quinta-feira, 21 de junho de 2012

Faz de conta que foi assim22

CAPÍTULO 21 – Acertos de Contas
PAI
(Fábio Júnior)
Pai!
Pode ser que daqui a algum tempo
Haja tempo prá gente ser mais
Muito mais que dois grandes amigos
Pai e filho talvez...

Pai!
Pode ser que daí você sinta
Qualquer coisa entre
Esses vinte ou trinta
Longos anos em busca de paz...

Pai!
Pode crer, eu tô bem
Eu vou indo
Tô tentando, vivendo e pedindo
Com loucura prá você renascer...

Pai!
Eu não faço questão de ser tudo
Só não quero e não vou ficar mudo
Prá falar de amor
Prá você...

Pai!
Senta aqui que o jantar tá na mesa
Fala um pouco tua voz tá tão presa
Nos ensine esse jogo da vida
Onde a vida só paga prá ver...

Pai!
Me perdoa essa insegurança
Que eu não sou mais
Aquela criança
Que um dia morrendo de medo
Nos teus braços você fez segredo
Nos teus passos você foi mais eu...

Pai!
Eu cresci e não houve outro jeito
Quero só recostar no teu peito
Prá pedir prá você ir lá em casa
E brincar de vovô com meu filho
No tapete da sala de estar
Ah! Ah! Ah!...

Pai!
Você foi meu herói meu bandido
Hoje é mais
Muito mais que um amigo
Nem você nem ninguém tá sozinho
Você faz parte desse caminho
Que hoje eu sigo em paz
Pai! Paz!...

Passado o susto, Edward pode enfim vivenciar a maravilha de ser pai.
Com Bella e o filho devidamente assistidos em um hospital e a confirmação de que ambos estavam bem, um peso enorme saiu de suas costas e a felicidade o tomou por completo.
Um abraço sincero e agradecido selou definitivamente sua amizade com Jake. Edward seria grato a ele pelo resto de sua vida. E também seriam compadres, pois o policial tinha ganhado com honras e unanimidade o direito de ser o padrinho de Matthew.
Seu filho era a única criança do mundo que tinha vice-padrinho e três suplentes. Mas essa foi a única maneira de compensar o apoio e carinho que eles receberam dos amigos.
Poucos dias depois de Bella dar a luz, mudaram-se para New York. Foram morar em um confortável apartamento que adquiriram de frente ao Central Park. Bud também foi com eles.
A Netsale tinha se fundido novamente a outra empresa do ramo, tornando-se uma das maiores do país e a filial se mudou para a Big Apple, juntamente com seus sócios, agora ainda mais ricos do que antes. A turma toda estava junto novamente e isso era sinônimo de finais de semanas alegres e animados.
Cuidar do filho era uma das coisas que mais dava prazer a Edward.
Sentado em sua poltrona, na sacada climatizada de seu apartamento, Edward se encantava com o rostinho sereno e a respiração leve do bebê que dormia tranquilamente em seu peito. Suas mãos acariciavam gentilmente as costinhas do filho, ainda se admirando por ele ser pouco maior que suas duas mãos juntas.
Tornar-se pai tinha lhe proporcionado conhecer um amor tão intenso que às vezes achava que aquele sentimento fosse lhe sufocar, de tão grande que era.
Bella se aproximou deles, sorrindo ao vê-los juntos. Era fim de tarde e tinha acabado de acordar.
– Descansou um pouco, amor? – Edward perguntou carinhosamente.
Ele estava preocupado por Bella acordar várias vezes na noite para amamentar o filho, por isso tinha sugerido que ela deitasse um pouco enquanto o bebê estava com ele.
– Descansei sim. Acordei porque meus seios estão doendo, por causa do leite. Aposto que esse mocinho vai acordar daqui a pouquinho, esfomeado.
Edward olhou para o decote da camisola que Bella usava e deliciou-se com a visão de seus seios fartos, ainda que eles agora pertencessem a outro homem... Na verdade, um homenzinho de pouco mais de dois palmos.
– De hoje você não me escapa. – Brincou com a esposa, cheio de malícia.
– Edward, o médico disse quarenta dias sem sexo, lembra? Ainda falta uma semana.
– O Emm falou que isso é bobagem.
– Ah, sim, o Emmett é expert em medicina! Belo conselheiro você arrumou! – Bella revirou os olhos, ironizando a credibilidade do amigo que mais parecia uma criança.
– Você não está subindo pelas paredes como eu, Bella? – Edward perguntou, tentando encontrar reciprocidade na esposa. Estava se sentindo meio carente nos últimos dias.
– Amor, sei que o que vou dizer pode parecer cruel, mas a última coisa que me passa pela cabeça agora é sexo, mesmo que eu tenha o marido mais sexy e gostoso e bom de cama de todo o país. Dê-me só mais uns dias e prometo que teremos a melhor noite de nossas vidas.
– Você está criando um monstro, Bella. Quando eu te pegar de jeito... – Edward brincou, fazendo cara de tarado.
Os dois riram, mas no fundo, no fundo Edward não estava achando nada engraçado aqueles dias de abstinência, mesmo que entendesse o quanto era difícil para Bella ficar acordando a noite toda e ainda lidar com tantos hormônios em seu corpo.
– Quando vai aceitar que eu contrate uma babá para ajudá-la? – Mudou o assunto.
– Eu quero curtir essa fase do nosso filho, amor. Você, Cornélia e Vanda já me ajudam tanto. Eu estou bem. Estou tão feliz que até me esqueço do cansaço.
Bella tinha convidado as empregadas para se mudarem com eles, e elas haviam aceitado.
– Eu também estou muito feliz, amor, muito, mas muito mesmo!
Bella encostou-se no ombro do marido e acariciou o cabelinho de Matthew.
– É tão lindo vê-los juntos, Edward.
Ele sorriu com as palavras dela. Edward também se extasiava quando assistia Bella amamentar o filho. Era um momento quase sagrado para ele.
– Eu te amo, Bella – disse, beijando-lhe levemente os lábios.
– Também te amo, Edward...
Beijaram-se novamente, apaixonadamente, e ficaram em silêncio, se deleitando com aquele momento perfeito.
A relação de amor incondicional com o filho fazia Edward pensar cada vez mais em seus pais. Matthew já estava com um mês e eles nem sabiam que eram avós. Aquela situação estava deixando-o angustiado. Temia que nunca o perdoassem por ter escondido isso deles, mas também tinha consciência, ainda que isso o machucasse profundamente, que tinham sido eles que provocaram aquela situação.
Mesmo com a convivência conturbada que sempre tivera com Carlisle, Edward sentia um grande aperto no peito por não poder compartilhar com o pai aquele momento pleno que estava vivendo. Queria muito que ele conhecesse seu filho, que se orgulhasse do neto. Na verdade ele queria mesmo era sentir-se amado, assim como amava aquela criança que carregava no colo.
Ao ouvirem tocar a campainha, Bella foi correndo para o quarto, pois estava de camisola.
– Deve ser a Paula, a decoradora. Ela me ligou dizendo que, se desse, passaria aqui para pegar as uma revista que está comigo. Peça-a para esperar que eu já volto, vou só colocar uma roupa decente.
Edward levantou-se com Matthew no colo e foi abrir a porta.
Suas pernas se arquearam levemente, sem forças, quando se deparou com Esme e Carlisle Cullen parados no hall, olhando para ele e o bebê com expressões que não soube definir, mas que deixava claro que eles sabiam de tudo.
– Pai?... Mãe?...
Literalmente ele não sabia o que dizer nem o que fazer. Tinha sido pego completamente desprevenido.
– Podemos entrar, filho? – Carlisle perguntou calmamente, sem a altivez que lhe era própria.
– Cla-claro, entrem. Desculpem-me a indelicadeza.
Sua mãe olhava fixamente para a criança em seus braços e seu rosto aos poucos ia se banhando nas lágrimas grossas que caíam de seus olhos.
– Mãe, eu... – Edward começou a tentar se explicar ao ver seu sofrimento, mas foi interrompido por ela.
– Você não nos deve explicações, filho. Nós estamos apenas colhendo o que plantamos e é por isso que viemos aqui.
– Eu ia contar, mas é que é uma história tão complicada... Foi virando uma bola de neve até que eu não sabia mais como fazer. Tem muita coisa que vocês precisam saber.
Matthew acordou e começou a resmungar.
– Posso? – Esme perguntou, abrindo as mãos, mostrando que queria segurar o bebê.
– É claro que pode, mãe. Ele é seu neto.
Edward entregou o filho a ela, que o aconchegou em seus braços carinhosamente. Esme começou a chorar contidamente, mas percebia-se seus soluços pela forma como seu corpo balançava e tremia.
– Ele é tão lindo, Edward... Tão lindo!
Carlisle se aproximou da esposa e tocou a mãozinha de Matthew. Uma lágrima solitária escorreu por sua face.
Era a primeira vez que Edward via o pai chorar. Na verdade era a primeira vez que Edward o via demonstrar afeição explícita por alguém.
– Ele é muito parecido com você. É como se tivéssemos voltado no tempo. – Carlisle falou, nitidamente tentando segurar o choro.
Ele realmente desejava poder voltar atrás e desfazer seus erros, mas para ele já era tarde demais, desconfiava.
– Como vocês souberam? – Edward perguntou, curioso.
– Essa também é uma história complicada, Edward... – Carlisle respondeu, cheio de enigmas.
Bella entrou na sala e quase desmaiou quando viu a cena. Segurou-se na mesa e sentiu uma leve tontura.
Estar diante dos “Cullen” era reviver o passado que tentava esquecer pela segunda vez. Não podia deixar que Edward notasse o quanto estava abalada, afinal, na teoria, ela estava encontrando pessoas que só conhecia por relatos. Tinha que se recompor o mais rápido possível, embora seu corpo inteiro demonstrasse o estresse que estava passando. Uma avalanche de memórias doloridas rolava por sua cabeça.
– Bella, meus pais vieram nos visitar e conhecer nosso filho. – Edward falou sem graça, aproximando-se e abraçando-a pela cintura.
– Ah, sim... – Bella conseguiu dizer com muito esforço.
– Logicamente vocês também devem saber que a mãe do meu filho é a Bella.
– Sim, nós sabemos. – Carlisle confirmou.
– Como vai, Bella? – A sogra a cumprimentou.
– Tudo bem, Srª Cullen.
– Esme, querida. Me chame apenas de Esme.
– Desculpe termos vindo sem avisar, Isabella. Espero não estar atrapalhando a rotina de vocês. – Carlisle falou, protocolar como sempre.
– Imagina... Não querem se sentar? – Bella perguntou, mostrando-se uma boa anfitriã, apesar de se sentir completamente atordoada.
– Acho que ele está com fome. Esta chupando os dedinhos com tanta força. – Esme falou sorrindo, olhando com veneração para o neto.
– Está sim. Eu vou amamentá-lo – Bella disse, pegando o filho do colo da avó. – Com licença. – Pediu, indo para o quarto.
Bella se deixou cair na poltrona, ainda trêmula. Enquanto Matthew sugava seu peito vorazmente ela procurava forças para voltar àquela sala e descobrir o que estava acontecendo.
Edward ficou em pé, olhando assustado para os pais, sem ter a mínima noção do que fazer.
– Querem beber alguma coisa? – Foi a única pergunta que lhe veio à mente.
– Sente-se, filho. Queremos apenas que fique à vontade. Precisamos conversar.
Obedecendo ao pai, Edward sentou-se e abaixou a cabeça.
– Gostaria que a Bella ouvisse o que tenho para falar, então vou esperar ela voltar. – Carlisle falou.
– Ela já deve estar voltando.
Bella chegou logo que Edward acabou de falar.
– Ele dormiu. Fase boa, come e dorme... Tirando as fraldas sujas. – Brincou constrangida.
Esme sorriu.
– Bella, como já pedi ao Edward, gostaria muito que escutasse o que tenho a dizer.
Ela balançou levemente a cabeça, concordando. Com o coração acelerado, mal conseguia falar.
– Eu e Esme pensamos muito antes de vir aqui. Não somos tão velhos assim, mas não queremos terminar nossas vidas com tantas culpas no coração. A vontade louca de conhecer nosso neto também foi decisivo para tomarmos a decisão de estar aqui agora.
– Pai, o que está acontecendo? Você ou a mamãe estão doentes? – Edward perguntou preocupado.
– Estamos bem, filho. Agora ouça seu pai.
Carlisle respirou fundo e começou a falar.
– Há mais ou menos um ano eu recebi o telefonema de um grande amigo meu, um ex-agente do FBI. Nossos pais eram muito amigos e essa amizade passou para nós, os filhos. Ele seguiu caminhos bem diferentes dos meus, e acabamos nos afastando, mas nunca deixamos de nos gostar e respeitar um ao outro. Então, inesperadamente, ele me ligou para contar que você, que ele sabia ser meu filho, havia procurado Rosalie, sua parceira, querendo contratar os serviços deles – disse, olhando para Edward. – No início eu fiquei desesperado, pois conhecia o tipo de trabalho que ele fazia. Achei que você pudesse estar envolvido com a máfia ou com drogas. Quase tive um infarto... Mas quando ele me falou o que você queria eu percebi, ao ver até que ponto você estava se arriscando por esse amor, quão mal eu tinha lhe feito, Edward. Foi horrível constatar que eu era o culpado por tanto desespero. Que meus erros tinham te levado a tomar uma medida tão drástica.
– Pai, isso já passou...
– Deixe-me falar, Edward, por favor. Quero que ouça tudo o que eu tenho a dizer. – Carlisle pediu.
– Eu sonhei muitas coisas pra você, meu filho. Queria te ver à frente dos meus negócios, casado com uma moça de alguma família tradicional da Inglaterra, rico, poderoso... Era isso o que eu tinha certeza que era o certo, pois foi assim que fui criado. Confiando nisso eu te afastei da Bella, pois ela não se encaixava nesse meu sonho. Pensei que longe dela você a esqueceria e pusesse a cabeça novamente no lugar. Mas em meus planos faltava um detalhe importantíssimo que eu desconsiderei: a sua felicidade. Te vi se transformar de menino a homem, Edward... Mas num homem infeliz, que trazia a culpa e remorso nos olhos e uma tristeza enorme na alma. Confesso que demorei, mas entendi enfim que não me importava o quanto de sucesso você alcançasse e ou o quanto de orgulho me desse... Eu só seria feliz se você também fosse feliz... E você não era, filho.
Carlisle limpou disfarçadamente uma lágrima que correu em seu rosto e Esme apertou sua mão, em sinal de apoio.
– Quando meu amigo me disse que estava apenas me contando a loucura que você queria fazer, mas que não aceitaria o serviço, eu pedi para que ele aceitasse. Eu implorei para que ele te ajudasse a ter uma segunda chance, para que ele lhe devolvesse tudo o que eu havia lhe tomado por causa do meu orgulho e meus preconceitos. Ele vacilou, mas acabou aceitando. No fundo ele também se comoveu com sua história. E então eu e sua mãe começamos a perceber o quanto você foi se tornando feliz, alegre, esperançoso... Tudo o que você não era antes. Descobrimos que a menina que julgamos ser inferior e errada pra você ara justamente quem estava te proporcionando tudo o que não conseguimos te dar em toda sua vida. Nosso dinheiro e poder se transformou em nada perto do amor que Bella te deu. Com seu jeito simplório e puro, sua esposa te fez feliz como nunca conseguimos fazer.
– Não sei se já é tarde para pedirmos o perdão de vocês. Se for, nós entenderemos, mas assim como mudaram a história de vocês – Carlisle disse, apontando para os dois – nós também queremos mudar a nossa. Queríamos muito voltar a fazer parte da vida de vocês, da vida do nosso neto... Queríamos aprender com vocês o que não soubemos ensinar-lhes.
– Nós te amamos, meu filho. Apenas nos deixamos levar por valores errados que nos foram passados e não soubemos contestá-los, como você fez. – Esme interveio, emocionada.
– Você é a única coisa que eu fiz de que me orgulho realmente, Edward. Desculpe-me se não soube demonstrar o amor que sinto por você e o quanto sua existência me faz feliz! – Carlisle confessou ao filho, nitidamente tocado pela intensidade de seus sentimentos naquele momento.
– E quanto a você, Bella, o que me resta é pedir perdão por tudo que fiz a você e à sua mãe. Edward deve ter te contado como eram tratadas na minha casa e como me opus ao amor de vocês. De certo modo fico feliz que não se lembre exatamente como foi, mas também sei que, caso me perdoe, eu nunca saberei como seria se você não tivesse perdido a memória.
Bella apertou a perna de Edward, como se buscasse apoio para o desespero que se apossava dela. Mas Edward pouco podia fazer... Chorava convulsivamente com o rosto entre as mãos.
Um filme de sua vida na Inglaterra rodava em sua mente. As humilhações que Renée e ela sofreram, a separação de Edward, a solidão e abandono aos quinze anos... Era tudo tão doloroso, tão injusto... Mas agora, à sua frente, um homem completamente despido de seu orgulho e empáfia lhe pedia uma segunda chance... Justo para ela, que já fora merecedora dessa graça tantas vezes. Não queria mais alimentar rancores em seu coração. Queria se livrar da última parte do seu passado que ainda a assombrava.
– Eu também tenho muito o que me desculpar com você, Bella. Não vou nem te dizer os motivos que eu tinha para protegê-la e cuidar de você, porque você deve saber melhor do que eu, mesmo não se lembrando de nada. Mas entenderei qualquer decisão que tomar. Falo isso com toda sinceridade – disse Esme.
Bella mal acreditava no que ouvia. Era tão inacreditável ver Carlisle Cullen pedir perdão que pensou ter ouvido errado. Mas não era hora para revanches nem vinganças. Desligou-se da razão e deixou seu coração falar.
– Tudo o que eu quero é ser feliz ao lado de Edward e do nosso filho. – Bella desabafou, sentindo a voz falhar. - Já descobri, há tempos, que por alguma razão que eu desconheço, minha felicidade sempre esteve condicionada ao perdão. Eu nunca a encontraria se não tivesse aprendido a perdoar. Me acho uma privilegiada por ter descoberto os caminhos que me levaram até os dias felizes que vivo agora. Tem muitas pessoas que passam a vida sendo infelizes, pois se negam a serem humildes, a perdoarem, a serem condescendentes... O que passou, passou... Eu gostaria também que vocês fizessem parte das nossas vidas. Por mim nossa casa estará aberta a vocês sempre que desejarem. Vocês são os pais de Edward e sei o quanto ele os ama, apesar de tudo. Não faz sentido eu guardar mágoas em meu peito depois de todas as alegrias que a vida me deu.
Edward olhou para a esposa com admiração. Estava comovido com sua bondade e sabedoria. A filha da empregada tinha acabado de dar uma lição de nobreza aos pais, pensou.
Ele a abraçou e olhou para o homem e a mulher à sua frente. Assim como ele, eles tinham errado, mas, também como ele, estavam arrependidos. Eram seus pais e ele os amava acima de qualquer coisa.
– Eu amo muito vocês. Agora que sou pai, fica mais fácil compreendê-los. Vamos deixar o passado para trás. Vamos viver em paz, pelo Matthew... Por nós... – Edward falou entre soluços.
Foi até os pais e os abraçou. Já não eram mais apenas três pessoas compartilhando um mesmo DNA, eram agora pais, filhos, avós... O amor que sentiam um pelo outro estava finalmente configurado para torná-los uma família de verdade.
Após o jantar, já mais relaxados, Carlisle pegou o neto no colo pela primeira vez. Com um sorriso enorme nos lábios ele vislumbrou no rosto quase repetido daquela criança a sua chance de viver uma vida nova. A chegada do neto tinha lhe trazido uma nova carga de esperança e fé no futuro.
Tirou do bolso uma caixinha preta e entregou a Edward.
– É o meu presente para Matthew.
Edward abriu-a e ficou estático ao ver as pedras preciosas do “anel dos Cullen” cintilarem diante dos seus olhos.
– Pai... co-como... – As palavras lhe faltavam.
– Fui eu quem o comprou de você. Edward, filho, seu gesto de vendê-lo me chocou, mas me fez acordar para o quanto você estava magoado comigo. Senti-me o pior pai do mundo naquela hora. Eu o comprei porque queria te ajudar, te devia isso... E também porque queria devolvê-lo a você um dia, mas com outro significado. Espero que agora sinta orgulho ao recebê-lo. Ele não simboliza mais o domínio e poderio da nossa família. Quero que você e Matthew o veja como um exemplo da humildade de um pai e um avô que soube reconhecer seus erros e pedir perdão. Se não tive valores bons a ensinar a você, filho, quero pelo menos ensinar a meu neto que nunca é tarde para nos tornarmos pessoas melhores.
– Obrigado, pai! – Edward falou com a voz embargada, enternecido com as palavras que acabara de ouvir.
Ele sabia que não são os objetos que carregam em si um significado, mas são os sentimentos que eles nos despertam que os tornam especiais. Agora finalmente aquele anel tinha uma importância imensurável para ele.
A felicidade de Edward e Bella agora estava completa.
Seis meses depois, Bella, Edward e o filho desceram do carro diante da mansão dos Cullen, na Inglaterra.
O coração de Bella parecia que ia sair pela boca. Estava se testando no limite. Voltar ali era um verdadeiro teste de autocontrole no qual ela não sabia se passaria.
Ao cruzar a porta principal da casa, agora como uma Cullen, e com o novo herdeiro da família em seus braços, com o sangue dos Swan correndo em suas veias, Bella entendeu o quanto o destino podia ser irônico quando queria. Ou talvez ele simplesmente fizesse uso de situações como essa para ensinar a quem estivesse apto a aprender que tudo na vida é irrelevante diante da força avassaladora do amor.
Enquanto os avós e Edward paparicavam o pequeno Matthew, Bella caminhou devagar até chegar na cozinha. Seu olhar percorreu cada canto daquele cômodo, que pouco havia mudado desde que partira. Parecia que veria a mãe a qualquer momento, ou diante da pia, ou do fogão. Com um suspiro profundo, tentando conter-se ao máximo, enxugou uma lágrima que escorreu por seu rosto.
Esme ficou, de longe, observando a nora. Dava para ver em seu rosto a emoção contida. Sabia exatamente o que ela tinha feito... E saber dessa sua atitude fazia com que a respeitasse mais ainda e tivesse a certeza que o filho tinha a seu lado uma grande mulher.
– O que é mais difícil, querida, lembrar ou fingir que não se lembra? – Esme perguntou ao seu lado, assustando-a por não ter percebido sua chegada.
– O quê? – Bella perguntou alarmada, tentando disfarçar.
– Está em seu rosto. Seus olhos te traíram... Mas não se preocupe, os homens não tem sensibilidade para perceberem isso. – Esme a tranqüilizou.
– A cada dia que passa eu te admiro mais, Bella. Sua mãe teria muito orgulho da pessoa generosa e madura que você se tornou. Eu espero que onde quer que ela esteja, possa me perdoar por tudo o que fiz, embora eu mesma não me perdoe. Terei de passar o resto da minha vida carregando minha vergonha por ter sido tão fraca e omissa. Este é o preço que pagarei pelo mal que lhes fiz.
– Esme, por favor, não diga nada a Edward.
– Eu jamais faria isso, Bella. Eu tenho é de agradecê-la por sublimar essas lembranças ruins e fazer meu filho feliz. – Esme disse, comovida.
Bella enxugou o rosto.
– Vamos deixar de tristeza, amanhã é meu casamento e eu estou muito feliz.
– Isso mesmo, querida, todos estamos. Daqui a pouco o resto da turma chega, temos muito que preparar.
No dia seguinte todos iriam cedo para a Itália, no avião de Carlisle. Bella e Edward se casariam numa pequena capela, na Toscana, exatamente como sonharam. Dessa vez as fotos do álbum de casamento seriam verdadeiras e qualquer um que as visse perceberia o quanto os noivos se amavam, pois os computadores podem até criar as imagens, mas só os verdadeiros sentimentos dão essência e vida a elas.
"Navegue, descubra tesouros, mas não os tire do fundo do mar, o lugar deles é lá.
Admire a lua, sonhe com ela, mas não queira trazê-la para a terra.
Curta o sol, se deixe acariciar por ele, mas lembre-se que o seu calor é para todos.
Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda parte, ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde.
Não apare a chuva, ela quer cair e molhar muitos rostos, não pode molhar só o seu.
As lágrimas? Não as sequem, elas precisam correr na minha, na sua, em todas as faces.
O sorriso! Esse você deve segurar, não deixe-o ir embora, agarre-o!
Quem você ama? Guarde dentro de um porta jóias, tranque, perca a chave!"

(Fernando Pessoa)

0 comentários:

Postar um comentário