quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Pena de Anjo por Valentinab2


CAPÍTULO 2



Eu não acreditava em Deus, mas imputavam meu nascimento a um verdadeiro milagre.

Quando meus pais se casaram, minha mãe tinha um prognóstico confirmado de que nunca poderia gerar um filho, devido a um problema congênito nos ovários que a impedia de ovular. Meu pai não se importou com sua esterilidade. Casaram-se completamente apaixonados e convictos de que seriam pais mesmo assim, pois acreditavam que para tanto bastava que tivessem a capacidade de amar, e isso eles tinham.

Um ano após o casamento adotaram meu irmão mais velho, Emmet, que na época vivia em um orfanato e tinha três anos. Dois anos depois, adotaram minha irmã Alice, que trouxeram para casa com apenas um mês de vida. Suas condições de saúde eram precárias, devido à inanição e aos maus tratos que sofrera. Com remédios, cuidados e uma dose cavalar de amor, ela sobreviveu e se tornou a princesinha da casa. Apesar de pequena, enchia a casa com sua alegria.

Esme e Carlisle Cullen se sentiam plenamente realizados com a família que formaram. Seus filhos eram a razão de suas vidas.

Quando Alice tinha quatro anos, minha mãe começou a sentir-se mal. Disseram que se tratava de uma crise de labirintite e a medicaram para que melhorasse. Dois meses depois, as crises de enjôos e tontura continuaram e exames mais detalhados foram solicitados.

Com lágrimas nos olhos, Carlisle colocou em suas mãos um exame que confirmava sua inesperada e inacreditável gravidez. Ela não acreditava ser possível que um bebê estivesse crescendo em seu ventre, pois nem mesmo menstruava.

Choraram de felicidade, abraçados por um longo tempo. Seis meses depois eu nasci. Fui recebido com mais lágrimas e pelo mesmo amor incondicional que era dedicado aos meus irmãos. Fomos amados e tratados da mesma forma, sempre.

Nenhum médico, incluindo eles mesmos, conseguiu explicar como aquela concepção aconteceu e por isso Esme se referia a mim como seu “pequeno milagre”.

Minha mãe sempre frisava para nós que não existia filho da barriga e filho do coração, como muitas amigas dela insistiam em comentar perto de nós, acreditando estarem sendo agradáveis. Para Esme a maternidade vinha obrigatoriamente do coração e não do útero. Ela era agradecida a Deus por ter dado a ela a felicidade de ter vivenciado a gestação de um filho, que era um período mágico na vida de qualquer mulher, mas não me diferenciava de meus irmãos por isso.

E foi nesse ambiente harmônico e acolhedor que crescemos e nos tornamos adultos responsáveis e pessoas de bem.

Todos em casa eram médicos. Apenas eu ainda não tinha me formado, mas cursava medicina também.

Meu pai era dono de um grande hospital e tinha uma condição financeira privilegiadíssima. Independente de sua fortuna, eu, Emmet e Alice tínhamos herdado os bens de nossos avós maternos e éramos donos de um patrimônio invejável.

Até aquela fatídica noite eu tinha certeza que queria ser médico. Era um aluno exemplar e levava meu curso muito a sério.

É claro que me divertia, como qualquer jovem de vinte anos. Já tinha tido algumas namoradas, mas gostava mesmo era de relacionamentos rápidos. Ainda não havia conhecido a mulher com quem tivesse vontade de passar o resto da minha vida. Esperava que ela estivesse em algum lugar onde pudesse encontrá-la.

Quando entrei naquele galpão e vi o corpo torturado daquela menina, algo dentro de mim mudou. Enquanto segurava sua mão e a ouvia pedir para morrer, descobri o que eu realmente queria fazer na vida. Se o Deus da minha mãe escrevia certo por linhas tortas, como ela gostava de dizer, eu tinha acabado de decifrar seus garranchos.

- Pai, vou trancar a matrícula da faculdade de medicina e fazer um curso de paramédico. Quero trabalhar com salvamentos, nas ruas.

Esperei resignadamente uma inédita crise histérica de meu pai, mas me surpreendi com sua calma.

- Tem certeza que é isso que quer, Edward? – Ele falou, ponderado como sempre.

- Tenho, pai. No início, quando entrei naquele galpão, pensei estar no lugar errado, na hora errada, mas depois percebi o quanto me senti útil enquanto segurava a mão daquela menina. É isto que quero fazer, pai. Quero ser o primeiro a chegar. Quero poder dizer à vitimas como ela que não precisam mais se preocupar nem se sentirem só. É isso que eu quero.

- Como os anjos?

- Vocês também pai? Achei que só a mamãe acreditava nisso. – Falei sarcasticamente.

Meu pai balançou a cabeça. Ele e Esme nunca tinham imposto que seguíssemos suas crenças e religião.

- É um belo trabalho, filho. Terei muito orgulho de ter um filho paramédico – continuou, mudando o assunto.

Ele me abraçou ternamente, me apoiando e me dando a certeza maior ainda da decisão que eu tinha acabado de tomar.

Todo o resto da minha família me apoiou. Iniciei o curso no semestre seguinte e me apaixonei por minha profissão.

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