terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Faz de conta que foi assim7

CAPÍTULO 6 – CASTELO DE AREIA
TANTO QUERER
(Geraldo Azevedo – Nando Cordel)
Quando a gente se encontra,
cresce no peito
um gosto de vida,
um sorriso,
tanto querer...
É quando a luz da saudade
acende de um jeito
Se faz tanto tempo a gente
não quer nem saber
Agora será como sempre,
eterno,
presente...
Certeza que mesmo distante,
em nós resistiu.
Seja luar,
amanhecer,
saudade vem e vai,
AMOR é o que me levará a você...
...”Não vamos fuçar nossos defeitos
Cravar sobre o peito as unhas do rancor
Lutemos, mas só pelo direito
Ao nosso estranho amor”...


Edward atendeu o telefone meio irritado. O que Conrad Allister poderia querer com ele às duas da madrugada?

Não tinha lido o relatório anterior e nem leria o último que ele estava elaborando, mesmo que tivessem lhe custado dez mil dólares.

– Alô!

– Ed, aconteceu uma coisa horrível!

A sonolência amortizou o susto de Edward.

– O que foi, Conrad? – Perguntou, pouco interessado.

– Estava seguindo Isabella aqui em New York e acabei perdendo-a de vista, depois que fugiu do aeroporto, desistindo de ir para a Inglaterra se casar. Só agora descobri seu paradeiro e não tenho boas notícias para lhe dar...

As palavras afobadas do detetive fervilhavam na cabeça de Edward. “New York”... “Fugiu”... “Casar”... “Inglaterra”... “Notícia”... “Horrível”...

Pensou tratar-se de um pesadelo. E dos piores que já tinha tido.

– Isabella levou um tiro durante um assalto e corre risco de morte! – Conrad finalizou a sentença que ainda parecia sem nexo em sua cabeça.

Edward sentou-se em choque na cama, agindo como se uma descarga elétrica de milhões de volts o tivesse atingido.

– O... O que você está dizendo?

– Me informaram que ela está em coma induzido depois da cirurgia em sua cabeça. A enfermeira falou algo sobre perda de massa encefálica e sobre perda de memória, mas não entendi muito bem. Amanhã de manhã, quando o médico dela chegar, terei melhores informações. Acho que ela não escapa.

A cada segundo que se passava parecia que a potência da descarga elétrica aumentava.

– Irei para New York o mais rápido que conseguir.

Edward pulou da cama sem saber o que fazer primeiro. O desespero o tomou de forma que não conseguia concatenar suas idéias. Ligou para Emmet, contando o que acabara de saber. Estava à beira de um ataque nervoso.

– Ed, fica calmo. Estou indo par o seu apartamento. Vai trocando de roupa, toma uma água, que quando eu chegar aí a gente vê o que faz.

Emmet percebeu que o amigo estava em pânico e sabia que não podia deixá-lo sozinho numa hora daquelas.
Edward abriu o guarda-roupa e não conseguia achar algo para vestir. Um único pensamento tomava conta de sua mente: Bella estava morrendo!!

Ele conseguia conviver com sua indiferença, com seu ódio, com seu desprezo... Mas imaginá-la morta era uma dor maior do que poderia agüentar.

Edward balançou a cabeça tentando espantar o pessimismo. “ Ela não vai morrer, não vai!! Bella é forte e agüentará!”

Com a ajuda do amigo conseguiu se acalmar e prepararem a ida para New York. Jasper cobriria a falta deles enquanto estivessem viajando.

Agora não havia nem medo, nem covardia, nem ódio, nem nada que o impedisse de ir ver o amor de sua vida, ainda que pela última vez.

Antes de sair, Edward pegou o envelope lacrado que continha o relatório do mês passado e levou consigo. Queria entender melhor o que Conrad tinha falado sobre Isabella estar de casamento marcado na Inglaterra.
Durante o vôo, leu estarrecido que Bella, “Sua Bella”, estava de mudança para a Inglaterra, onde se casaria com James, seu atual namorado. Edward achou que enlouqueceria, tamanha a angústia que se apoderou de seu coração. Talvez aquele fosse o último preço a pagar por sua crueldade com Bella: Perdê-la pela vida e pela morte.

Conrad os esperava no aeroporto, como haviam pedido.

Enquanto iam de taxi para um hotel, o investigador foi pondo Edward a par de tudo:

– Eu queria fazer um relatório completo da mudança de Isabella para a Europa, então peguei o mesmo vôo que eles e com a ajuda de um amigo que trabalha no JFK, consegui entrar no embarque internacional pela entrada de funcionários. Fiquei sentado ao lado deles. Bella me parecia bem inquieta, até que de repente ela olhou para ele e disse que não iria viajar mais. – Conrad parecia mais assustado com a atitude surpreendente da moça do que com o acontecido. - Eu gravei o que conversaram, mas a qualidade está ruim porque ainda não tive tempo de melhorá-la.

Conrad ligou o play e entregou o pequeno gravador para Edward, que o levou próximo ao ouvido, tentando escutar melhor.

Havia muito barulho e vozes misturadas, mas dava para ouvir claramente.

– James, me desculpe, mas eu não posso ir.

– Por que isso agora, amor? Você só está assustada. Quando chegarmos lá se sentirá mais calma.

– Não, James, eu não posso voltar para a Inglaterra... Definitivamente não posso. E também não conseguirei ser a mulher que merece. Não suportaria te contaminar com minha infelicidade. Me desculpe, me desculpe...

– Bella, eu te amo muito, quero ser seu marido e te fazer feliz como nunca foi, mas se insistir com este absurdo e sair deste aeroporto, será para sempre. Nunca mais me verá. Não posso agüentar mais isso...

– Você vai encontrar alguém que te ame como merece, James.

Uma alegria despropositada tomou conta dele. Ouvir Bella dando um fora no noivo tinha um sabor de vitória para ele.

Mas então se lembrou de algo que ouvira: “Não suportaria te contaminar com minha infelicidade.”
Isabella realmente era infeliz!!... E a culpa era sua. Ela estava morrendo e ele não teria mais tempo para tentar mudar isso... Um novo tipo de remorso o tomou, o remorso pelo tempo que perderam.

Conrad continuou com sua narrativa.

– Eu saí correndo para encontrá-la no saguão, já que tive de voltar pela área dos funcionários. Cheguei a tempo de vê-la entrando em um taxi. Anotei a placa, mas não consegui segui-la. Passei horas tentando descobrir de quem era o taxi e quem era o motorista. Só o encontrei muito tempo depois. Perguntei dela e ele se lembrou na hora, me contando que a deixou em uma farmácia ao lado do New Yoker Hotel. Quando eu já estava indo embora ele me entregou seu cartão e me pediu para, caso a encontrasse, avisá-la que tinha esquecido sua bolsa em seu taxi. Tentei persuadi-lo a me entregar, mas ele falou que só devolveria em mãos.

Foi por isso que não a identificaram.

– A farmácia que ele me indicou estava fechada pela polícia quando cheguei lá. – Conrad continuou, diante dos ouvidos atentos de Edward e Emmet. – Pedi informações e o porteiro do hotel ao lado me contou que tinha acontecido um assalto no estabelecimento e que uma garota loira tinha sido baleada. Pela descrição que ele deu e pelo horário que aconteceu, desconfiei que era Bella. Liguei para alguns jornalistas amigos meus e não demorei em descobrir que a garota baleada durante o assalto tinha sido levada para o Mount Sinai Medical Center. Lá, me passando por jornalista policial, eu pude confirmar que se tratava de Isabella, apesar deles não terem nenhuma informação sobre sua identidade. Hoje de manhã, depois que te liguei, tive acesso a seu primeiro boletim médico. Explicava que ela deu entrada na emergência alerta e falando, mas não sabia dizer quem era, nem a idade e nem o que estava fazendo na farmácia. O médico falou que ela está com amnésia retrógrada irreversível, pois o tiro afetou a região da memória. Depois da cirurgia de retirada da bala, o cérebro dela começou a inchar e eles tiveram de induzir o coma para protegê-la de outros danos. Ela está mal, Edward!

Edward e Emmet ouviram tudo estarrecidos.

– Como assim, amnésia retrógrada? – Edward quis saber mais.

– Parece que ela nunca mais vai se lembrar de nada que aconteceu na vida dela antes do assalto. O médico disse que serão necessários novos exames para confirmar este prognóstico, mas que é quase certo.

– Meu Deus!! – Foi tudo o que Edward conseguiu dizer. - Assim que deixarmos as malas no hotel, vamos direto para o hospital, Emmet. Eu preciso ver Bella urgentemente.

– Ed, acho que isso vai ser impossível. Eu bem que tentei; e olha que não há nada que eu não consiga fazer; mas não me deixaram entrar na UTI. Só é permitida a entrada de parentes – interveio Conrad.

– Eu falo que sou o marido dela! – Edward falou sem pensar, irritado com a possibilidade de ser barrado no hospital.

– Se ela não se lembra mesmo de tudo o que lhe aconteceu, suas possibilidades de reconquistá-la aumentaram bastante, Ed. Pra falar a verdade, parece até que o destino está dando uma mãozinha pra você.

– Emmet pensou alto, arrependendo-se logo em seguida. - Desculpe-me, cara, foi mal! É claro que não tem nada de bom numa tragédia dessas.

A mente de Edward ainda estava presa nas primeiras palavras de Emmet, ignorando por completo suas desculpas.

A amnésia de Bella significaria sua redenção, caso ela sobrevivesse? Sem lembrança não haveria o crime. Sem crime não haveria culpado...

A chegada do taxi diante do hotel o tirou de seus devaneios.
Edward solicitou um quarto duplo para ele e Emmet e outro conjugado para Conrad. Sua facilidade de transitar nos lugares seria muito útil para conseguirem informações sobre Bella.

O detetive adorou o fato de poder sair de seu reles hotelzinho no Queens e se hospedar no Tramp Soho New York Hotel, em Manhattan. Buscaria suas coisas assim que desse.

– Ed, - Conrad falou enquanto subiam pelo elevador – essa história de querer se passar por marido da Bella é sério?

Em sua cabeça a possibilidade de um grande negócio começava a despontar.

– Se for o único jeito de vê-la, sim.

– É que eu conheço um cara, um ex-agente do FBI, que mexe com identidades falsas. Como ninguém sabe quem é Isabella, ele poderia lhe conseguir documentos que provassem que eram casados.

– Nem pensar, isso é furada cara! Como advogado, posso listar pelo menos uns dez crimes que Ed estaria incorrendo – Emmet se adiantou.

– Tudo bem então, é que eu pensei que ele estivesse disposto a fazer qualquer coisa por amor. – O detetive se desculpou.

Edward prestava absurda atenção naquele diálogo quando a porta do elevador se abriu.

Na cabeça deles o assunto não tinha terminado.

– Ed!

– Emmet!

– Conrad!

Chamaram ao mesmo tempo, já no saguão do hotel.

Emmet queria dizer a Edward que por mais que se tratasse de um crime, se fosse importante para ele estar perto de Bella, daria o maior apoio naquele plano absurdo; Conrad queria dizer a Emmet que em vinte anos de profissão, nunca vira um trabalho de Roarke dar errado; Edward queria dizer a Conrad que gostaria saber mais sobre os serviços que seu amigo prestava.

Apenas olhando um para o outro, entenderam o que deveriam fazer. Entraram de volta no elevador e foram para o apartamento de Edward e Emmet. Aquele assunto necessitava de completa privacidade e sigilo.

– Conrad – Edward falou, assim que fecharam a porta do quarto – gostaria de conversar com esse seu amigo.


...”E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também”...


Edward não mediria esforços para estar com Isabella agora. Já tinha sido covarde, omisso e cruel com ela, mas agora estava decidido a ajudá-la. Se para isso precisasse de documentos falsos, arriscaria até sua liberdade. Nada seria mais importante em sua vida, agora, do que o amor que sentia por ela.

– Na verdade eu nunca o vi. - Explicou o detetive - Ele nunca expõe sua identidade. Já fiz trabalhos para ele, mas nunca nos encontramos. Tem uma loira que faz a intermediação para ele. Ele faz muito mais do que documentos falsos. Dizem que o cara era do Marshals Service, o Serviço Federal de Proteção às Testemunhas, do FBI. Parece que ele cansou de trabalhar pro Tio Sam e resolveu trabalhar para os bandidos, que pagam bem melhor. O que eu sei é que ele e sua equipe criam novas vidas e identidades para mafiosos que querem desaparecer do mapa. Ele é conhecido como Roarke por causa daquele seriado “A Ilha da Fantasia”, aonde as pessoas iam para um tipo de paraíso tropical realizarem sua fantasias, que eram criadas pelo anfitrião e seu ajudante nos mínimos detalhes.

– “Patrão, o avião!!” – Emett imitou o anãozinho da Série, mostrando que se lembrava do programa. O riso serviu para descontraírem um pouco. Era o maior anão que eles já tinham visto.

– O cara é excepcional!! Se você quiser ele arruma mais que documentos para você, ele cria a sua vida inteira de casado com Bella, mas vai ter de colocar a mão no bolso com vontade... Bem, Isso se ela estiver com amnésia mesmo... E se sobreviver... – Conrad completou.

A idéia era completamente maluca, mas Edward ainda assim queria conversar com a assessora do tal Roarke. O detetive continuou explicando como era o serviço que o ex-agente prestava.

– Conrad, marque um encontro entre mim e essa loira o mais rápido possível e depois vá para aquele hospital e me passe, minuto a minuto, tudo o que estiver acontecendo com Bella.

– Emmet, por favor, me ajude a providenciar para que Bella tenha o melhor tratamento que o dinheiro possa pagar.

Edward estava finalmente com as rédeas de sua vida nas mãos. Antes tarde do que nunca, pensou.
Os cifrões dançavam diante dos olhos de Conrad Alister. Se o serviço fosse realmente contratado, sua comissão seria gorda.

– Tem certeza do que está fazendo, Ed? – Emmet perguntou quando estavam sozinhos.

– Não, Emmet, não tenho... Mas cansei de fazer o que julgava certo. Agir racionalmente só me afastou de Bella cada vez mais. Quero ser de novo aquele garoto de dezoito anos que queria fugir com uma menor para outro país, acreditando que amor era tudo o que precisavam para serem felizes. Tá faltando um pouco de loucura e inconsequência na minha vida, amigo.

– Conte comigo para o que der e vier, Ed Masen.

Edward sabia que a amizade e fidelidade de Emmet eram inquestionáveis. Amava-o por isso.

Depois de duas horas de ansiedade, recebeu a primeira ligação do hospital.

– Ed, Uma moça chamada Rosalie Hale irá procurá-lo hoje, às vinte e duas horas, no hotel. Eles vão revirar sua vida antes de irem aí, Cullen. Eles só trabalham com total segurança.

– Tudo bem, não tenho nada a esconder.

– Eu conversei com outro médico. Estou me fazendo passar por um jornalista que está cobrindo essa matéria

– falou orgulhoso do seu desempenho. - Informei-me e me disseram que ela permanece estável. Fizeram novos exames e continuam achando que a perda de memória é irreversível. O médico acha que o coma induzido pode ser necessário por um tempo maior. Tem um investigador da polícia que está acompanhando o caso. Ele já veio aqui várias vezes, a enfermeira comentou. Quer o depoimento de Bella de qualquer jeito. O tal do Black parece ser tão insistente quanto eu.

– Obrigado. Continue me ligando sempre que houver novidade. Pagarei por sua dedicação exclusiva, não se preocupe. – Edward agradeceu.

Emmet ligou para a administração do hospital e se apresentou como um empresário que tinha ficado consternado com a situação da garota baleada e que queria pagar o seu tratamento na Clínica Particular do
Hospital, porém gostaria de ficar anônimo.

A administração do Mount Sinai não se opôs. Já estavam acostumados com este tipo de filantropia. Solicitou apenas um depósito compulsório para garantir o pagamento e passou o número da conta onde as despesas futuras com a paciente seriam depositadas, mediante fatura enviada por e-mail.

Depois de tudo resolvido, Edward tomou um banho e deitou em sua cama. Faltavam três horas para o encontro. Tentaria descansar um pouco... Isso se conseguisse manter seus pensamentos sob controle.

Sem conseguir esperar, ligou para Conrad para ter novas notícias, mas o quadro continuava o mesmo.
Edward queria essa documentação o mais rápido possível, para poder ver Bella. A história da “Ilha da Fantasia” não saía de sua cabeça. Já tinha assistido alguns capítulos da série, num desses canais que passavam programas dos anos setenta. Tudo sempre terminava bem para os visitantes e eles iam embora felizes e realizados. Bem que podia ser assim com ele e Bella, sonhou acordado.


Conrad não tinha dito que a tal Rosalie era tão linda. Aparentava ter a mesma idade que ele, supôs.

– Boa noite, Stª Hale. Entre, por favor. – Edward a cumprimentou.

– Boa noite, Sr. Cullen. – respondeu com uma voz sedutora.
Sentaram-se na mesa da anti-sala. Emmet ficou no quarto, evitando ser visto.

– O Sr. McCarty não irá participar de nossa conversa? Não há necessidade que fique no quarto. – Rosalie falou, mostrando que tinha completo controle de tudo o que acontecia ali.

Edward ficou um pouco constrangido com a situação e chamou o amigo para junto deles.
Assim que passou pela porta, Emmet se encantou com a beleza da moça. Abriu seu melhor sorriso, acentuando as covinhas em sua face, que lhe davam um aspecto quase infantil.

– Boa noite, Stª Hale. Vejo que não se parece em nada com o Tatoo – brincou.

Aquele monumento de mulher definitivamente não lembrava o anãozinho da série, pensou.
Recebeu um olhar frio como resposta, mas não se importou, gostava de mulheres difíceis.

– O que quer de nós, Sr. Cullen? – Rosalie foi direta.

– Bem eu... Eu ... É... Eu queria...

– Quer que criemos um casamento perfeito para o senhor e Isabella? – Ela se adiantou, impaciente com a gagueira de Edward.

– Na verdade isso é tão surreal que eu nem sei o que estou desejando.

– Podemos criar a fantasia que quiser, desde que tenha dinheiro para pagar, o que não parece ser seu caso. Apesar de rico, não cremos que tenha cinco milhões de dólares em cash para tornar Isabella Swan sua esposa feliz e apaixonada... Este é o preço da sua felicidade, Edward Cullen...

– Cinco milhões de dólares?? – Emmet perguntou, espantado.

– Geralmente cobramos menos, mas este é um caso especial. Um dos protagonistas não está de acordo com a fantasia. Esta é uma regra que nunca quebramos, mas como ela está com amnésia e não se lembrará de nada, abriremos uma exceção.

Edward percebeu que em pouco tempo eles já conheciam detalhes do caso. Deviam ser realmente bons no que faziam.

– O que eu teria em troca de tanto dinheiro?

– Uma vida nova. Com passado e presente. O futuro fica por conta do cliente. Arrumaremos documentos, lembranças, casa, até filhos se quiser. É claro que não podemos matar todos que conhecem a verdadeira história de vocês, então é necessário que se afastem dos lugares onde podem ser reconhecidos. Lembre-se, Sr. Cullen, existem limitações. É apenas uma fantasia, como um lindo e perfeito castelo de areia... Mas ainda assim, de areia.

– Mas como vocês fariam isso? – Perguntou incrédulo.

– Sr. Cullen, diga-nos apenas o que quer. Como fazer é por nossa conta. Posso garantir-lhe que ficará satisfeitíssimos. Somos extremamente minuciosos e detalhistas. Nossa equipe conta com uma rede de profissionais de todos os ramos. Desde funcionários do alto escalão do governo até o mais simples do cidadão.

– Quanto tempo levariam?

– Somos rápido. Quanto mais material de trabalho nos passar, menor será o tempo.

– Que tipo de material?

– Passarei uma lista assim que efetuar o pagamento. O Sr. Alister disse que tem relatórios sistemáticos da vida dela nos últimos cinco anos. Isso será excelente. Precisaremos também das malas dela e da bolsa, mas já sabemos como conseguí-las.

– Eu tenho de digerir todas essas informações e verificar minha capacidade de pagamento. Assim que tiver uma resposta, entro em contato. – Edward falou.

– Ficaremos aguardando.

Rosalie despediu-se e foi embora, seguida pelo olhar malicioso de Emmet que não conseguia disfarçar o quanto se interessou pela moça.

– Foi bom enquanto durou, Ed. Você não tem cinco milhões para bancar esta loucura.

– Não, não tenho...

– Parecem que são profissionais. Coisa grande, heim!!

– Pelo preço que cobram, tem de ser serviço de primeira.

Edward se deitou e ficou mirando o teto. Seu coração estava apertado, pensando no sofrimento de Bella naquele leito de hospital. Mais uma vez ela estava lutando para sobreviver, vítima da crueldade alheia. A vida tinha sido muito injusta com ela, pensou, imaginando a solidão que poderia estar sentindo naquele hospital.

Como gostaria de fazê-la feliz!!! De ter a oportunidade de consertar seus erros e devolver à Bella toda a alegria que lhe foi negada.

Cinco milhões!! E depois diziam que a felicidade não tem preço... Podia não ter para aqueles que têm a sorte de encontrá-la pela vida, mas para ele e Isabella só restava uma opção: Comprá-la.

Não tinha como levantar essa quantia sem dispor de parte de seus bens. Poderia usar as suas ações da Netsale como garantia em um financiamento, mas precisava do dinheiro com urgência e não poderia se dar ao luxo de esperar. A menos que...


...”De jeito maneira
Não quero dinheiro
Quero amor sincero
Isso que eu espero
Digo ao mundo inteiro
Não quero dinheiro
só quero amar!”

O ato que estava preste a cometer poderia ser visto como rebeldia, mais para Edward era mais que isso, era seu “grito de independêcia”, uma forma de romper definitivamente com a cultura aristocrática e preconceituosa que norteou sua criação.

 Levou algumas horas no telefone até que encontrou um interessado.

Exatamente pelo mesmo valor dos serviços de Roarke, vendeu o anel que herdara do pai, a peça que representava o “orgulho” dos Cullen. O preço alto conseguido na jóia foi mais por seu valor extrínseco do que pelas pedras preciosas e pelo ouro que continha. O anel era uma desejada peça de coleção.

Manteria a venda em segredo. Não queria enfrentar a ira do pai muito menos tê-lo por perto neste momento. O colecionador que o comprara era extremamente discreto e não faria alarde de sua nova aquisição.
Havia uma ironia naquilo tudo. A fortuna e o orgulho dos Cullen tinham sido os motivos de ter se separado de Bella... Agora usaria o símbolo máximo do poder desta família para devolver-lhe a felicidade que lhe foi tirada. Era mais do que justo!!!

Não era um bem material valioso que queria deixar para seus filhos, Edward desejava mesmo é que eles se orgulhassem dele. Queria que seus herdeiros o vissem como um homem honrado e justo, capaz de colocar o amor acima do dinheiro e a felicidade acima do preconceito.

Não se lembrava de já ter feito algo fora da lei como agora. Estava criando um plano baseado na mentira para enganar Bella, mas ainda assim era a primeira vez que se orgulhava de sua coragem. Não se enxergava mais como um covarde nem como um irresponsável. Estava lutando por Bella pela primeira vez na vida.


O dinheiro levaria dois dias para estar na sua conta. Teve de voltar a Massachusetts para entregar o anel para o especialista que intermediava a venda. O remorso tantas vezes presente na vida de Edward ficou de fora desta vez. Estava completamente convicto que fazia o certo. Assim que ficou liberado, voltou imediatamente para New York.

Bella continuava em sua batalha pela sobrevivência, vencendo obstáculo por obstáculo.
Assim que transferiu os cinco milhões para a conta na Suiça, soube que não tinha mais volta. A contagem regressiva para sua felicidade estava acionada...

Edward sabia que independente de Isabella sobreviver ou não, o dinheiro não seria devolvido. Toda a garantia do sucesso de seu plano vinha da esperança que aquecia seu coração, na qual se agarrava para não desmoronar. A morte de Isabella não era mais uma possibilidade cogitada... Não para Edward!!


Edward leu com lágrimas nos olhos a certidão de casamento, devidamente vincada e amassada, como deveria ser um documento de três anos atrás.

Era a materialização de um sonho. Um sentimento de plenitude o invadiu. Sentia-se com dezoito anos novamente. Os mesmos planos... A mesma esperança...

O passaporte de Bella também estava pronto. Dentro o carimbo italiano identificava onde tinham passado a lua de mel, conforme planejaram enquanto namoravam por cartas.

As cartas... Foram elas que nortearam todo o trabalho da equipe de Roarke. Tanto as que Edward entregou, com recomendações expressas que fossem devidamente conservadas e devolvidas, quanto as que encontraram na mala de Bella. Ali estavam os sonhos juvenis de dois adolescentes que se amavam loucamente.

Edward procurou o balcão do hospital encenando uma exagerada ansiedade de marido que acabara de descobrir o paradeiro da mulher desaparecida.

– Por favor, acredito que a moça que deu entrada há uma semana aqui no hospital seja minha esposa, Isabella Cullen.

Edward apresentou a certidão de casamento e uma foto dele com a esposa.

Lembrou-se da entediante e cansativa tarde no estúdio fotográfico, tirando fotos na frente de um painel azul, junto de uma garota com as mesmas características de Bella. Com a ajuda de maquiagem e figurinos, criaram diferentes tipos de momentos que comporiam os álbuns de casamento, lua de mel, passeios, festas com amigos e momentos do dia-a-dia deles. As imagens do rosto de Bella, resgatadas de suas fotografias pessoais, foram inseridas depois, usando técnicas de computação gráfica.

A enfermeira olhou bem para a rosto na foto e confirmou ser Isabella.

–Oh meu Deus, é ela sim, senhor. Que bom que alguém a encontrou!

– Eu gostaria de vê-la o mais rápido possível.

– Vou chamar a enfermeira chefe e então providenciaremos suas roupas para entrar na UTI.

– Oh meu Deus!! – Saiu exclamando, demonstrando uma felicidade sem tamanho.

Edward tentava manter a calma, mas estava extremamente nervoso. Além do receio de ser desmascarado, a ansiedade deixava suas mãos trêmulas e sua respiração ofegante. Depois de dez anos iria rever a única mulher que amou em toda sua vida.

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