domingo, 15 de maio de 2011

Pena de anjo11


CAPÍTULO 11
by ValentinaLB

Deitei em minha cama e fiquei brincando com seu isqueiro. Um sorriso bobo se negava a sair do meu rosto. Eu estava tão feliz que me assustava a possibilidade de que nada do que eu estava vivendo fosse real.
Deus do céu, Bella tinha me beijado!!
 Tudo bem que não tinha passado de um selinho, mas já era um grande passo para ela. Não poderia desmerecer seu empenho na tentativa de me agradar. Imaginava o quanto de esforço teve de fazer para se aproximar de mim daquela forma.
Há muito tempo que não beijava uma mulher daquela forma tão casta, mas mesmo assim tinha sido maravilhoso. Ainda podia sentir a pressão suave de seus lábios nos meus.
Lembrei-me do cheiro do seu perfume e do seu hálito doce. Tudo em Bella era perfeito. Mesmo sem nenhuma intenção de sua parte ela ainda assim era uma mulher muito sensual, que despertava em mim um desejo imenso.
Desejo esse que era melhor eu sublimar. Se quisesse tê-la para mim, teria de ter muita paciência e esquecer por um tempo minhas necessidades físicas. Seria difícil, mas não impossível. Bella merecia minha complacência. Ela já tinha sofrido muito. Doía lembrar-me da situação humilhante em que a encontrei naquele chão imundo. Nenhum ser humano deveria experimentar tamanha crueldade quanto a que Bella viveu nas mãos daquele estuprador.
Abandonei as lembranças ruins e voltei a lembrar-me do nosso primeiro beijo. Adormeci pensando em Bella.
Acordei cedo para iniciar meu turno. Era meu último dia de trabalho antes das férias. Tinha trabalhado dois anos seguidos e agora iria finalmente ter quarenta dias para descansar. Eu precisava desta parada, estava exausto.  Agora teria tempo de me dedicar exclusivamente a Bella. Queria ficar junto dela o máximo possível.
Sem muito tempo nem privacidade para falar no celular, passei o dia enviando mensagens para Bella. Ela tinha me dado seu número enquanto íamos para o parque, no dia anterior.
A cada resposta sua meu coração pulava no peito. Suas mensagens eram sempre doces e carinhosas.
Acertamos que Bella me esperaria no saguão do hotel. Iríamos jantar juntos.
Eu estava louco de saudades dela. Apesar de nos conhecermos a pouco tempo, pelo menos nesta vida, já dava pra sentir que meu amor por ela era avassalador.
Eu evitava pensar naquele episódio da igreja, mas vez ou outra era tentador aceitar como verdade as palavras daquele anjo.
“Meu Deus, eu já o chamava de anjo sem nem perceber!!”
Tomei um longo banho e saí o mais rápido que pude, depois de me despedir de toda a equipe, que fez questão de me dedicar boas férias.
Saber que Bella me esperava fez meu coração se acelerar assim que entrei no hotel. Não demorou muito e a avistei, sentada em um sofá perto de uma enorme televisão. Ela lia uma revista displicentemente e não se atentou para a minha aproximação.
Estava linda. Bella sempre se vestia de forma bem feminina, que a deixava encantadora, nunca se esquecendo de disfarçar os pulsos.

- Oi amor! – falei, assustando-a por estar parado bem na sua frente.
- Oi! Não te vi chegando. – Seu sorriso me fez esquecer todo o cansaço do dia exaustivo de trabalho.
Ela se levantou meio sem jeito, mexendo as mãos como se não soubesse onde colocá-las.
- Você está linda! – Elogiei-a, orgulhoso da beleza de minha namorada.
- Obrigada, Edward. Você também...
Bella estava pouco confortável. Melhor mudar o rumo da conversa.
- Vamos para o restaurante ou comemos lá na suíte mesmo? – Queria ficar sozinho com ela, mas era melhor deixá-la escolher.
- Se não se importar prefiro comer lá na suíte. A gente fica mais à vontade – falou.
- Claro! Eu também acho.
Estendi minha mão e esperei para ver o que aconteceria. Bella hesitou minimamente e por fim apertou minha mão, fazendo um tremor percorrer todo o meu corpo. Sua mão parecia tão frágil e pequena quando envolvida pela minha.
Subimos de mãos dadas.
Enquanto comíamos, puxei assunto, contando à Bella o que tinha feito durante o dia.
Ao terminarmos, depois de uma deliciosa taça de sorvete de sobremesa, fomos para a sala e nos sentamos no sofá. Estávamos na mesmo poltrona, mas mantive certa distância de Bella, apenas me virando para ficar de frente para ela.
Bella começou a falar sobre o seu dia, contando que tinha ido à terapia.
 Achei ótimo. Em casos como o dela, era indispensável um acompanhamento psicológico especializado.
- Você toma algum tipo de medicamento? – Perguntei, interessado em saber mais sobre sua vida.
- Sim, alguns tantos. Às vezes eu paro de tomar por uns tempos, quando eles começam a me fazer mal, mas não me sinto bem quando faço isso. Fica bem mais difícil controlar minha vontade de... – ela parou bruscamente o que estava falando – hã... minha ansiedade – corrigiu.
Eu sabia muito bem o que ela iria dizer. Então era a falta dos remédios que a deixava mais depressiva e conseqüentemente mais propensa ao suicídio.
- Então por que você para, Bella? Seu médico acha seguro? – Tentei ao máximo controlar minha aflição.
- Eu não conto pra ele quando paro – falou, rindo sem graça.
- Bella, não pode fazer isso. Quimicamente seu cérebro depende desses remédios para manter seu equilíbrio emocional. Deus sabe o que pode acontecer se entrar em depressão novamente – falei, tentando não demonstrar que além de Deus, eu também sabia muito bem o que acontecia:  a vontade de se matar.
- Você está parecendo meu pai. – Bella não estava chateada, mas também não falou brincando.
- Eu só quero o melhor pra você Bella. Não pare mais de tomar os remédios, por favor. – Pedi.
- Tudo bem Edward, eu não vou parar.  Falei de você para o Dr. Davis, meu psiquiatra. – Disse baixinho, mudando de assunto.
- Contou que estamos namorando? – Perguntei, sorrindo ao falar “namorando”.
- Ham, ham. – Respondeu de uma maneira bem infantil.
- E?...
- Ele achou muito bom. Ele só acha que eu preciso deixar bem claro para você as minhas expectativas e que devo saber também quais são as suas, principalmente no que se refere a um envolvimento mais íntimo entre a gente. – Bella estava visivelmente envergonhada ao fazer este comentário.
- Se quiser, podemos conversar sobre isso. Concordo com ele, é importante expormos nossos sentimentos.
- Você tem consciência que eu posso nunca me curar, Edward? E que se for assim, nunca poderemos ter uma relacionamento sexual? – Bella fez esta pergunta de cabeça baixa, evitando meu olhar.
- É uma hipótese, Bella, mas não acredito nela. Em circunstâncias comuns seria difícil sim, você se curar, mas existe algo entre nós que muda tudo... Nós nos amamos. Você vai aprender a confiar em mim e aos poucos eu não vou mais ser pra você um simples homem, igual ao que te fez mal.
Então, voltando alguns anos em minhas memórias, contei para Bella uma das partes que eu mais adorava do meu livro preferido, O Pequeno Príncipe.
... - Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho. Após uma reflexão, acrescentou: - Que quer dizer "cativar"?
- É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. - Significa "criar laços"...
- Criar laços?
- Exatamente - disse a raposa. - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo... (Saint Exupéry)
- Eu também serei único para você, Bella. Não parecerei com nenhum outro homem que conhece ou conheceu. Não terá medo de mim, pois não te farei lembrar de mais ninguém a não ser de mim. Não seremos apenas um homem e uma mulher, seremos eu e você, e tudo o que fizermos será único...
Bella ficou me olhando com os olhos marejados.
- Foi tão lindo o que disse, Edward. Você faz tudo parecer tão simples.
- E é Bella, desde que deixemos as coisas acontecerem por si só, sem forçarmos nada.
Deixe seu corpo te levar, faça apenas o que ele te pedir. Não se preocupe em me agradar. Só o fato de você existir já me faz o homem mais feliz do mundo. São os laços que nos ligam que regerão nosso relacionamento.
Bella levantou o braço e sua mão tocou levemente meu rosto. As pontas de seus dedos contornaram meus lábios. Fechei os olhos e me entreguei por completo àquela carícia.
Sua outra mão seguiu a mesma direção e pousou em meu rosto.
- Bella – sussurrei – posso te tocar também? – Perguntei, louco de vontade re retribuir aquela sensação maravilhosa que estava sentindo.
Um leve balançar de cabeça para cima e para baixo me fez crer que sim.
Levei minhas mãos até suas têmporas e delicadamente retirei as mechas de seu cabelo que caíam sobre seus olhos.
Bella estava rígida, mas sua expressão era serena, de quem estava gostando, mesmo que temendo aonde aquilo chegaria.
O encontro de nossos lábios deu-se inevitavelmente. Com o coração aos pulos e as mãos tremendo, minha língua invadiu calmamente sua boca. Fui delicadamente movendo-a, deliciando-me com o sabor doce daquele beijo.
Bella ficou quietinha. Acredito que mais por inexperiência do que por medo.
Sem abusar de sua condescendência, não demorei-me com o beijo, terminando-o com alguns selinhos em seus lábios molhados por nossas salivas.
- Tudo bem com você, Bella? – Perguntei, com a testa encostada na sua e nossas bocas praticamente unidas ainda. Minhas mãos continuavam segurando sua face.
- Ham, ham! – Eu adorava esse seu jeitinho de responder.
- Tudo bem se fizermos de novo? – Sorri de felicidade ao perguntar, independente se aquilo se repetiria ou não.
- Ham, ham! - Bella também sorriu, acentuando ainda mais a beleza de seu rosto, rosado pelo acanhamento.
E, como se conhecesse o caminho há muitos e muitos anos, minha boca voltou a colar-se a sua, extasiando-se com aquele beijo quase angelical.

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