiam em cair.
– Eu já tenho o suficiente, Edward. Não se preocupe comigo.
– Bella, você é a pessoa mais importante na minha vida. Como acha que não vou me preocupar com você?
Ela olhou bem nos olhos dele e despejou seu último e arrasador lamento.
– Faça de conta que eu morri, Edward. O que, até certo ponto, é uma grande verdade.
Bella desceu as escadas aos pedaços. Estava sem norte... Sem rumo.
Tirou seu celular da bolsa e procurou na agenda o número de Jacob, que ela levava consigo para qualquer emergência.
Assim que viu quem estava chamando, Jake atendeu o telefone na mesma hora. As batidas aceleradas de seu coração denunciavam o amor desmedido que sentia por ela.
– Bella, aconteceu alguma coisa? – Perguntou assustado. Ela nunca tinha lhe telefonado.
– Jacob, - mal conseguia falar devido ao choro – eu preciso falar com você. Poderia me encontrar em algum lugar?
– Meu Deus, Bella, o que aconteceu? Você está chorando? Cadê o Edward? Onde você está? – Jake estava apavorado.
– Estou em casa. Eu te explico quando a gente se encontrar. Está na delegacia? Vou pegar um taxi e...
– Bella, - ele a interrompeu - não saia daí sozinha, não é seguro. Chego aí em poucos minutos. Aguarde-me, por favor.
– Tudo bem. – Ela não estava mesmo em condições de se manter em pé. Sentia-se meio tonta e poderia desmaiar a qualquer momento.
Jacob deixou tudo o que estava fazendo e saiu feito louco. Sabia que algo muito sério tinha acontecido.
Na parte de cima da mansão, Edward ligou o chuveiro e entrou de roupa e tudo embaixo. Queria apenas que aquela dor passasse. Começou a se lembrar que há menos de uma hora atrás estava dentro de Bella, amando-a. Ele e a equipe de Roarke, e toda a sujeira que representavam, tinham sido derrotados pela pureza de Bella. “Que grande ironia!”, pensou. Recordava-se perfeitamente do segundo em que percebeu que ela era virgem, lamentando-se por tê-la feito sentir tanta dor. E também de quando ela pediu que ele continuasse... Tirando o abandono que os esperava no canto do quarto, o resto tinha sido perfeito. Queria que aquele momento tivesse se congelado, que o relógio tivesse parado naquele instantemas as coisas não eram assim. O tempo era constante e linear, e agora estava tendo de lidar com o “depois”.
Não demorou muito para que Jake chegasse. Foi logo perguntando ao chefe dos seguranças se tinha acontecido alguma coisa, mas foi informado que tudo estava dentro da normalidade.
Um pouco mais calmo entrou na casa e encontrou Bella encolhida no sofá da sala. Seu choro era silencioso.
Antes mesmo que ele fizesse alguma pergunta, Bella se adiantou.
– Eu e Edward nos separamos e eu queria sua ajuda para me levar para um hotel. Eu... eu estou tão perdida! – Desabou.
Bella queria preservar Edward, por isso preferiu não contar nada sobre o plano sórdido para um policial.
– Separaram? Como assim? – Apesar do susto, uma onda de alegria o tomou.
– É complicado, Jacob. Não dá para explicar, mas é isso mesmo que você ouviu, nós nos separamos e eu estou indo embora desta casa.
– Você descobriu... – Foi mais uma afirmação que uma pergunta.
Jake se arrependeu assim que terminou de falar. Acabara de se entregar.
– Você sabia? Também faz parte disso? – Bella ficou branca como cera.
Seu silêncio o entregou. Jake não tinha mais como se safar.
Bella desesperou-se novamente. Chorando convulsivamente começou a correr para a porta de saída. Tinha sido uma peça de um jogo cruel e injusto nas mãos de todos que conhecia. Se até a polícia tinha sido comprada por Edward, em quem poderia confiar e acreditar?
– BELLA, VOCÊ NÃO PODE SAIR DESTA CASA, NÃO É SEGURO! – Jake gritou, puxando-a e envolvendo-a em seus braços.
– Calma. – Pediu, abraçando-a forte. – Quer levar um tiro?
Ele queria se desculpar, mas nada do que dissesse faria diferença naquele momento.
– EU NÃO ME IMPORTO MAIS COM ESSE CARA QUE QUER ME MATAR. SE ELE CONSEGUIR, ESTARÁ ME FAZENDO UM GRANDE FAVOR. – Bella se rendeu ao desespero e afundou o rosto no peito de Jake, sem conseguir parar de chorar.
– Não diga isso nem de brincadeira, loirinha. – Ele a consolou, condenando-se por apreciar aquele momento de dor dela pelo simples fato de poder tê-la em seus braços. – Eu vou te ajudar, mas fique calma. – Pediu, beijando o alto de sua cabeça.
– Eu só quero sair daqui, Jacob, por favor! Me deixa ir embora... Eu preciso fugir de vocês e desse lugar – ela murmurou, implorando, tentando se soltar da força daqueles braços que a prendiam.
Quando Edward desceu as escadas, incomodado com o barulho que ouvira, sentiu seu sangue ferver ao ver o maldito policial abraçando Bella. Tudo o que desejou naquela hora foi ter uma arma.
Sem que eles percebessem sua chegada, atingiu o rosto de Jacob com um soco que o fez cair no chão, com a boca sangrando.
– TIRE AS MÃOS DA MINHA ESPOSA, SEU MISERÁVEL!
Bella ficou olhando atônita, sem entender o que estava acontecendo, muito menos qual o motivo de Edward estar com as roupas encharcadas.
Edward avançou sobre o corpo de Jacob, que ainda estava meio desacordado, e só não o esmurrou novamente porque se assustou com o grito de Bella.
– PARE!!! PELO AMOR DEUS, PARE COM ISSO!! VOCÊS SÃO LOUCOS?
O susto o acalmou.
– Se esse canalha tá achando que vai se aproveitar da sua fragilidade para dar em cima de você, ele está muito enganado, eu acabo com a vida dele antes. Não tenho mais nada a perder! – Edward praticamente rosnou as palavras, cego de ciúmes.
Jacob se levantou meio tonto. Sua vontade era devolver o soco que recebera, mas preferiu deixar para outra hora, quando Bella não estivesse perto. Não queria aumentar o desespero dela.
– A farsa acabou, Edward! Nós três sabemos que ela não é sua esposa. Pare de bancar o marido ciumento e vamos achar uma maneira de Bella não levar um tiro assim que se afastar da proteção que esta casa lhe dá, que é o que ela insiste em fazer.
– VOCÊS NÃO PRECISAM RESOLVER NADA POR MIM. DA MINHA VIDA CUIDO EU! – Gritou, irritada.
O celular de Jacob começou a tocar insistentemente, até que, mesmo não querendo, teve de atender.
– Bella me dê só um segundo, por favor. Fique onde está – ele mandou.
– O que foi, Thomas. – Jake atendeu impaciente o outro policial que tinha sido colocado por Roarke para ajudá-lo.
Enquanto ouvia tudo o que ele lhe contava, olhava fixamente para Bella, que já começava a ficar nervosa ao ver sua expressão.
– Tudo bem, Thomas, vamos aumentar a segurança.
– A investigação descobriu que um homem, usando documentação falsa, comprou balas de pistola dias atrás, em uma loja aqui da região. Esse mesmo homem alugou um barco, mais de uma vez, e o dono dele disse que sempre ficavam ancorados bem de frente para esta casa. Isso é sério, “loirinha”. Sua vida corre risco. – Black esperava que agora ela mudasse seus planos.
Edward o fuzilou com os olhos ao ouvi-lo chamá-la assim. Só não quebrou todos seus dentes porque estava muito preocupado com a descoberta da investigação.
– Bella, - continuou - pelo amor de Deus, não podemos alterar sua rotina agora que estamos tão perto de pegar esse cara. Ele não pode saber que você e Edward se separaram. Não sabemos qual a motivação dele para querer te matar. Tudo precisa ficar como está, ou ele pode alterar seus planos e teremos de começar do zero. Vocês tem de manter as aparências até que possamos prendê-lo. – Jake estava falando sério. – Eu não posso garantir sua segurança se não for assim.
O medo invadiu Bella. Ela estava em pânico com aquela informação. A possibilidade de ser morta era bem concreta agora. Seu corpo começou a tremer incontrolavelmente.
Edward se aproximou e a abraçou.
– Calma, não tenha medo, amor. Não vou deixá-lo chegar perto de você, eu prometo.
Bella se esquivou assim que percebeu que estava nos braços de Edward, deixando-o desolado com sua repulsa. Seu infortúnio era tão grande que tinha que escolher entre ficar com o homem que acabara com seus sonhos ou se arriscar a ser pega pelo que queria acabar com sua vida...
– E então, Bela?
– Eu fico... Mas vou dormir no outro quarto de hóspedes. E ficarei somente até que o peguem, por isso sejam breves, por favor.
– Estou feliz que tenha tomado a decisão correta, Bella. – Edward falou, aliviado.
– Ultimamente eu não tenho tido opções, afinal o que eu sou, além de uma marionete? Os fios que controlam minha vida sempre estarão nas mãos de outras pessoas... Preciso me acostumar com isso. – Bella lastimou-se, subindo as escadas, resignada.
– Esse soco vai ter volta, Edward Cullen. – Jacob ameaçou quando ficaram sozinhos. -Estou apenas respeitando o momento difícil que Bella está passando. Se quer resolver nossas desavenças no braço, eu não me oponho, mas vamos tentar mantê-la viva primeiro, depois resolvemos quem fica com ela... Se é que ele vai querer um de nós. – Falou, passando a mão no queixo dolorido.
– Fique longe da minha mulher, ou não respondo por mim.
– Ela não é sua mulher... Nunca foi...
– Foi sim... E só minha! – Edward se gabou, agindo de forma quase infantil.
Jake olhou para ele, lívido, começando a ligar os fatos que tinha presenciado horas atrás. Uma idéia absurda passou por sua cabeça.
– Ela era virgem... Foi assim que descobriu, não foi?
Edward simplesmente virou as costas e saiu, deixando-o sem resposta, mas cheio de certeza.
Sem tempo para digerir aquilo, Jake saiu apressado. Precisava dar novas ordens para os seguranças e se interar melhor sobre as investigações.
Bella entrou no quarto de hóspede e se atirou na cama, chorando. Queria ter coragem de fugir dali sem se importar com sua vida, mas tinha medo de morrer... Por mais miserável e sem sentido que sua existência fosse, queria continuar vivendo.
Edward, depois de se trocar, ligou para Emmett e contou tudo o que tinha acontecido.
– Virgem?? Aos vinte e cinco anos? E depois de ter sido noiva?
– É, Emm, virgem...
– Ed, eu nem sei o que dizer. Eu sinto muito, amigo, sinto muito mesmo.
– Ela está me odiando, Emmet. Ela nunca mais vai me perdoar. Eu a perdi para sempre.
– Perdeu não, Ed. Não vai desistir agora, cara! Aproveita o tempo que ela vai ficar aí na casa e tente reconquistá-la. A Bells te ama. Ela é completamente apaixonada por você. Dava pra ver na cara dela.
– Era, mas eu estraguei tudo...
– Pelo amor de Deus, Ed, não vou aguentar te ver chorando pelos cantos por mais dez anos. Deixa de derrotismo e faça de tudo para tê-la de novo.
– Eu vou tentar, Emm. Não sei como, mas vou tentar. – Edward falou sem muita convicção.
– É assim que se fala. Você foi longe demais para desistir agora. Morra, mas morra esperneando.
– Obrigado, amigo.
– Estamos aqui, Ed. Conte conosco. Vou pedir para a Alice ligar para a Bellinha.
– Não sei se é uma boa idéia. A Bella está muito magoada com todos nós.
– Pode ser, mas duvido que Alice se importe com isso. Ela vai ligar de qualquer jeito.
Depois de se despedirem, Edward subiu e bateu no quarto de Bella. Não recebeu nenhuma resposta.
– Bella, eu sei que está me ouvindo. Queria apenas dizer que você pode ficar no nosso quarto. Todas suas coisas estão lá. Eu fico nesse quarto.
Depois de uns segundos de silêncio, Bella abriu a porta, gritando, totalmente descontrolada.
– NÃO HÁ “NOSSO QUARTO”, EDWARD! NÃO EXISTEM “MINHAS COISAS”! EU SEQUER EXISTO! EU TENHO VONTADE DE RIR DESSE MALUCO QUE QUER MATAR UMA PESSOA MORTA! QUE FOI QUE EU FIZ PRA MERECER ISSO? POR QUE EU, MEU DEUS? POR QUE EU?... Por que eu?... Por que você fez isso comigo, Edward?... Por quê?... Por quê?...
Bella começou a bater no peito de Edward, insistindo na pergunta, até que não tivesse mais força e voz para fazê-lo.
Edward segurou seus braços, mais preocupado com a possibilidade dela se machucar do que com as conseqüências dos socos fracos de Bella.
– Fiz porque eu te amo, Bella... Porque não suportava mais viver sem você... Porque eu queria te fazer feliz... Eu pensei que esse sonho ia durar pra sempre... Achei que o amor que você sente, ou sentia, por mim seria mais forte que qualquer coisa. – Edward falou desconsolado, olhando nos olhos de Bella, que insistiam em desviar dos seus.
Bella respirou fundo e percebeu que depois do desabafo a pressão em seu peito tinha diminuído. Recuperou o autocontrole.
– Desculpe-me, Edward, eu não devia ter batido em você.
Edward deu um sorriso leve, zombando da pretensão dela de achar que tinha lhe causado algum dano.
– Não se preocupe, Bella. Eu mereço cada soco desses.
– Você precisa descansar. Vá lá para o no..., para o quarto que você dormia antes. Deite-se e tente dormir. Não devia estar passando por um estresse desses, não é bom para a sua saúde.
Bella estava cansada demais para discutir. Já estava anoitecendo e seu corpo inteiro doía. Aceitou o conselho de Edward e foi para seu antigo quarto. Iria tomar um banho e dormir. Quem sabe descobria pela manhã que tudo não passou de um grande pesadelo.
Edward entrou com ela e foi até o closet. Pegou algumas peças de roupas e produtos de toilet no banheiro.
– Depois eu peço para a Vera levar o resto das minhas coisas para o outro quarto.
– Tudo bem.
Quando se viu sozinha Bella finalmente pode tomar um banho. Escoou a água da banheira e colocou-a para encher novamente. Fazer aquilo lhe trouxe de volta as lembranças do que ela e Edward fizeram naquela tarde. Ainda sentia no corpo as marcas de que agora era uma mulher. Seu sexo dolorido fazia lembrar-se de Edward a penetrando, fazendo-a ir da dor ao mais intenso prazer em questão de segundos. Por mais que seu coração estivesse sangrando naquele momento, tinha sido indescritível fazer amor com ele... Se é que o que tinham feito podia se chamar amor.
Depois de quase meia hora com o corpo imerso na água quente, Bella foi dormir, ajudada por alguns comprimidos que lhe provocavam sono.
Nos dias que se seguiram a vida de Bella se limitou a recusar a atender as dezenas de ligações de Alice e a brincar com seu não tão fiel amigo Bud.
Ficava a maior parte do tempo no seu quarto e, às vezes, na área da piscina, tomando sol ou nadando. Via Edward muito pouco. Alguns esbarrões nos corredores e nada mais. Cumprimentavam-se apenas com um “oi” rápido, mas era impossível não sentir o olho dele a seguindo enquanto se afastava.
Jake também andava sumido. Já estava bem claro que ele nutria algum sentimento por ela, mas tentar alguma coisa com ele estava fora de questão. Bella queria distância de todos que a enganaram.
Edward se fechava no escritório bem cedo e só saía de noite. Não andava comendo muito, não tinha fome. As poucas vezes que se encontrava com Bella sentia uma emoção contraditória. Por um lado ficava feliz em vê-la, mas por outro sentia o peito se apertar ao perceber a mágoa e sofrimento em seus olhos.
Assim sendo, evitava encontrar-se com ela para não lhe impor a sua incômoda presença. Tinha medo dela querer ir embora de novo.
Quem lhes passava toda a rotina dela eram Vera e Cornélia.
Jake também ficava praticamente o dia inteiro fora. Estavam fechando o cerco ao redor do atirador. Já tinham até um vídeo, de péssima qualidade, é verdade, com ele de costas, saindo da loja de armas, e um do retrato falado feito pelo dono do barco, mas suspeitavam que a barba e os óculos eram falsos.
Esperava ansiosamente pela prisão desse bandido para poder se dedicar a conquistar Bella, agora que Roarke não teria mais motivos para impedi-lo.
Foi num desses dias de solidão que Bella resolveu abrir os pacotes que Edward tinha lhe dado. Dedicou o dia inteiro à leitura das cartas e se comoveu ao perceber vivera por algum tempo a materialização daqueles sonhos juvenis.
Edward não tinha deixado nenhum detalhe passar. A casa, o mar, o cachorro, o casamento, a felicidade... Tudo o que estava diante de seu nariz tinha sido sonhado por eles há mais de dez anos atrás.
Não conseguiu conter as lágrimas enquanto lia as juras de amor que fizeram um para o outro. Era um amor tão puro, tão ingênuo, tão verdadeiro... E ao mesmo tempo tão parecido com os sentimentos que ainda guardava em seu coração.
Cada palavra que leu ficou gravada em seu coração e eram elas que lhe davam força para acordar todas as manhãs e enfrentar mais um dia. Aquelas cartas tinham sido escritas “para” e “pela” verdadeira Bella. Representavam a única parte da sua vida que não era falsa, que tinha realmente existido.
– Cornélia, - perguntou Bella durante o jantar – desde anteontem que não vejo o Sr. Cullen. Sabe se ele foi viajar?
Bella não queria assumir para si mesma, mas estava sentindo falta de Edward. Fazia tempo que não o via.
– Dona Isabella, ele me pediu para não contar nada, mas o Sr. Cullen está doente. Para amanhecer ontem ele ficou internado no pronto atendimento tomando medicação. Veio pra casa dirigindo sozinho, coitado. Ele está de cama desde ontem de manhã, quando chegou do hospital. Olha o prato de sopa que eu levei pra ele, – a empregada mostrou – voltou sem ser tocado. O patrão não está comendo nada. Desse jeito ele vai acabar morrendo. A senhora precisa ver como está pálido.
Bella sentiu uma dor aguda no peito. Mesmo mentindo, ele tinha cuidado dela com todo carinho e agora estava doente e sozinho. Sentiu-se mal por só saber daquilo tanto tempo depois.
– Cornélia, dê-me este prato de sopa.
Bella saiu da cozinha decidida a fazer aquele teimoso comer a comida.
Bateu na porta e não obteve resposta. Sem se importar, girou a maçaneta e entrou, deparando-se com Edward dormindo, enrolado em um edredom. Seu abatimento era visível.
Bella colocou a bandeja na mesinha e sentou-se ao seu lado. Relutou um pouco, mas finalmente se rendeu e passou a mão levemente em seu rosto, tirando uma mecha de cabelo que descia em sua testa.
Edward fingiu dormir. Não podia acreditar que era ela quem estava ali, preocupando-se com seu bem-estar. Aquilo só podia ser um daqueles delírios que vinha tendo. Manteve os olhos fechados e pediu a Deus para não recobrar a consciência. Queria delirar pra sempre.
Bella percebeu que todo corpo dele tremia. Colocou a mão em sua testa e viu que estava muito quente. Sua febre estava altíssima.
Foi até o banheiro e molhou algumas toalhas na água fria para servir como compressas.
– Edward, você está com muita febre. Vou colocar algumas toalhas úmidas em você – falou baixinho, sem saber se ele estava ouvindo o que ela estava dizendo.
Ela levantou sua cabeça delicadamente e colocou uma das toalhas sob sua nuca. As outras, colocou na testa e axilas.
Edward abriu os olhos, temendo descobrir que tudo era imaginação sua. Não era... Bella estava mesmo ali, ao seu lado, colocando a mão em seu pescoço para sentir a temperatura. Por fora ele tremia de frio, mas por dentro seu coração estava aquecido como nos dias em que viveram o sonho de serem marido e mulher.
– Pensei que estivesse dormindo. – Bella falou meio sem graça, retirando a mão rapidamente.
– Pensei que eu estivesse sonhando...
– Você está ardendo de febre, precisa tomar um antitérmico.
– O médico me receitou uns comprimidos, mas estão no banheiro.
Bella levantou-se e foi pegá-lo. Voltou com o remédio e um copo de água, ajudando-o a tomar.
– Obrigado, Bella.
– Você devia ter mandado Cornélia me avisar que estava doente. Eu teria vindo te ajudar.
– Não era para ela ter ido encher sua cabeça com meus problemas.
– Não fique bravo com ela, fui eu que perguntei de você. Agora fique quieto até começar a se sentir melhor. Depois vai comer toda aquela sopa que ela fez, nem que eu tenha de te dar na boca.
Edward sorriu e revirou os olhos por causa de seu jeito mandão.
Bella se inclinou sobre ele e arrumou a toalha que estava sobre sua testa. Ficaram com os rostos bem próximos.
– Eu não mereço o que está fazendo por mim... – ele sussurrou.
– Descanse, Edward. – Bella sussurrou também, colocando o dedo em sua boca para que ficasse em silêncio. Não era hora para discutirem merecimentos.
– Quando eu ficava doente minha mãe segurava minha mão até eu dormir. – Edward comentou, lembrando sua infância.
– Meu Deus, como vocês homens são manhosos. – Bella falou rindo, dando a mão para ele. – Pode dormir que eu estarei aqui quando acordar, Edward.
Ele segurou sua mão e fechou os olhos, adormecendo com um enorme sorriso no rosto.
Bella ficou sentada ao seu lado, meio desconfortável. Sempre que tentava soltar-se para levantar, sua mão era apertada pela dele, fazendo-a ficar onde estava.
Edward acordou uns trinta minutos depois se sentindo todo molhado. Tinha suado muito e sua roupa estava úmida. Apertou frágeis dedos que segurava. Apesar de ter dormido, em momento nenhum perdeu a consciência de que tinha de se manter unido àquela mão, agora entendia por que... Era a mão de Bella.
– Você ficou aqui esse tempo todo?
– Fiquei. Tinha um menininho carente agarrado em mim. – Ela falou sorrindo, se esquecendo por alguns minutos de seu próprio sofrimento.
– Obrigado! – Edward falou comovido.
– Não foi nada. – Bella disse, se espreguiçando com cara de dor, afinal suas costas estavam doloridas de ficar sentada sem apoio.
– Você está com dores. Desculpe-me por estar te dando trabalho, Bella. Vá descansar, eu já estou bem melhor.
– Nada disso, agora você vai tomar um banho para se livrar desse suor e quando voltar vai comer toda a comida. Vou pedir Cornélia para esquentá-la novamente.
Edward levantou-se ainda meio tonto, pegou roupas limpas e foi para o banheiro tomar um banho. A água estava lhe fazendo muito bem. Quando terminou, percebeu que tinha demorado mais que o necessário.
Ao voltar, sua cama estava forrada com lençóis limpos e um prato quente de sopa o aguardava. Bella estava sentada na cama, com as costas apoiadas no travesseiro. Dormia profundamente.
Edward teve remorso por tê-la feito ficar ao seu lado até tão tarde da noite. Com pena de acordá-la, retirou seus sapatos e a deitou confortavelmente, cobrindo-a com o edredom.
Jantou sem vontade, apenas para satisfazer Bella, mas em nenhum momento afastou os olhos dela, admirando sua beleza ao dormir. Ela estava novamente em sua cama e isso o deixava radiante, mesmo que a virose fizesse parecer que seu corpo tinha sido atingido por um piano caído do céu.
Questionou se devia ou não deitar-se com ela e acabou optando pela opção que lhe agradava mais, ainda que soubesse que Bella poderia achar ruim.
Ficou ali na cama, descansando ao seu lado, sentindo o calor e o perfume dela tão perto dele...
Nem percebeu quando o sono chegou.
Bella acordou sem saber onde estava. A escuridão do ambiente não lhe dava nenhuma pista. A única coisa que reconhecia eram os braços fortes e o cheiro maravilhoso do homem que a abraçava, apertando-a junto a seu corpo. Essa sensação de paz e proteção ela conhecia bem.
De repente caiu em si. Estava na mesma cama que Edward, o homem que mentiu pra ela cruelmente, o homem do qual ela queria a maior distância possível.
“O que eu estou fazendo aqui, meu Deus?
Bella se sentou, saindo do abraço de Edward bruscamente. Percebeu, aliviada, que estava vestida. Ainda usava a mesma roupa da noite anterior.
– Não fizemos nada, Bella, você apenas ficou cuidando de mim e acabou adormecendo de cansaço. Devemos ter nos abraçado durante o sono. – Edward lhe explicou, quando percebeu seu nervosismo.
A voz dele a assustou, mas serviu para lembrá-la de tudo o que tinha acontecido. “Ele estava doente e eu o ajudei, apenas isso.” Bella tentava se convencer que seu impulso em cuidar dele tinha motivação exclusivamente altruísta. Mas algo bem no fundo de sua mente lhe dizia que era bem mais do que solidariedade.
– Você devia ter me acordado – reclamou. - Vou para meu quarto.
Mais que chateada, ela estava era envergonhada por sua fraqueza, sua incapacidade de repudiá-lo.
– Você parecia tão cansada. Fiquei com pena de interromper seu sono. Desculpa!
– Esquece. Você já melhorou, Edward. A febre passou, não precisa mais de mim. – Bella disse, saindo da cama.
– Obrigada, Bella. O que você fez foi muito... Não sei nem dizer... Como posso agradecer?
– Eu faria isso por qualquer um. Tchau, Edward – Bella disse, tentando demonstrar uma falsa frieza.
Saiu do quarto com o coração acelerado. Esteve muito perto de se render aos sentimentos que ainda nutria por Edward e se entregar ao prazer de ficar em seus braços. Não entendia como podia odiá-lo e amá-lo ao mesmo tempo.
O coração de Edward encheu-se de esperança. Bella ainda o amava e ele ia lutar por ela até o fim de seus dias. Abraçou seu travesseiro e ficou se deliciando com o perfume que ela deixou ali.
Bella sabia que teria de se afastar de Edward se quisesse fugir da tentação de perdoá-lo. Sua carência e abandono a deixavam vulnerável e propensa a se colocar em segundo plano na busca de companhia e segurança. Ela tinha literalmente “dormido com o inimigo” e se não se segurasse, acabaria dormindo de novo...
“A felicidade é um sentimento simples; você pode encontrá-la e deixá-la ir embora, por não perceber a sua simplicidade.”

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