sábado, 2 de março de 2013

Voltar a viver2 by Bonno


Capitulo II – SOZINHO

            Edward leu pela última vez o nome de Isadora Cullen na fria lápide do túmulo da esposa antes de voltar para casa. Saiu prometendo a Isa que voltaria todos os dias para contar-lhe as novidades sobre o filho. Precisava tocar a vida para frente, mas não seria capaz de deixá-la fora de sua vida. Ainda não.


Narrado por Emmett

A última coisa de que me lembrava antes de acordar em um leito de hospital com uma dor de cabeça lancinante era do rosto ensangüentado de Isa dentro do carro. Ninguém me dizia como ela estava e não me deixavam levantar daquela maldita cama. Eu precisava vê-la, precisava saber se estava viva ou se eu a tinha matado. Pensava em como estaria meu irmão. Deveria estar me odiando naquele momento. Não poderia culpá-lo. Eu mesmo me odiava. Não compreendia direito como o acidente tinha acontecido. Tudo não passava de um borrão. O sinal havia ficado verde me dando passagem livre. Um estrondo. Uma dor forte na cabeça. Escuridão.

Eu precisava saber até que ponto eu tinha acabado com a vida do meu irmão. Tentei mais uma vez me levantar da cama e novamente um brutamontes vestido de branco me impediu. Senti uma leve picada no braço e meu corpo foi tomado por um suave torpor antes que eu caísse novamente na escuridão.

Não sei quantas horas fiquei sedado, mas assim que fui liberado pulei daquela maldita cama de hospital. Será que ninguém entendia que eu precisava estar com a minha família? Na sala de espera, minha família estava à espera de Edward. Ele havia entrado na UTI para ver Isa. Brian estava em uma incubadora recebendo oxigênio. “Meu Deus, o que eu tinha feito?” Não conseguia deixar de pensar que se algo acontecesse com Isa ou com Brian a culpa seria toda minha.

Eu ouvia horrorizado enquanto meu pai me contava como o acidente tinha acontecido. Não conseguia acreditar que um imbecil teria enchido a cara e dirigido em alta velocidade pra acabar batendo justo no carro em que nós estávamos. O desgraçado havia morrido na hora. Pena. Merecia amargar o resto da vida na cadeia por quase tirar a vida de pessoas inocentes. Merecia viver com a culpa e ser devorado por ela a cada maldito segundo de sua vida miserável.

Três dias depois de seu nascimento, Brian pôde ser levado para casa. Já estava fora de perigo e cresceria como uma criança normal. Alívio. Isa continuava em coma e Edward se dividia entre o filho e o hospital. Não falava muito. Eu sabia que ele estava sofrendo. Desde pequeno, sempre que algo o magoava se fechava silencioso em sua própria concha até a dor passar. Assim, quando não estava com Isa no hospital passava o dia trancado no quarto com o filho.

Nunca pensei que alguém pudesse suportar tanto sofrimento como o que meu irmão estava enfrentando. Isa teve que ser submetida a uma cirurgia de emergência para aliviar a pressão no cérebro. Se Edward não tinha enlouquecido ainda, eu estava certo de que faltava bem pouco. Ele não falava, não comia direito, não dormia bem. E eu estava certo. Edward simplesmente perdeu o chão e a razão quando Isa nos deixou. Eu podia ver e sentir a dor que ele tentava sufocar em seu peito enquanto se agarrava ao filho durante o velório. Brian era a única coisa no mundo que o impedia de perder completamente a sanidade, por isso decidimos deixá-lo abraçado ao menino por toda a noite. A seu pedido, o caixão de Isa permaneceu fechado. Edward sequer olhou para ele, não suportaria ver a mulher da sua vida ali. Morreria com ela.

Na manhã do dia seguinte, nos despedimos definitivamente de Isa. Meu irmão permanecia calado enquanto depositava uma rosa vermelha no túmulo da mulher. Alice segurava Brian no colo e olhava em volta em busca de apoio. Suas forças já estavam chegando ao fim. Tomei Brian nos braços e Alice sorriu em agradecimento abraçando minha cintura. Deixamos Edward diante da sepultura se despedindo da esposa e fomos para o carro que nos esperava na porta do cemitério. 

Os dias que se seguiram foram muito difíceis para toda a família, principalmente para Edward. Passava o tempo todo abraçado ao filho como se tivesse medo que ele o deixasse. Cuidava dele como se fosse feito da mais fina e frágil porcelana. Ficava alarmado toda vez que o menino  chorava, mesmo que fosse somente para que lhe trocassem as fraldas ou para que lhe dessem de mamar.

_ Edward, você não precisa se preocupar tanto, meu filho. – minha mãe tentava acalmá-lo.

_ Ele é muito pequeno e frágil, mãe. – respondia simplesmente.

Edward estava enganado. Brian era pequeno sim, mas não era frágil. Só ele não percebia que o menino era tão forte que lhe servia de apoio. Eu sei, era muita responsabilidade para alguém tão pequeno, mas era a mais pura verdade. Edward era o lado frágil naquela relação, só ele não conseguia enxergar a verdade. Era ele quem estava a ponto de se partir a qualquer momento, não o menino.

Narrado por Carlisle

Minha família sempre foi unida, mas depois da tragédia que aconteceu na vida de Edward sentimos a necessidade de uma aproximação ainda maior. Precisávamos apoiá-lo e ele precisava sentir que estaríamos lá para ajudá-lo quando e onde precisasse. Edward se afastou temporariamente do hospital para cuidar pessoalmente do pequeno Brian. Havíamos combinado que quando ele se sentisse seguro novamente a ala da pediatria estaria esperando pronta para recebê-lo. Eu sabia que ele não poderia cuidar de outras crianças sem estar seguro da saúde do próprio filho.

Dois meses depois da morte de Isa, Edward ainda parecia um zumbi. Não se alimentava direito, havia emagrecido muito deixando-nos preocupados. A cada dia parecia mais frágil, deprimido. Sorria apenas para o filho, mas seu sorriso era triste. Seus olhos azuis estavam opacos. Haviam perdido aquele brilho que eu tanto amava. Descuidou-se da própria aparência, deixando a barba crescer e vestindo sempre roupas velhas e maltratadas.

Evitávamos tocar no nome de Isa na frente de Edward. Seu rosto sempre se contorcia de dor quando ouvia seu nome e não suportávamos mais assisti-lo sofrer daquele jeito. É claro que sentíamos saudades, mas Edward era nossa prioridade.  Meu neto crescia assustadoramente rápido. Era um menino forte, um guerreiro Cullen, brincava Emmett. Alice e Esme se desdobravam para que o garoto tivesse sempre uma referência materna presente em sua vida já que infelizmente nunca conheceria a mãe.

Esme chorava todas as noites no nosso quarto antes de dormirmos. Seu coração de mãe já não agüentava mais ver o filho naquele estado e eu sentia que teria que tomar uma atitude em breve, antes que minha mulher também caísse doente. Edward não parecia estar se recuperando e eu não poderia permitir que Esme sofresse mais. Meu peito doía ao vê-la chorar por nosso filho. Decidi que não esperaria mais. Certifiquei-me de que Esme dormia em sono profundo e levantei-me vagarosamente da cama seguindo para o quarto de meu filho. Precisava dar um fim àquele sofrimento todo, nem que para isso tivesse que ser duro com Edward.

A porta do quarto de Edward estava entreaberta e antes de bater percebi que ele não estava sozinho. Havia alguém no quarto conversando com ele. Afastei-me para não ser visto e reconheci a voz de Alice que suplicava a Edward para que reagisse. Ela lhe disse palavras duras, mas que eu sabia que surtiriam um efeito maior do que se fossem proferidas por mim. Voltei para meu quarto orgulhoso de minha menininha. Minha caçulinha podia ser pequena, mas virava uma fera quando se tratava da felicidade do irmão. Deitei-me novamente ao lado de minha mulher com a certeza de que em breve nossas vidas voltariam ao normal. Abracei-me ao meu amor e dormi tranqüilo pela primeira vez em dois meses.


Narrado por Esme

Minha família estava se despedaçando e eu não sabia mais o que fazer para juntar os pedaços. Chorava todas as noites em meu quarto sentindo-me perdida sem conseguir ajudar meu filho a sair da depressão. Assistia calada ao sofrimento de Alice que chorava pelo irmão. Emmett, sempre tão alegre e brincalhão, já não sorria mais. Vivia triste pelos cantos da casa e eu sabia que ele ainda se culpava pelo acidente. Nada do que disséssemos lhe demovia dessa ideia absurda. Carlisle sofria por minha causa. Brian era o único que, em sua inocência, crescia feliz e tranqüilo.

Todos os dias, o lugar de Edward à mesa ficava vazio durante as refeições. Justo ele, que sempre adorou ver a mesa cheia de gente, nos evitava.  Eu sentia que ficaria doente e não demoraria muito. Sabia que Carlisle estava apreensivo por minha causa. Ele também percebia que eu não estava bem. A única coisa que eu temia era que ele tomasse alguma atitude precipitada em relação a Edward. Tentava me fazer de forte para que ele não se preocupasse tanto, mas não acho que estava tendo sucesso.

Certa noite, depois de mais um jantar sem Edward à mesa, senti Carlisle se levantar cuidadosamente da nossa cama. Ele não percebeu que eu ainda estava acordada e saiu do quarto escondido. Eu sabia o que ele ia fazer e morria de medo. Meu coração batia forte no peito esperando que os gritos começassem, mas pouco tempo depois Carlisle retornou ao nosso quarto, deitando-se ao meu lado e aconchegando-se ao meu corpo. Deu-me um leve beijo nos lábios e abraçado a mim, adormeceu.

Acordei sobressaltada durante a noite com o ruído forte de uma porta batendo. Pensei ter ouvido a voz de minha filha gritando e fiz menção de levantar-me da cama. Carlisle me puxou de volta para si, abraçando-me com força dizendo que eu havia sonhado e que o vento havia batido a porta. Esperei para ter certeza de que os gritos não voltariam. A casa estava mergulhada no mais absoluto silêncio e, assim, abraçada ao meu amor, dormi tranqüila.


Narrado por Alice

Desde pequena, sempre fui mais apegada a Edward do que a Emmett. É claro que eu sempre amei os dois de forma igual, mas minha afinidade com Edward sempre foi mais evidente. Acho que por termos idades mais próximas. Emmett era cinco anos mais velho do que Edward enquanto eu era apenas um ano mais nova do que ele. Minha mãe costumava contar que quando eu era bebê só parava de chorar nos braços de Edward e ele se gabava com Emmett dizendo que eu o amava mais. Nossa ligação parecia ser mais uma daquelas coisas espirituais sem explicação lógica. A única coisa que tínhamos certeza é que era forte, muito forte. Por isso, ver meu irmão sofrer daquele jeito por causa de Isa me fazia sofrer também. A dor de Edward era a minha dor.

Dois meses depois da morte de Isa, Edward afundava cada vez mais em um buraco sem fundo e arrastava toda a nossa família com ele. Eu via minha mãe chorando em segredo, escondida em seu quarto. Via meu pai sofrendo sem saber o que fazer para consolá-la e tirar Edward daquela depressão. Via Emmett ainda se sentindo culpado pelo sofrimento de nosso irmão. Era absurdo. Ele achava que se tivesse tomado mais cuidado e olhado para ver se não vinha nenhum carro antes de atravessar o cruzamento poderia ter evitado o acidente. Mas quem poderia esperar que um louco bêbado avançasse o sinal fechado justo naquele momento?

A verdade era que eu já não tinha mais capacidade de agüentar tanta tristeza. Sabia que Edward precisava de um tempo para se fortalecer antes de retomar sua vida e seguir em frente, mas sentia que ele estava a ponto de se partir em mil pedaços. Isso eu não poderia permitir ou eu me despedaçaria também. Após termos jantado mais uma vez sem Edward à mesa, decidi que conversaria com ele naquela mesma noite. Não esperaria nem mais um dia. Diria a ele tudo o que eu pensava e pedia a Deus para me dar a coragem de ser firme o bastante com ele.

Esperei que meus pais se recolhessem e fui para o quarto de Edward. Brian dormia sereno sobre a cama de casal. Podia ouvir o barulho do chuveiro ligado e aproveitando-me da ausência de Edward levei o menino para o quarto de Emmett. Eu já havia pedido a ele que tomasse conta de Brian enquanto eu conversava com meu irmão. As coisas poderiam sair do controle e eu não queria o menino no meio de uma discussão.

Quando Edward saiu do banheiro eu já o esperava sentada em sua cama. Ele parou ao ver que o filho não estava mais lá, me olhando desconfiado.

_ Não se preocupe. Brian está bem e está com nosso irmão. Preciso conversar com você. Sente-se aqui. – disse batendo na beirada na cama ao meu lado.

_ Eu já sei o que você vai dizer, Alice. Mas não quero falar sobre isso agora.

_ Tem que ser hoje, Edward, agora.

Edward virou-se em silêncio para a janela do quarto ficando de costas para mim. Pelo reflexo do vidro eu podia ver seus olhos cheios de lágrimas e minha coragem quase desapareceu. No entanto, eu sabia que se eu não fizesse aquilo ele se perderia definitivamente.

_ Olhe para mim, Edward! – ele permanecia de costas. – Edward? – nada – Ótimo, já percebi que vai ser um monólogo. Que assim seja.

Edward virou-se na direção da porta. Iria fugir. Corri, trancando a porta e retirando a chave colocando-a dentro da minha blusa.

_ Alice, abra essa porta agora! – ele me olhava furioso.

_ Você vai me ouvir, Edward. Quer você queira ou não.

_ Me dê essa chave, Alice! – Edward tremia de nervoso.

_ Você não pode continuar fazendo isso com a gente, Edward. Não é justo. Eu sei que você está sofrendo. Ninguém mais do que eu sabe disso, mas não é justo você se afundar nesse buraco e arrastar toda a nossa família junto.

Edward franziu o cenho, confuso. Ele esteve tanto tempo mergulhado na própria dor que não tinha se dado conta de que sofríamos com ele.

_ Alice, do que você está falando?

_ Meu anjo, você acha mesmo que nós não percebemos a sua dor? Você acha realmente que nós não estamos sofrendo por você? Você está tão mergulhado na sua própria dor que não percebe que esta acabando com a gente, Edward. Vejo você se esgueirando pela casa, saindo escondido todos os dias para ir àquele maldito cemitério. Eu te segui, Edward, eu vi. Eu vejo a nossa mãe chorando todos os dias por não saber o que fazer para acabar com a sua tristeza. Vejo o nosso irmão se sentindo culpado pelo seu sofrimento. Você sabia que ele enfiou na cabeça que poderia ter evitado o acidente? Que deveria ter adivinhado que aquele imbecil ia avançar o sinal? Você sabia que o nosso pai não suporta mais ver a nossa mãe chorar sem poder consolá-la? Não, Edward, você não sabia. Sabe por quê? Por que você se fechou nessa sua maldita concha e não permite que ninguém se aproxime de você.

Edward se sentou na poltrona com as mãos na cabeça e os cotovelos apoiados nos joelhos. O choro represado havia dois meses explodiu com fúria. Eu já havia chegado até ali. Não podia mais recuar. Por mais que me doesse dizer o que eu iria dizer, tinha que fazê-lo.

_ LEVANTE ESSA CABEÇA, EDWARD. PARE DE SENTIR PENA DE SI MESMO E RETOME A SUA MALDITA VIDA! OLHE-SE NO ESPELHO E VEJA O LIXO QUE VOCÊ SE TORNOU. SABE DE UMA COISA? A ISA DEVE ESTAR MUITO DECEPCIONADA COM VOCÊ. TENHO CERTEZA DE QUE NÃO FOI POR ESSE HOMEM FRACO QUE ELA SE APAIXONOU. NÃO FOI ESSE COVARDE QUE SE ESCONDE DO MUNDO QUE ELA ESCOLHEU PRA SER O PAI DO FILHO DELA. PORTANTO, MEU IRMÃO, SE VOCÊ QUISER FICAR SE CONSUMINDO NA AUTOPIEDADE, FIQUE SOZINHO, PORQUE EU ESTOU DESISTINDO DE VOCÊ. – gritei chorando antes de sair correndo do quarto e bater a porta com força.

Eu sabia que Edward viria atrás de mim, mas tinha atingido meu limite e não agüentava mais aquela situação. Emmett me esperava de braços estendidos no corredor. Havia escutado meus gritos e sabia que eu precisava de colo. Joguei-me aos prantos em seus braços e fui levada para o meu quarto. Emmett sentou-se em minha cama comigo no colo enquanto me embalava como a uma criança e acariciava suavemente meus cabelos. Agarrei-me a ele com força enterrando meu rosto em seu peito. A porta do quarto foi aberta, eu sabia quem era.

_ Alice... – Edward tentou falar, mas foi interrompido por Emmett.

_ Chega, Edward!

Edward engoliu em seco fechando a porta do quarto ao sair. Eu chorava e tremia agarrada a Emmett que continuava me abraçando com força.

_ Shh... Acabou, meu anjo, acabou. Não chore mais. Eu estou aqui e não vou a lugar algum.

_ Eu disse coisas muito pesadas pra ele, Emmett. Fui dura demais! Falar da Isa foi crueldade! – consegui dizer entre soluços.

_ Não, Alice. Você só disse o que ele precisava ouvir. Ele tinha que acordar desse pesadelo, minha pequena. E só você tinha poder sobre ele pra trazê-lo de volta pra nós. Agora durma. Eu estou aqui, meu anjo. Eu estou aqui com você.

Não sei por quanto tempo ainda chorei, mas Emmett cumpriu sua promessa e ficou ali abraçado a mim até que eu me acalmasse. E sentindo-me protegida, entreguei-me ao mundo dos sonhos. 


Narrado por Edward

De todos os meus pesadelos, o pior havia se tornado realidade. Isa me deixara. Eu não sabia viver sem ela ao meu lado.  Olhava para o nosso filho sem saber o que fazer. Sentia que tinha que reagir, por ele, mas não tinha forças. Afundava a cada maldito dia num buraco cada vez mais fundo e mais escuro. Não conseguia sair de lá. Minha luz havia se apagado com a partida de Isa. Passava os dias trancado no quarto só saindo para ir ao cemitério. Pode parecer besteira, mas me sentia mais perto dela dessa forma. Não suportava sentar-me à mesa com minha família e ter que encarar o lugar vazio onde antes se sentava a minha mulher, portanto passei a fazer minhas refeições no quarto, sozinho. Doía menos assim.

Brian era a minha única razão para continuar respirando. Eu sabia que ele merecia mais do que o pai zumbi que eu havia me tornado, mas a saudade ainda era mais forte do que eu. Ainda sentia aquele aperto no peito, ainda respirava com dificuldade embora soubesse que precisava escalar de volta aquele buraco escuro e buscar novamente a luz. Faltava-me o fôlego.

Mais uma noite em que eu teria que enfrentar a cama fria sozinho. Aproveitei que Brian havia dormido para tomar um banho. Alice me esperava sentada em minha cama quando retornei ao quarto. Meu filho não estava mais lá. Ela o tinha deixado com Emmett dizendo que precisava conversar comigo. Eu sabia muito bem o assunto daquela conversa e não estava nem um pouco disposto a levar aquilo adiante. Tentei fugir do quarto, mas Alice foi mais rápida trancando a porta e escondendo a chave dentro da blusa. Eu estava acuado.

As palavras duras de Alice ainda ecoavam em minha cabeça depois que ela saiu chorando batendo a porta com força. Ela tinha razão. Eu estava afundando em um buraco escuro e arrastando toda a minha família comigo, inclusive meu filho. Mas o que me fez reagir foi pensar que Isa, onde quer que ela estivesse, pudesse estar decepcionada comigo e arrependida por ter me escolhido como pai do seu filho. Eu precisava falar com Alice, precisava dizer que ela estava certa, tinha que admitir que precisava e queria o apoio minha família que, no fim das contas, sempre esteve ali. Só eu que fui cego e egoísta o bastante para não enxergar a verdade.

Corri para o quarto de Alice. Ela chorava no colo de Emmett. Doeu vê-la ali. Era no meu colo que ela costumava se abrigar quando alguém a magoava. Mas desta vez, eu a tinha magoado. E ela não merecia. Meu egoísmo havia magoado a todos e nenhum deles merecia. Tentei falar com Alice, mas Emmett me impediu. Ela estava em seu limite. Engoli com dificuldade o nó que havia se formado em minha garganta e saí, fechando a porta do quarto. Alice precisava descansar. Eu precisava descansar. Falaria com ela na manhã seguinte, pediria desculpas a todos por minhas atitudes e acabaria de vez com aquela agonia. Levei Brian de volta para o quarto e abraçado ao meu menino dormi esperançoso, pois havia compreendido que não estava sozinho.

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